Valor econômico, v. 21, n. 5159, 04/01/2021. Política, p. A8

 

Loureiro já cogita disputar governo de SC em 2022

Marcos Moura e Silva

04/01/2021

 

 

Prefeito de Florianópolis separou R$ 20 milhões no orçamento para a compra de vacinas
O prefeito reeleito de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM), inicia seu segundo mandato sem esconder que já olha para as eleições de 2022. Suas prioridades agora são as medidas de estímulo à economia da cidade e o início da vacinação. Mas a possível construção de sua candidatura a governador de Santa Catarina parece ser um pano de fundo que estará presente nas suas ações este ano.

Na cerimônia de posse, ocorrida no fim da tarde da sexta-feira, Loureiro disse que acalentou por anos a ambição de ser prefeito de Florianópolis, e que nunca sonhou em ser governador ou presidente.
Na véspera, em entrevista ao Valor, o tom foi um pouco diferente. Ao ser questionado sobre seus planos para 2022, disse que tem um compromisso com a cidade de quatro anos e que o cenário eleitoral será discutido no próximo ano. Em seguida, no entanto, acrescentou: “É óbvio que o prefeito da capital reeleito acaba sendo lembrado - principalmente com a diferença que tive relação aos concorrentes - para participar da eleição majoritária em 2022, mas a minha prioridade agora é cuidar da cidade.”

“Eu nem aceito falar isso na imprensa, mas a gente sabe que Florianópolis não tem muito aquela história de ‘o prefeito vai deixar a prefeitura’ porque ser governador pode ser melhor que um prefeito, para a cidade".
Loureiro já vinha sendo mencionado no debate político catarinense antes das eleições como potencial candidato a governador ou a senador. E quando conseguiu selar sua reeleição no primeiro turno com 53,46% dos votos - numa disputa que teve dez candidatos - seu nome ganhou mais força nas especulações para o arranjo de 2022.
O prefeito usa sua gestão frente à pandemia como um ativo. “Fomos a primeira cidade do Estado a apresentar medidas restritivas, ainda em 13 de março de 2020. Montamos uma estrutura de guerra para nos preparar e não esperamos o governo federal. Tínhamos milhares de tubos de álcool em gel, máscaras, jalecos, luvas, todo o material para poder atender por pelo menos seis meses a toda à demanda”, disse. Segundo ele, a estrutura hospitalar foi reforçada com aumento de número de leitos de UTI. Há um mês, 90% desses eleitos estavam ocupados; houve uma queda e hoje são 70%, disse ele. Com 508.973 habitantes, Florianópolis registrava no sábado 42.888 casos de covid-19 e 321 mortes.
A expectativa da prefeitura é por uma campanha nacional de vacinação, mas compras diretas também estão no radar. “Se essa logística não atender com a velocidade que Florianópolis deseja, nós já temos separados no orçamento R$ 20 milhões exclusivamente para compra de vacinas”, disse Loureiro.
O prefeito diz que enquanto o Ministério da Saúde se depara com escassez de agulhas e seringas, Florianópolis tem em estoque mais de 115 mil agulhas e 325 mil seringas. O que, segundo ele, é suficiente para iniciar a vacinação do grupo de risco.
Loureiro diz que prefere não fazer críticas às posições negacionistas adotadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Mas ao traçar um paralelo com o presidente, disse que sua posição “foi divergente de uma posição de que a pandemia não teria um risco para a sociedade.”
Com praias abertas e bares e restaurantes funcionando com restrições, o prefeito afirmou ter buscado o que chama de um equilíbrio razoável entre a segurança do ponto de vista de saúde e a manutenção da roda da economia.
Em um eventual cenário de candidatura a governador de Santa Catarina no próximo ano, o prefeito poderá ter como adversário o atual governador Carlos Moisés (PSL) - que foi eleito em 2018 na esteira da onda conservadora puxada pela campanha presidencial de Bolsonaro - e é natural candidato à reeleição em 2022.
A deputada federal e ex-prefeita Ângela Amin (PP-SC) seria outra potencial candidata, mas ela já foi derrotada duas vezes por Loureiro: nas eleições de 2016 para a prefeitura e novamente nas eleições deste ano. Desta vez, Ângela ficou apenas em quarto lugar com 7,42% dos votos.
Aos 48 anos, Gean Loureiro foi eleito pela primeira vez aos 19 anos para o cargo de vereador de Florianópolis. Exerceu cinco mandatos. Em 2016, foi eleito prefeito pela primeira vez. E neste ano tornou-se um dos quatro prefeitos de capitais que integram o DEM e que foram eleitos ou reeleitos - os outros são Rafael Greca (Curitiba), Bruno Reis (Salvador) e Eduardo Paes (Rio).

Loureiro sobreviveu politicamente a s dois episódios: em 2019 foi alvo d e um mandado de prisão temporária cumprido pela Polícia Federal durante investigações de um suposto esquema de corrupção e vazamento de informações sobre operações policiais a políticos e a empresários. Ele foi solto no mesmo dia após ser ouvido. Em junho do ano passado, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região rejeitou a denúncia contra o prefeito.

O segundo episódio foi uma acusação de estupro feita em outubro por uma ex-funcionária da prefeitura. A mulher disse que o ataque ocorreu há um ano e que não procurou a polícia antes porque precisou de tratamento médico.
Loureiro, que é casado e pai de quatro filhas, respondeu dizendo que teve uma relação consensual com a ex-funcionária. E falou em armação política. “O Ministério Público Estadual se posicionou pelo arquivamento [da denúncia] e o desembargador do Tribunal de Justiça arquivou em dezembro”, disse. A acusação repercutiu, mas acabou não prejudicando suacampanha.

Loureiro terá um novo vice no segundo mandato, o empresário Topázio Silveira Neto (Republicanos) - quarto maior doador da campanha, com uma contribuição de R$ 220 mil.
Uma das primeiras medidas da nova gestão, a ser anunciada nesta segunda-feira, é um pacote de estímulo à criação de empregos e à economia da cidade.

As medidas virão acompanhadas de um pacote de obras - muitas delas obras viárias.
Florianópolis tem as finanças em dia e esse é outro ponto que Loureiro coloca na lista de ativos de seu primeiro mandato. “Fechamos a contabilidade do ano com superávit, viramos com dinheiro em caixa, ampliamos a nossa capacidade de investimento com um orçamento de R$ 2,4 bilhões e retomamos a possibilidade de contrair financiamento.