O globo, n.31893, 01/12/2020. Economia, p. 24

 

Congresso deixará pauta econômica para 2021

Geralda Doca 

Marcello Corrêa 

01/12/2020

 

 

A menos de um mês do fim dos trabalhos no Legislativo, a pauta econômica deve continuar em marcha lenta no Congresso neste período pós-eleições. Segundo líderes ouvidos pelo GLOBO, a agenda da primeira sessão depois do segundo turno — marcada para amanhã — deve se concentrar em apenas dois projetos: a medida provisória (MP) que criou o programa Casa Verde e Amarela e o projeto de lei que aumenta a concorrência na chamada cabotagem, o transporte aquaviário entre portos.

Textos mais polêmicos, como os que tratam questões fiscais, devem ficar para o ano que vem.

As matérias representam apenas uma fração do plano de trabalho defendido pela equipe econômica para incentivar investimentos no país. Segundo apresentação da Secretaria de Política Econômica (SPE), a pasta considera como prioritárias 16 propostas. Dessa lista, apenas duas foram aprovadas nas duas Casas do Congresso até agora: a nova Lei de Falências e o novo marco legal do saneamento.

No caso deste último, a equipe econômica alerta para a importância de manter um veto feito pelo presidente Jair Bolsonaro ao artigo que permite às concessionárias renovarem por até 30 anos os contratos de programas sem licitação.

Há preocupação de que essa indefinição acabe desestimulando investimentos no setor. O tema foi discutido na reunião, ontem, entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e seu secretariado.

RECESSO PARLAMENTAR

A escolha da MP da Casa Verde e Amarela e do projeto da cabotagem é por um motivo regimental. Ambos estão trancando a pauta da Câmara. Enquanto não forem votados, nenhum outro projeto pode ser analisado. O ano de trabalho dos parlamentares termina no dia 22 de dezembro. É preciso votar o Orçamento de 2021, mas os parlamentares podem adotar o chamado recesso branco.

Segundo o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), não há consenso para avançar em outras reformas estruturantes, como as três propostas de emenda à Constituição (PEC) enviadas em novembro para autorizar o governo a fazer cortes para cumprir o teto de gastos.

A avaliação de que o plano deve ser o de seguir uma “agenda possível” é compartilhada pelo líder do DEM na Casa, Efraim Filho (PB), que lembra ainda que há urgência em votar o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ainda este ano.

— Vejo duas prioridades. A primeira é votar o projeto de lei da cabotagem, a BR do Mar, que é para desobstruir a pauta. A segunda prioridade é tentar avançar com a questão do Orçamento. Pelo menos a LDO não dá para virar o ano sem votar.

O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), diz que vai trabalhar para aprovar a PEC Emergencial, mas admite que as reformas tributária e administrativa só avançarão em 2021.

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Maia diz já ter votos para aprovar reforma tributária 

Isabella Macedo 

01/12/2020

 

 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou ontem que a reforma tributária em discussão no Congresso já tem o número de votos necessários para ser aprovada. Ele já contabiliza cerca de 320 votos a favor da proposta de emenda à Constituição (PEC) na Câmara, mesmo sem contar a base do governo. Maia defendeu que a reforma precisa ser aprovada para melhorar o ambiente de negócios no país, mas cobrou agilidade na discussão da chamada PEC Emergencial, apresentada há mais de um ano pelo governo e que está parada no Senado.

— Se a esquerda votar e o nosso campo votar, vai ter gente na base que vota de qualquer jeito. Acho que tem ali perto de 320 votos. É claro, se o governo vier, você tem margem muito maior para não errar e não perder na votação — disse Maia em entrevista ao portal UOL.

Para ser aprovada, uma PEC precisa de pelo menos 308 deputados, em duas votações, antes de ira o Senado, onde são necessários 49 votos a favor, também em dois turnos.

TRABALHO EM JANEIRO

Maia ressalta que, para manter o equilíbrio fiscal a partir do ano que vem, não bastará cortar despesas. Por isso, defende a aprovação da reforma tributária para melhorar o ambiente de negócios no país e gerar crescimento:

— O engessamento da despesa pública é muito grande, o governo federal tem quase 80% do seu orçamento primário em pessoal e Previdência. Tem pouca coisa para cortar, e o resto é muito projeto social, é difícil cortar. Então, como a gente faz para esse país crescer e se desenvolver? Precisa melhorar o ambiente de negócios.

O presidente da Câmara também criticou o governo por não ter apresentado as prioridades para a pauta econômica nos próximos meses:

— A situação do Brasil não é simples. Mas me assustou o governo hoje (ontem) pela manhã não ter reunido seus principais ministros, seus principais líderes no Congresso e ter apresentado qual é a PEC Emergencial que defende para o Senado votar, e logo depois a Câmara.

Ele também considera inevitável que a Câmara tenha de trabalhar em janeiro, período de recesso. Pela Constituição, os trabalhos no Congresso se encerram em 22 de dezembro, sendo retomados em 1º de fevereiro.