O globo, n.31893, 01/12/2020. Sociedade, p. 15

 

Desmatamento da Amazônia aumenta 9,5% em um ano

Renato Grandelle 

01/12/2020

 

 

O desmatamento da Amazônia aumentou 9,5% em um ano, atingindo uma área de 11.088 km², cerca de nove vezes maior do que o município do Rio. O índice, verificado pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), refere-se à devastação vista entre agosto de 2019 e julho de 2020.

O vice-presidente Hamilton Mourão, que comanda o Conselho da Amazônia, reconheceu que o índice não é satisfatório. Representantes da sociedade civil, por sua vez, relacionaram a taxa elevada ao desmonte da política ambiental, manifestado em ações como a perseguição a agentes que trabalham no campo, o aparelhamento do Ibama e do ICMBio por policiais militares e o incentivo àregulariza-ção de atividades ilegais, como a grilagem, a mineração e a ocupação de terras indígenas não homologadas.

—As estimativas eram mais negativas ainda do que está sendo apresentado — diz Mourão. — Seria de um aumento de 19,6% em relação ao ano passado. Nada para comemorar, muito ao contrário. O estado final desejado era não ter mais desmatamento ilegal em hipótese alguma.

Mourão admite que, diante da crise econômica, o Conselho da Amazônia ainda não determinou como serão financiadas as operações para coibir o crime ambiental na região a partir de abril do ano que vem, quando será encerrada a Operação Verde Brasil 2, que levou 3.400 militares à floresta. Da mesma forma, reconhece que é “nítida e notória” a redução de pessoal no Ibama e no ICMBio, e a necessidade do governo federal de conduzir conversas para “contratar mais gente”.

De acordo com o Observatório do Clima, o índice do Prodes oficializa que o Brasil descumpriu a meta da Política Nacional sobre Mudança do Clima. Nela, o país se comprometeu a reduzir o desmatamento a um máximo de 3.925 km² em 2020.

“Devido ao aumento do desmatamento, o Brasil deve ser o único grande emissor de gases de efeito estufa a ter aumentado suas emissões no ano em que a economia global parou por conta da pandemia”, afirmou o observatório, uma rede composta de 56 ONGs e movimentos sociais.

O cientista da computação Gilberto Câmara, que dirigiu o Inpe entre 2005 e 2012, destaca que o desmatamento aumentou 50% em dois anos, mostrando que a devastação da floresta está “fora de controle”.

— O governo federal não anunciou nenhuma medida que possa conter o aumento da devastação, mesmo tendo os dados do Deter, um sistema que detecta o desmatamento em tempo real — avalia. — Foram gastos milhões de reais nas operações das Forças Armadas e não houve resultados. A estratégia de substituir o Ibama por militares não funcionou.

Em nota, o WWF-Brasila estratégia do governo para a Amazônia, baseada em agropecuária e mineração, se baseia no “modelo de desenvolvimento da década de 1970, quando a noção de bio-economia nem sequer existia”.