O globo, n.31893, 01/12/2020. País, p. 8

 

FH: Doria não está pronto para disputar presidência

01/12/2020

 

 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não está pronto ainda para ser candidato a presidente da República em 2022. Em entrevista ao portal UOL, o líder tucano considerou que o paulista precisa se “nacionalizar” para se tornar competitivo na próxima eleição.

—O Brasil é muito diverso, não adianta você pensar que vamos pegar uma pessoa que é do meu partido e acho que pode ser candidato. O Doria vai ter que se nacionalizar. Ele tem uma vantagem, os pais são da Bahia. Ele vai ter que “baianizar”, “cariocar”, “gauchar”, enfim, se é para expressar um sentimento nacional, você não pode ser de uma parte só, tem que atender essa diversidade do país —disse o expresidente. 

Somente o pai do governador é baiano. A mãe de Doria é natural de São Paulo. O governador é hoje o principal nome do PSDB para a disputa nacional daqui a dois anos, mas não é o único. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, também é lembrado para a vaga. FHC nunca escondeu a preferência por outros nomes que não o de Doria, um recém-chegado que tomou conta do ninho tucano no estado de São Paulo.

Ontem, o ex-presidente afirmou que Doria é “um bom líder paulista”. FHC lembrou que também teve que buscar inserção nacional para se eleger presidente da República em 1994.

— Eu nasci no Rio, sou paulista, minha mãe amazonense, meu pai do Paraná, meus avós de Goiás, eu explorava isso. Não que eu quisesse ganhar politicamente. Queria, mas não é só isso. O Doria tem que usar esses instrumentos que tem para se transformar num líder nacional, por enquanto ele é um bom líder paulista — afirmou o ex-presidente.

A vitória do tucano Bruno Covas para a prefeitura da capital paulista fortaleceu os planos do governador paulista, já que o partido continua no comando da maior cidade e do maior estado do país. Na campanha, entretanto, Covas evitou associar sua imagem a de Doria por causa da alta rejeição que o governador sofre na cidade, ainda um reflexo da sua decisão de abandonar a prefeitura para concorrer ao governo do estado dois anos após ter sido eleito e depois de ter afirmado, em mais de uma dezena de entrevistas, que não deixaria o cargo. O mesmo procedimento já tinha sido adotado pelos também tucano José Serra, eleito para a prefeitura em 2004 e que abandonou o cargo em 2006 para concorrer a governador de São Paulo.