Correio braziliense, n. 21006, 28/11/2020. Brasil, p. 5

 

Negligência na proteção aumentou as infecções

Maria Eduarda Cardim 

28/11/2020

 

 

Um dia depois de o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, admitir o aumento dos casos do novo coronavírus, e caracterizá-lo como "repique", o Ministério da Saúde atribuiu o aumento visto na curva de infecções verificada nas duas últimas semanas epidemiológicas ao "afrouxamento" e à "negligência" das medidas de proteção, como uso das máscaras e manutenção da distância segura, de um a dois metros, entre as pessoas. Apesar de observar o descaso em relação às condutas, a pasta reforçou que não recomenda o isolamento social, mas a distância segura entre os indivíduos.
As afirmações foram feitas pelos secretários da pasta. "Quando o ministro falou de repique, é que nós identificamos, e a própria mídia mostrou isso, um afrouxamento, uma negligência das medidas de proteção, como a manutenção de uma distância de segurança, evitar aglomerações, uso da máscara, higienização de mãos, todos aqueles cuidados que nós vínhamos tomando", explicou o secretário-executivo da pasta, Élcio Franco.

Segundo ele, "com o advento das eleições municipais, comícios e outros eventos", foi observada uma negligência nas condutas. Questionado se existem novas medidas e orientações para diminuir a circulação de pessoas, sobretudo neste momento em que as pessoas começam a sair para ir às compras para as festas de final de ano, algo que deve provocar aumento na transmissão da doença, o ministério enfatizou que a população deve tomar um cuidado especial com quem pertence aos grupos de risco, como idosos e aqueles que têm comorbidades.

"Mas, com relação à população em geral, nós temos que adotar as medidas de segurança: uma distância de segurança, evitar aglomerações, o uso de máscaras. Todos esses cuidados são as recomendações que fazemos para evitar uma disseminação da doença e, tomando esses cuidados, vamos conseguir conter esse acréscimo na variação epidemiológica", indicou Franco.

Sem máscara
Um dos principais adversários das medidas propostas pelo ministério é o presidente Jair Bolsonaro. Na live da última quinta-feira, disse que a máscara de proteção é "o último tabu a ser derrubado". E, ontem, em cerimônia na Escola de Especialistas de Aeronáutica, em Guaratinguetá (SP), todo o tempo esteve sem a proteção facial e, ao final, ainda se juntou aos parentes dos formandos. Assim como ele, estavam sem máscara o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e os deputados Hélio Lopes (PSL-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)

O secretário-executivo reforçou que o ministério não recomenda o isolamento social. "Não há eficácia em relação a qualquer medida de isolamento. Ela se presta para que possamos adequar a rede de atenção à saúde, e isso já foi feito em todo o país. Nós ampliamos em muito nossa capacidade, ampliamos horário de atendimento da atenção primária, continuamos habilitando leitos", completou.

Apesar disso, alguns estados no Brasil já vivem situações críticas diante da falta de leitos para pacientes da covid-19. Um deles é o Rio de Janeiro: a taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para o novo coronavírus na rede do SUS –– que inclui leitos de unidades municipais, estaduais e federais –– na capital do estado é de 92%. Já a taxa de ocupação dos leitos de enfermaria é de 69%. A cidade é uma das mais afetadas no Brasil.

Ontem, o país confirmou mais 34.130 novas infecções pelo novo coronavírus e 514 mortes. Com isso, o país já soma 6.238.350 casos positivos e 171.974 óbitos. A média móvel de casos e mortes oscilou durante essa semana, mas, com os novos números, o índice caiu. De acordo com análise do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), por dia, estão morrendo 480 pessoas e há acréscimo diário de 31.169 casos. Mas, apesar de a média ter diminuído, ontem, o Brasil vê o número de casos aumentar desde a 46ª semana epidemiológica.

Hoje, o país fecha a 48ª e, caso registre a média de infecções e óbitos — de 31.169 casos e 480 mortes —, amanhã ultrapassará os números última da 47ª semana epidemiológica. Para superá-la, faltam, apenas, 18.264 diagnósticos positivos e 347 mortes.

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Pazuello sente efeitos 

28/11/2020

 

 

Diagnosticado com covid-19 em 20 de outubro, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, livrou-se do vírus no último dia 4, mas, um mês após começar o tratamento, ainda sente os efeitos da doença. Mesmo assim, retomou a rotina de trabalho e, ontem, participou de mais de sete reuniões.

Ele reclama de cansaço, dores no corpo e inchaço. Nas conversas com amigos, se queixa de dificuldades para realizar atividades cotidianas, como subir escadas.

Ao participar da primeira cerimônia após voltar ao trabalho, no último dia 11, Pazuello admitiu a gravidade da doença. Mas, no dia anterior, o presidente Jair Bolsonaro havia minimizado a pandemia e afirmara que o Brasil precisava deixar de ser "um país de maricas" e enfrentar a doença.

Dois dias após o diagnóstico, o próprio Pazuello chegou a falar que estava "zero bala", depois de tomar o "kit completo" contra a covid-19, que inclui a hidroxicloroquina. A declaração foi dada em transmissão ao vivo nas redes sociais, ao lado de Bolsonaro –– afirmou que Pazuello era "mais um caso concreto" de que o uso destes medicamentos "deu certo".

Já o ex-ministro da Cidadania foi internado no último domingo no Hospital São Lucas, da PUC do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Ele sempre minimizou a gravidade da pandemia e, nas redes sociais, disse que faria "exames de avaliação e fisioterapia complementar no tratamento da covid". Nove dias antes, Terra anunciou a infecção, afirmando que tomou hidroxicloroquina e ivermectina.