O Estado de São Paulo, n.46335, 27/08/2020. Política, p.A4

 

Marta e FHC pregam frente anti-Bolsonaro em São Paulo

Pedro Venceslau

Paula Reverbel

27/08/2020

 

 

Eleições. Ex-prefeita e ex-presidente defendem uma articulação pluripartidária para barrar candidatura ligada ao Planalto; líder nas pesquisas, Russomanno pode desistir da disputa

A cinco dias do início das convenções partidárias, reuniões em que as legendas oficializam quem serão seus candidatos ou de que alianças vão fazer parte, a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (SD) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) defenderam ontem uma frente anti-bolsonaro nas eleições de novembro. Marta negocia ser vice do candidato tucano, o prefeito Bruno Covas, que também é procurado pelo Republicanos, do pré-candidato Celso Russomanno. As definições podem alterar o cenário eleitoral paulistano.

O Republicanos pretendia oficializar Russomanno, que lidera as pesquisas de intenção de voto, como seu candidato no próximo dia 10. Ontem, a sigla anunciou o adiamento da convenção para o último dia permitido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 16 de setembro. Isso dá tempo para o andamento das negociações para que Russomanno defina qual vai ser seu papel na disputa: se vai encabeçar uma chapa, desistir de concorrer ou mesmo ser vice de Covas ou do ex-governador Márcio França (PSB), com quem também mantém conversas. Ambos não descartam recebêlo como candidato a vice.

Enquanto Covas e o PSDB tentam se afastar do bolsonarismo, França chegou a ser criticado por aliados do PDT depois que acompanhou o presidente Jair Bolsonaro em uma visita a São Vicente, sua base eleitoral, no último dia 7. Embora não diga publicamente que pretende brigar pelos eleitores que acompanham o presidente, o ex-governador elogiou ontem o governo federal, durante coletiva de imprensa para anunciar o apoio do Avante à sua pré-candidatura.

'Live'. Durante uma transmissão ao vivo realizada ontem pelo Facebook, Marta e FHC, que já estiveram em campos opostos em eleições passadas, defenderam a criação de uma frente ampla com vários partidos para barrar eventuais candidatos que tenham ligação com o presidente Jair Bolsonaro. Marta defendeu que essa articulação pluripartidária comece já na eleição municipal em São Paulo e tenha como meta definir um nome de oposição para o Palácio do Planalto em 2022.

"Devemos começar em São Paulo um movimento de frente ampla com forças políticas que são contra o desmonte autoritário e aponte para 2022. Temos que começar agora essa conversa. Não será na véspera de 2022 que vamos ter um programa de governo que nos una", disse a ex-prefeita. Fernando Henrique respondeu que ainda é cedo para "fulanizar" na Presidência, mas concordou que é preciso união. "Sou favorável a somar forças", afirmou o tucano.

A possibilidade de Marta integrar a campanha do prefeito Bruno Covas daria um perfil de centro-esquerda à candidatura tucana. A união, no entanto, não é consenso no PSDB.

Marta citou também uma reportagem do jornal O Globo sobre Bolsonaro sinalizar que pode fazer campanha no segundo turno para Márcio França. "Acho um erro dele (França)", disse FHC. Depois de ter mais votos que o governador João Doria (PSDB) na capital paulista na disputa pelo governo em 2018, França tem usado as redes sociais para tentar colar o governador tucano em Bruno Covas. A estratégia visa atrair o voto útil dos eleitores bolsonaristas anti-doria. Apesar de ser do PSB, o ex-governador tem feito gestos de aproximação com o bolsonarismo. "O pessoal reclama do governo federal, mas os R$ 600 saíram de lá. A substituição trabalhista saiu do governo federal. Cadê a parte do (governo do) Estado? Não dá para complementar uns R$ 200, R$ 100?", questionou França, ontem, ao anunciar o apoio do Avante à sua candidatura. Ao longo do discurso, o ex-governador teceu diversas críticas a Doria e poupou a gestão federal. Questionado sobre a possibilidade de alinhamento com Bolsonaro, o ex-governador afirmou que seus opositores tentam criar circunstâncias constrangedoras. "O Bolsonaro não vota para prefeito de São Paulo e já disse que não se envolverá na campanha", disse França ao Estadão. "Agora, é natural que as pessoas que gostam do Bolsonaro escolham os seus candidatos. Por exemplo, os policiais militares e civis em São Paulo. É difícil você fazer eles votarem no 45 (número de urna do PSDB), porque eles associam isso ao Doria, que passou a ser adversário", acrescentou.

Além do Avante, França tem o apoio do PDT. Mas a proximidade com o bolsonarismo tem causado reclamações dentro da aliança. Após a participação de França em um evento presidencial no início do mês, o presidente do PDT, Carlos Lupi, escreveu, nas redes sociais: "O PDT não irá tolerar pré-candidato vinculado ao bolsonarismo. Se houver algum caso, terá sua précandidatura suspensa. Estaremos atentos se houver qualquer denúncia", escreveu o dirigente.

Pesquisa. Sobre a possibilidade de ter Russomanno como vice, França disse ter boa relação com ele. Na última pesquisa Ibope para a Prefeitura de São Paulo, encomendada pela Associação Comercial de São Paulo, em parceria com o Estadão, divulgada em 22 de março, antes do agravamento da pandemia do novo coronavírus, Russomanno tinha 24% das intenções de voto. Covas aparecia em segundo, com 18%, seguido por Guilherme Boulos (PSOL), com 9%, e França, com 6%. Covas conta tem a maior aliança, com o apoio de PP, DEM, PL, PSC, Podemos e PROS, por enquanto.

Apesar de estar na liderança, Russomanno ainda não montou estrutura de pré-campanha e está recolhido, ao contrário de seus adversários.

DATAS

31 de agosto

Convenção do PSD municipal de São Paulo que vai oficializar a candidatura de Andrea Matarazzo.

3 de setembro

Convenção do Patriota municipal de São Paulo que vai oficializar a candidatura de Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei.

5 de setembro

Convenção do diretório paulistano do PCDOB, que vai oficializar a candidatura do deputado federal Orlando Silva.

5 de setembro

Convenção do partido Novo paulistano, que vai oficializar a candidatura de Filipe Sabará.

12 de setembro

Convenção do PSDB municipal de São Paulo que vai oficializar a candidatura à reeleição do prefeito Bruno Covas.

16 de setembro

Republicanos municipal de São Paulo realiza convenção que pode confirmar a candidatura do deputado federal Celso Russomanno à Prefeitura de São Paulo.