Correio braziliense, n. 21003, 25/11/2020. Cidades, p. 17

 

Descaso com isolamento acende alerta vermelho

Alan Rios 

25/11/2020

 

 

Os gráficos de evolução da pandemia no Distrito Federal mostram um crescimento da taxa de reprodução do novo coronavírus nas últimas três semanas. Segundo a Secretaria de Saúde, em 2 de novembro, 100 pacientes transmitiam o vírus para 78 pessoas; na segunda-feira, o número passou para 99. Embora visualizar a curva ascendente seja uma maneira eficaz de alerta à população, especialistas preocupam-se com o relaxamento de medidas de contenção. Dos 225.013 casos confirmados da covid-19 na capital, quase 60 mil tem até 29 anos de idade — uma parcela da comunidade que tende a ter maior movimentação social, que é menos suscetível aos sintomas mais alarmantes da doença e que pode fazer o vírus circular sem saber. Outro alerta é o fim de ano. Com a chegada de dezembro, começam a ser preparadas festas e confraternizações. Para evitar novas restrições, as recomendações básicas, do começo da pandemia, continuam sendo as mais eficazes para frear a pandemia.

Samara Portela, 38 anos, os três filhos — de um a 19 anos — e o marido, Geraldo Majella, 54, contraíram o vírus. As diferentes idades e manifestações da doença deixaram claro para a família que não há um padrão claro de quem terá infecções e complicações. "Até o bebê de um ano pegou. O resultado saiu em 1º de outubro, e ficamos fazendo o tratamento em casa. Eu senti dores no corpo e indisposição, os dois pequenos tiveram febre e diarreia, e a Iris, de 19 anos, e o meu marido ficaram mais graves, com falta de ar", detalha a funcionária pública. O homem passou pela situação mais crítica. A família lembra que Geraldo queria fazer um vídeo contando do caso para conscientizar sobre o perigo da doença após se recuperar. Mas, no décimo dia depois do diagnóstico, ele apresentou febre, dificuldades para ficar em pé e foi internado. "Mesmo sem nenhuma comorbidade, a tomografia mostrou que 30% do pulmão dele estava comprometido e a saturação estava baixa. Ele chegou a ser intubado três vezes dali em diante, e faleceu no último dia 21", lamenta Samara.

A enteada de Geraldo, Iris Portela, levou a diante a vontade do padrasto de levar conscientização. "Todos nós estamos propícios a pegar a covid-19, então, o que devemos fazer é nos prevenir. Evitar aglomerações, evitar tocar nas pessoas, levar o álcool em gel quando precisar sair de casa. São cuidados mínimos, mas que fazem total diferença. Tem gente levando na brincadeira, mas isso é sério, me deixou com complicações e tirou a vida do meu padrasto há poucos dias", conta a estudante. Ela se recupera da infecção em casa, tomando os cuidados necessários, mas não se sente fisicamente disposta para atividades do dia a dia. "Todo mundo dizia que só era perigoso para quem era mais velho e tinha complicações, mas o vírus não escolhe e, mesmo quem é novo, pode pegar ou transmitir", alerta.

Recomendações
"No campo epidemiológico, o cuidado com aglomerações, a higienização das mãos e o uso correto de máscaras continuam como as únicas formas que temos de diminuir a velocidade de propagação do vírus", afirma o médico clínico geral e coordenador do Pronto-Socorro do Hospital Santa Lúcia, Luciano Lourenço. Com a possibilidade de superlotação das unidades de saúde, a recomendação era de que as pessoas fossem aos hospitais somente em caso graves da covid-19. "Hoje, isso mudou. Mesmo com os mínimos sintomas, o paciente é orientado a procurar atendimento médico, que vai determinar os tratamentos que devem utilizar de forma mais precoce e recomendar medidas necessárias de comportamento", explica o médico.

Para Luciano, medidas restritivas adotadas em março, como fechamento do comércio e proibição de diversas atividades, não devem ser bem recebidas pela população. Dessa forma, ele avalia que é preciso reforçar os cuidados básicos. "Atendo cerca de 800 pacientes a cada 30 dias e percebo que muitas pessoas estão adoecendo por conta das restrições que a covid-19 impõe. Ou seja, percebemos doenças secundárias ao vírus, relativas ao estilo de vida que esse período impôs. Do ponto de vista infeccioso, o ideal seria ninguém ter contato com ninguém. Mas, a gente sabe a importância do contato da família, por exemplo, em um fim de um ano difícil. Então, precisamos encontrar um meio termo, reduzindo ao máximo o número de pessoas em encontros, com pouco contato físico e uso de máscara, entre outras ações", pondera.

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Cerca de 40% ficam em casa

25/11/2020

 

 

Uma nota técnica divulgada no começo desta semana por pesquisadores de diferentes universidades federais deixa claro a importância de evitar sair de casa sem necessidade. "O isolamento social vem caindo sistematicamente em todo o país desde que as primeiras medidas de distanciamento foram implementadas, em março, o que explica as, ainda, muito altas taxas de transmissão do vírus", informa o texto. Segundo levantamento da empresa de softwares InLoco, o índice do distanciamento na capital está em 40%, valor semelhante ao de 1º de março, quando o DF tinha suspeitas de casos da covid-19 e nenhuma confirmação.

O maior índice de isolamento social medido pela InLoco aconteceu em 22 de março, quando o DF chegou à 65,6% da população em casa. Em comparação com as demais unidades da Federação, o DF é a sétima que mais consegue manter o distanciamento, atrás de Acre, Amazonas, Rondônia, Ceará, Amapá e Rio de Janeiro. A última vez em que o DF teve mais da metade das pessoas em distanciamento foi em 24 de maio, quando o índice bateu 51,4%. Desde então, a taxa tem oscilando nos 40%.

A Secretaria de Saúde elaborou um Plano Estratégico de combate à pandemia no DF, com ações previstas para 2021, se baseando em projeções e análises diárias realizadas pela pasta. Outra medida citada pelo Governo do Distrito Federal (GDF) como forma de prevenção é a realização de um inquérito epidemiológico, com aplicação de dez mil testes rápidos até 20 de dezembro.

A Secretaria DF Legal informou que continua desenvolvendo atividades de fiscalização rotineiramente. "As medidas sanitárias continuam em vigor, com obrigatoriedade de uso de máscara para todos clientes e funcionários, a disponibilidade de álcool em gel e ocupação máxima de 50% da capacidade dos salões. A multa para o estabelecimento que descumpre as medidas sanitárias é de R$ 3.628,00. O não uso de máscaras pode gerar multa de R$ 4 mil, também para o estabelecimento".

Entre 23 de março e 22 de outubro, a pasta fez 538.667 vistorias em comércios e 4.778 vistorias a feiras. Retirou das ruas 12.660, fechou compulsoriamente 24.273 estabelecimentos e interditou outros 1.652. A pasta entregou 238.026 máscaras à população, 165 pessoas foram multadas por não usar o equipamento de proteção neste período.