Correio braziliense, n. 21002, 24/11/2020. Brasil, p. 5

 

Depois do apagão, a chuva

Natália Bosco 

24/11/2020

 

 

Há 21 dias o Amapá está sem um fornecimento regular de energia –– e a situação só piora. Na noite do último domingo, o estado recebeu o maior volume de chuvas do ano e muitas casas foram inundadas. O prejuízo ainda está sendo calculado e a previsão do Núcleo de Hidrometeorologia (NHMet) é de mais tempestades ainda em novembro. O excesso de água provocou várias explosões de postes de iluminação pública do bairro Brasil Novo, na capital, Macapá, conforme vídeos dos moradores publicados em redes sociais.

De acordo com a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), o problema fo provocado pela forte tempestade, e nada tem a ver com os apagões anteriores dos dias 3 e 17 de novembro. A distribuidora informou que as faíscas foram geradas pelo atrito entre dois cabos de alta tensão, no trecho da rua Laranjeiras. O curto-circuito afetou as residências localizadas no perímetro, que ficaram sem energia por volta das 22h. Segundo a CEA, as equipes foram acionadas e a situação foi normalizada às 2h25 de ontem.

A tempestade que chegou a Macapá invadiu casas, causou novos prejuízos a população e impediu a instalação dos geradores que serviriam para regularizar o fornecimento. A quantidade de água que caiu durante a noite representa quase metade do total de chuvas que caíram no durante este mês. De acordo com o Núcleo de Hidrometeorologia e Energias Renováveis do estado, só em Macapá o volume chegou a 74 milímetros (mm) em menos de uma hora, superando em muito a expectativa de 45 mm.

A empresária Hannah Tork, 30 anos e moradora de Macapá, disse as chuvas acentuaram os problemas do estado. "A cidade mal-estruturada, os recorrentes problemas de drenagem misturados ao apagão e o racionamento (de energia elétrica), que entrou na terceira semana, com a chuva houve estouro de postes. E também houve dois casos de incêndios com perda total de moradias. O Amapá, este ano, está padecendo sem ninguém para socorrer", criticou.

O professor de educação física Anderson Moraes, 40 anos, tem família em Macapá e se diz preocupado com a situação. "Fui a Macapá e eu sei que é uma cidade pequena. Mas seria necessária a mobilização da Força Nacional. Essas pessoas podem, inclusive, entrar em confronto entre elas sem alimentação e falta de água", salientou.

O Ministério de Minas e Energia (MME) informou, na noite de domingo, que o "fornecimento de energia elétrica ocorreu dentro da normalidade", com atendimento de 89% da carga média. Durante a noite, porém, houve racionamento do fornecimento em algumas regiões. A pasta disse que os outros geradores, que deveriam ser ativados ao longo do dia, não foram instalados devido às "dificuldades relacionadas à logística e ao clima".

No último sábado, o presidente Jair Bolsonaro visitou o estado pela primeira vez desde o primeiro apagão, que aconteceu no dia 3 e deixou cerca de 90% da população sem energia elétrica por quatro dias. Na visita, participou de cerimônias para ativação de parte dos geradores termoelétricos contratados emergencialmente, mas o problema persiste. Assim, o prazo para normalização foi estendido até a próxima quinta-feira.