O globo, n.31892, 30/11/2020. País, p. 6

 

Vitória e aceno ao diálogo

30/11/2020

 

 

Dois anos depois de serem derrotados nacionalmente em meio à polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o PT, DEM e PSDB voltaram a conquistar as duas mais importantes capitais brasileiras. Isso não ocorria simultaneamente desde 2005, quando José Serra e Cesar Maia governaram Rio e São Paulo. No discurso da vitória ontem à noite, os prefeitos eleitos, Eduardo Paes (DEM) e Bruno Covas (PSDB), mostraram alinhamento em falas que soaram como recado nacionalizado: ao enalteceram a restauração da política tradicional, celebraram a derrota do radicalismo —postura vinculada a Bolsonaro desde a campanha de 2018, quando elegeu-se com um discurso pela antipolítica.

Na primeira manifestação após a proclamação do resultado, os prefeitos eleitos apareceram ladeados por dois dos mais relevantes antagonistas do presidente atualmente. Enquanto Paes posou como presidente da Câmara, Rodrigo Maia( D EM ), C ovasse fez acompanhar do governador João Doria (PSDB).

—Queria celebrara qui uma vitória da política. Nós passamos os últimos anos radicalizando apolítica brasileira. O resultado desse radicalismo certamente não fez bema nenhum de nós, cariocas; não fez bema nenhum de nós, brasileiros—declarou Paes, que derrotou o atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Re apoiado por Bolsonaro.

—São Paulo disse sim à democracia, à ciência, à moderação e ao equilíbrio—completou o prefeito eleito paulistano, finalizando seu discurso mirando em Bolsonaro, mesmo após superar um adversário da esquerda, o psolista Guilherme Boulos. A vitória de Covas foi decisiva para consolidar o PSDB como o partido que governa mais eleitores nos municípios, apesar da perda no número de prefeituras.

Anoite de ontem mostra ainda que a saúde e o combate à pandemia do coronavírus pautarão as administrações. Em entrevista ao GLOBO, Paes prometeu a aquisição de testes para a população. Ao lado de Covas, Doria centrou parte do discurso na vacina que pretende aplicar no primeiro trimestre em São Paulo, a depender da aprovação do imunizante pela Anvisa, agência reguladoras oba alçada de Bolsonaro.

O presidente, que já havia amargado derrotas de aliados no primeiro turno, fechou o domingo podendo contabilizar apenas um prefeito eleito em capital que tenha recebido seu apoio explícito: Tião Bocalom (PP), em Rio Branco, no Acre. O PT, seu rival na eleição de 2018, também teve desempenho ruim. Pela primeira vez em sua história, o partido não conseguiu eleger sequer um prefeito em capital. Outras siglas da esquerda tiveram melhor performance: o PDT fez dois prefeitos (incluindo Fortaleza, reduto de Ciro Gomes), o PSB fez dois; e o PSOL conquistou Belém, além do expressivo desempenho de Boulos em São Paulo.

Por fim, a representatividade—umadas marcas desse ano coma eleição de muitos vereadores coma bandeirada igualdade racial e entre gêneros — ainda precisa caminhar nas capitais, onde apenas uma mulher foi eleita e somente sete novos prefeitos são autodeclarados negros (todos pardos, nenhum preto).