O globo, n.31890, 28/11/2020. Economia, p. 28

 

País tem desemprego recorde de 14,6% em setembro

Raphaela Ribas 

28/11/2020

 

 

A taxa de desemprego no Brasil bateu novo recorde e subiu para 14,6% no trimestre encerrado em setembro, de acordo com os dados contínuos da Pnad do IBGE, divulgados ontem. É o maior índice registrado na série histórica do Instituto, iniciada em 2012. São 14,1 milhões em busca de trabalho. Em apenas três meses, mais 1,3 milhão de brasileiros entraram na fila de empregos, em comparação com o segundo trimestre do ano. Entre os negros, a taxa chegou a 19,1% e entre os pardos, 16,5%, ambas acima da média nacional. O menor percentual era de brancos, 11,8%. Em agosto, a taxa de desemprego já havia atingido o recorde de 14,4%. Segundo Adriana Beringuy, analista do IBGE, o aumento do índice reflete a flexibilização das medidas de isolamento social para controle da pandemia Covid-19: —em abril e maio, medidas de distanciamento social ainda influenciam a decisão das pessoas de não procurar trabalho. Com o relaxamento dessas medidas, percebemos um contingente maior em busca de ocupação. Outro fator que aumenta a taxa de desemprego, segundo a economista da XP Investments Lisandra Barreto, foi a redução do auxílio emergencial em setembro, de R 6 600 para RR 300:

- No início da pandemia, com isolamento social e assistência integral, as pessoas conseguiam ficar sem procurar trabalho. Quando ambos declinaram, eles sentiram necessidade de outra renda.

 MENOR NÍVEL DE OCUPAÇÃO

Foi o que aconteceu com a diarista e cuidadora da idosa Juliana Rodrigues, 30 anos, moradora da Tijuca, zona norte do Rio. Ela perdeu o emprego assim que a pandemia começou e passou a contar como auxiliar, auxiliar de paternidade ou outro serviço de limpeza para sustentar sozinha suas duas filhas. Porém, a redução do benefício para R $ 300 dificultou o pagamento de todas as contas, e ela voltou a procurar trabalho: - Coloquei currículo em asilos, mas muita gente não está contratando por causa da pandemia. Paguei o aluguel de R alug 450, sobraram R $ 150 para comprar alguma coisa. Mas no mês passado não pude pagar o aluguel.

Dados do IBGE revelam um mercado de trabalho ainda frágil para absorver tanta mão de obra. Em um ano, foram fechadas 11,6 milhões de vagas no país, o que trouxe a população ocupada em setembro ao menor nível desde o início da série histórica: 82,5 milhões de pessoas, ou 47% da população em idade ativa. - Até dezembro, a taxa de desemprego deve atingir 15,2%. O mercado continuará frágil, porém, o pior efeito será sentido no próximo ano, com o fim dos socorros emergenciais e acordos para redução e suspensão da jornada de trabalho - prevê Lisandra, do XP. O economista-chefe da corretora ativa, Étore Sanchez, também projeta em cerca de 15% a taxa de desemprego neste ano e em 16% no primeiro semestre do ano que vem. O número de desanimados também foi recorde e chegou a 5,9 milhões. A explicação para o fato de tanto a taxa de desemprego quanto o número de brasileiros que desistiram de procurar trabalho terem batido recordes é que o número de pessoas sem trabalho é muito alto no país. Assim, mesmo que muitos desistam da busca, engrossando o contingente de desanimados, o número dos que retomam a busca é ainda maior, pressionando a taxa de desemprego.

RIO ACIMA DA MÉDIA

A taxa de desemprego aumentou no terceiro trimestre em dez estados e permaneceu estável nos demais. As piores taxas foram na Bahia (20,7%), Sergipe (20,3%) e Alagoas (20,0%). No Rio, também ficou acima da média nacional, 19,1%. A menor taxa foi registrada em Santa Catarina (6,6%). (Colaborou Carolina Nalin, estagiária, sob orientação de Danielle Nogueira)