O globo, n.31890, 28/11/2020. Sociedade, p. 19

 

No Rio, curva de infectados pela Covid 'rejuvenesce'

Felipe Grinberg

28/11/2020

 

 

Personagens-chave na cadeia de transmissão da Covid-19, os jovens voltaram às ruas e os casos da doença entre eles não param de crescer. Uma análise do globo confirma a percepção de especialistas que alertaram sobre os efeitos do afrouxamento da quarentena que levou milhares de pessoas a bares e festas cariocas. O levantamento do jornal, baseado nos primeiros dias de sintomas de mais de 32 mil pessoas que contraíram o coronavírus até anteontem, revela o claro "rejuvenescimento" da curva dos infectados. Entre a 16ª e a 19ª semanas epidemiológicas (a partir de 12 de abri la 9 de maio), considerado o período de pico da pandemia no município, apenas 9,4% dos pacientes com VOC id estavam na faixa etária de 20 a 29 anos. A maioria dos pacientes (43%) tinha entre 30 e 49 anos. No entanto, o cenário mudou. Os jovens adultos hoje representam quase 15% do número total de pessoas que experimentaram os sintomas de Covid-19, recentemente, entre 25 de outubro e 21 de novembro - da 44ª à 47ª semana. Esse grande contingente se junta a outras faixas etárias já bastante prevalentes no quadro geral dos pacientes, a principal delas pessoas entre 30 e 49 anos. Isso faz com que a curva "rejuvenesça". Ao mesmo tempo, os infectados mais velhos passaram a ter uma participação menor no número total de pacientes em comparação com o início da pandemia. Os infectados entre 70 e 89 anos, que chegavam a representar quase 14% do total no pico da curva do caso, agora são cerca de 10%. Entender a distribuição dos casos por faixa etária é importante para nortear as ações públicas, como definir o que deve ser flexível, até que a cidade volte ao seu cotidiano, ou ainda a dinâmica da assistência à saúde, que pode variar de acordo com o público-alvo. Como se sabe, os idosos tendem a ter quadros muito mais graves da doença, embora os mais jovens não estejam isentos de complicações. O nosso perfil dos infectados, produzido a partir de dados oficiais da Secretaria Municipal de Saúde, pode mudar nos próximos dias com a atualização das estatísticas, mas vale destacar o quadro da pandemia na nova onda. Para o infectologista da UERJ Guilherme Werneck, há mais de uma explicação para o "rejuvenescimento". As aglomerações, mais desejadas pelos jovens e evitadas pelos mais velhos, e o fato de os exames, no início da pandemia, serem direcionados a casos graves, em geral, apresentados por idosos. - Entre aqueles que são mais velhos e têm suas comorbidades, uma parte já adoeceu e a outra evita (sair) porque conhece os riscos - respondedores. —O que acontece é que, por ser uma doença de transmissão respiratória, precisa do contato entre as pessoas. O jovem tem preferência pelo contato com outros jovens. Mas quando ele vai para casa, ele pode entrar em contato com outros perfis.

VONTADE DE SAIR E MEDO

Apesar do aumento de casos e mortes, a cidade e o estado ainda não cogitaram voltar ao isolamento ou recuar na flexibilização de algumas medidas sanitárias. Na quinta à noite, mais uma vez, os bares e restaurantes ficaram lotados, com gente do lado de fora, muitas vezes sem máscara e sem manter a distância mínima de 1,5 metro. No Leblon, uma equipe da Guarda Municipal monitorou a Praça Cazuza, enquanto outra passou pelo Olegário Maciel, na Barra da Tijuca, dois pontos da Boêmia. No Boteco Belmonte, na DiasApesar do aumento de casos e mortes, a cidade e o estado ainda não cogitaram voltar ao isolamento ou recuar na flexibilização de algumas medidas sanitárias. Na quinta à noite, mais uma vez, os bares e restaurantes ficaram lotados, com gente do lado de fora, muitas vezes sem máscara e sem manter a distância mínima de 1,5 metro. No Leblon, uma equipe da Guarda Municipal monitorou a Praça Cazuza, enquanto outra passou pelo Olegário Maciel, na Barra da Tijuca, dois pontos da Boêmia. No Boteco Belmonte, na Rua Dias Ferreira, o casal Pedro Rabelo, 21, e Nathalia Azevedo, 22, admitiu não se preocupar com o distanciamento social. E mais: nas palavras deles, eles queriam "muvuca". De Poços de Caldas, em Minas Gerais, vieram conhecer o rio e estão ficando em Copacabana.

—Neste momento, já estamos esquecendo que existe Covid —disse Nathalia, acrescentando que em Cristo, onde estavam, havia muito mais gente do que no bar e que, nas minas, evita aglomerações para não ser multado pelo supervisão. - Pronto, eles estão bem. Você não tem esse tipo de pessoa em pé ou uma mesa cheia. Depois de passar seis meses em casa reclusa, a estudante de engenharia Marina Fadel, 23, começou a sair de casa em setembro para pequenas reuniões e ir para a casa dos conhecidos. Ela acreditava ter anticorpos para o coronavírus desde março, quando teve alguns sintomas, fez um teste sorológico que deu positivo. No feriado dos Finados, ela foi com um grupo de amigos para Búzios e, lá, conta ter ido pelaprimeiravezaumbar.Na volta ao Rio, Marina ficou com gripe e, ao fazer o teste de PCR, deparei com um novo resultado positivo. O aluno - que pode ser um caso de reinfecção - admite ter relaxado com os cuidados: - Não fui à festa sou barzinho, só companheiros de grupo comum de amigos e em ambiente arejado. Assim como no Leblon, no Botafogo, o movimento também é intenso antes do final de semana. Moradores de Caxias, na Baixada Fluminense, Thiago Nogueira, 37, e Thamires França, 27, pararam em Botafogo para um drink. Os dois voltaram aos bares há cerca de um mês. Ela, que está na faixa etária que cresce entre os pacientes; ele está no grupo com maior participação no quadro geral de infectados desde o início da pandemia. - Passei meses isolado, cumprindo as diretrizes de bloqueio, mas tive que sair para trabalhar em outubro e acabei flexionando. Temos procurado lugares vazios e ao ar livre - disse Thiago. - A coisa mais assustadora foi sair pela primeira vez. Agora me sinto mais segura, estou me cuidando. As amigas Mariana Veronez, 32, da Barra, e Andreza Valinote, 31, do Méier, se conheceram anteontem no Espetto Carioca, na Barra da Tijuca. Ambos presumiram que estavam com muito medo. - Volte, confiante, em outubro. Mas agora a segunda onda começou. Conheço nove pessoas infectadas. As regras não são respeitadas. A garçonete veio aqui com a máscara baixada, tem gente em pé e as mesas não estão com a distância correta - observou Andrreza. Em nota, a Guarda Municipal informou que mantém fiscalização e informou que já aplicou 10.019 infrações sanitárias, das quais 8.256 (82,40%) por falta de uso de máscara. Ainda de acordo com a guarda, nesta quinta-feira, ninguém foi multado porque era uma patrulha de rotina. Colaborou Luana Dandara.