O globo, n.31889, 27/11/2020. Economia, p. 29

 

Embate entre Eduardo Bolsonaro e China preocupa agronegócio

Eliane Oliveira 

Daniel Gullino

Isabella Macedo 

Henrique Gomes Machado 

27/11/2020

 

 

A atitude hostil do presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, Eduardo Bolsonaro (PSL- SP), em relação à China voltou a preocupar o agronegócio brasileiro, que tem no país asiático o principal destino para seus produtos.

Representantes do setor se apressaram em dizer a autoridades chinesas, ontem, que as últimas declarações do parlamentar são isoladas e não refletem a posição da sociedade brasileira.

O vice-presidente Hamilton Mourão disse que a fala de Eduardo Bolsonaro não interfere na atuação do governo junto ao país asiático:

—É exatamente isso o que você falou, declaração. Nada mais do que isso — disse.

Filho do presidente Jair Bolsonaro, Eduardo publicou no início da semana, em uma rede social, declarações —parte delas apagadas depois — em que insinuava que o governo da China praticaria espionagem, caso a empresa chinesa Huawei fosse fornecedora de infraestrutura para quinta geração (5G) da telefonia celular no Brasil. O deputado comemorou a adesão do Brasil ao programa Rede Limpa, do governo dos EUA.

ESCALADA DIPLOMÁTICA

O embaixador da China em Brasília, Yang Wanming, reagiu à provocação do parlamentar dizendo que as afirmações do deputado eram “infames e infundadas”. Ele alertou que esse tipo de comportamento perturba as relações bilaterais e que Eduardo arcaria com as consequências.

O Ministério das Relações Exteriores brasileiro, por sua vez, decidiu repreender os diplomatas chineses pela resposta dada às declarações do filho do presidente.

“O tratamento de temas de interesse comum por parte de agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil através das redes sociais não é construtivo, cria fricções completamente desnecessárias e apenas serve aos interesses daqueles que porventura não desejam promover as boas relações entre o Brasil e China”, diz o Itamaraty em nota.

O “tom e conteúdo ofensivo e desrespeitoso” da declaração dos chineses, postada no Twitter, “prejudica a imagem da China junto à opinião pública brasileira.”

Internada num hospital desde domingo, com Covid-19, a senadora Kátia Abreu (Progressistas/TO), decidiu enviar um ofício ao embaixador da China reforçando a importância da parceria chinesa.

A ex-ministra da Agricultura, titular da Comissão de Relações Exteriores do Senado e integrante da bancada ruralista no Congresso, destacou que “posições políticas isoladas não representam a voz dos brasileiros”.

— O Itamaraty tem por obrigação descredenciar as palavras do filho do presidente, que apesar de deputado não fala pelo governo ou pelo Brasil. Ou fala? — indagou a senadora em resposta ao GLOBO.

Já um grupo de empresários, em meio a tensões sobre o 5G, lançou um plano estratégico para incrementar os negócios entre as duas economias. O Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) publicou ontem um documento em que defende o alinhamento dos dois países em torno de três prioridades comerciais: infraestrutura, tecnologia e finanças.

Durante o lançamento do trabalho do CEBC, o vicepresidente Hamilton Mourão ressaltou a importância das relações comerciais entre os dois países.

Enquanto isso, deputados que presidem frentes parlamentares de relações com a China encaminharam ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um requerimento solicitando a deliberação da saída de Eduardo Bolsonaro da comissão de Relações Exteriores. O requerimento pede que o plenário da Câmara decida se Eduardo deve ou não continuar à frente da comissão.