O globo, n.31889, 27/11/2020. Economia, p. 28

 

País cria 394,9 mil vagas formais em outubro

Marcello Corrêa 

Cassia Almeida 

Carolina Nalin

27/11/2020

 

 

O saldo entre contratações e demissões no mercado formal de trabalho no Brasil ficou positivo em 394.989 em outubro, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem pelo Ministério da Economia. O resultado é o melhor desde 1992, início da série histórica da pesquisa, considerando todos os meses. Analistas, contudo, temem que as demissões aumentem no fim do ano, quando terminam os acordos de redução de jornada e salário e de suspensão de contrato.

Com o dado de outubro, o país completa quatro meses seguidos de geração de postos de trabalho. O resultado reforça o discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a atividade está se recuperando e não é preciso prorrogar o auxílio emergencial, criado na pandemia.

O ritmo de contratações acelerou em relação a setembro, quando 313,5 mil empregos com carteira foram criados, descontadas as dispensas. Apesar da sequência de dados positivos, o saldo acumulado no ano ainda é de perda de 171.139 postos, número influenciado principalmente pelas demissões registradas entre abril e maio.

Para Guedes, o país pode fechar o ano sem perdas de emprego, ou seja, com o número de contratações igual ao de demissões:

— Podemos terminar o ano tendo perdido zero emprego no mercado formal. Zero. Quando em 2015 perdemos mais de 1,2 milhão empregos, em 2016 também, em recessões autoimpostas. Nessa recessão, que veio de fora, que nos jogou ao fundo do poço, nós não perdemos o rumo, nos levantamos e estamos criando empregos em alta velocidade.

SÓ AGRICULTURA PERDEU

Para que a previsão de Guedes se confirme, será necessário acumular resultados positivos no Caged em novembro e dezembro que somem ao menos 171 mil vagas.

O número de outubro foi puxado pelo setor de serviços, com saldo positivo de 156.766 empregos. O comércio veio em seguida, com a criação de 115.647 vagas. Já a indústria abriu 86.426 empregos, e a construção civil, 36.296. Só a agricultura ficou no vermelho, com perdas de 120 vagas.

— Os serviços tiveram uma aceleração importante, que deve melhorar no quarto trimestre — diz Luka Barbosa, economista do Itaú, salientando que a segunda onda da Covid-19 é uma ameaça, mas a possibilidade da vacina em 2021 pode atenuar os efeitos.

Para Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, o bom resultado do Caged vem dos acordos de suspensão de contrato e redução de jornada; do relaxamento da quarentena, que permitiu a abertura de comércio e serviços; e até da subnotificação das demissões, diante do número de 600 mil empresas fechadas com acrise, conforme pesquisa Pulso Empresa, do IBGE:

— Foram 19,7 milhões de acordos firmados, envolvendo 9,8 milhões de empregados. O governo postergou a medida até 31 de dezembro. O temor é que, quando o benefício acabe, esses trabalhadores sejam desligados.

As informações do Caged refletem apenas os contratos com carteira. O balanço não capta a movimentação entre os informais.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, a taxa de desemprego atingiu o recorde de 14,4% no trimestre encerrado em agosto. Pelo levantamento, que considera trabalhadores por conta própria e sem carteira assinada, 13,8 milhões de brasileiros buscam emprego.

O Itaú prevê que a taxa de desemprego atinja o pico de 15,2% no fim do ano. Imaizumi estima que chegará a 18% em fevereiro, com o aumento da procura, conforme a quarentena for relaxando.

Após seis anos desempregado, André Luis da Silva, de 40 anos, conseguiu em outubro um trabalho com carteira assinada, na área de suporte de operações, em um banco digital. Sem conseguir emprego como engenheiro civil, nos últimos dois anos foi motorista de aplicativo:

—Tinha dia que eu não conseguia levar R$ 10 para casa como motorista de aplicativo. A certeza de que, no fim do mês, vou te rum salário digno e comida na mesa é algo indescritível.

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Rombo nas contas públicas já chega a R$ 681 bilhões em 2020

Manoel Ventura

27/11/2020

 

 

O governo já acumula um rombo de R$ 681 bilhões neste ano, entre janeiro e outubro, de acordo com dados divulgados ontem pelo Tesouro Nacional. O número, o pior já registrado, é resultado da série de medidas que o governo tomou por conta da crise causada pela Covid-19 e do tombo na economia.

O resultado de outubro, por outro lado, veio melhor do que as estimativas do mercado. No mês passado, o déficit( quando as despesas superam as receitas) foi de R$ 3,6 bilhões. No ano, o governo espera um rombo de R$ 844,5 bilhões.

Com um buraco nas contas, o governo precisa recorrer ao mercado para cobrir os gastos. Neste ano, a dívida pública federal subiu 9,2% entre janeiro e outubro, somando R$ 4,64 trilhões.

Para o resultado acumulado de janeiro a outubro, a receita do governo federal desabou 11,6%, impactada pelo adiamento de impostos e o desempenho negativo da economia.

Já as despesas dispararam 42,7%, puxadas pelas medidas tomadas por contada pandemia. Até outubro, os gastos primários realizados com medidas de combate à crise da Covid-19 totalizaram R$ 468,9 bilhões, de um total de R$ 582,7 bilhões aprovados até o fim do mês.

Ao comentar os resultados, o secretário do Tesouro, Bruno Funchal, assegurou que o teto de gastos será cumprido até 2023, mesmo que as medidas de ajuste não sejam aprovadas no curto prazo.