O Estado de São Paulo, n.46322, 14/08/2020. Metrópole, p.A11

 

Síndrome ligada à covid infantil mata 3 no Rio

Ludimila Honorato

14/08/2020

 

 

Até julho, houve 71 relatos e sociedade de pediatria cobra registro obrigatório no País

Uma síndrome rara possivelmente relacionada à covid-19 e que ocorre em crianças e adolescentes já causou três mortes no Brasil, diz o Ministério da Saúde. Até julho, 71 casos haviam sido registrados nos Estados de Ceará (29), Rio, (22), Pará (18) e Piauí (2). Os três óbitos foram no Rio. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicou alerta para que a notificação seja obrigatória.

Descrita como síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P), o quadro pode afetar crianças de 7 meses a adolescentes até 16 anos, segundo o ministério, e pode ser uma reação grave e tardia à covid-19. As idades de cada paciente não foram reveladas. O total de vítimas, porém, pode ser maior: o governo do Ceará relata 41 casos e 2 óbitos, fora do balanço federal.

Os primeiros relatos de um conjunto de sintomas pouco comuns foram na Europa, no fim de abril, quando os serviços de saúde do Reino Unido e da França reportaram alguns casos. No começo de maio, havia 15 crianças hospitalizadas em Nova York. Hoje, há relatos de mais de 300 casos no mundo.

Embora a maioria dos casos registrados no País esteja ligada a exames laboratoriais que diagnosticaram infecção atual ou recente pelo coronavírus, o ministério ressalta que ainda não há confirmação de causa e efeito. A pasta destaca que as ocorrências são raras diante do número maior de crianças e adolescentes que evoluíram bem após contrair o vírus.

Em 7 de agosto, a SBP divulgou nota de alerta para reforçar a necessidade de notificação obrigatória da síndrome. "As crianças e adolescentes que manifestam a SIM-P são habitualmente saudáveis, mas podem apresentar alguma doença crônica preexistente, particularmente doenças imunossupressor as ", dizemos especialistas que elaboraram o informe.

Logo no início das notificações em outros países, os sintomas relatados foram associados aos da síndrome de Kawasaki, inflamação sistêmica de causa ainda conhecida e mais comum na Ásia. Febre, dor de garganta, conjuntivite, manchas no corpo, vermelhidão na sola dos pés e na palma das mãos são alguns sinais relatados. A principal complicação é a ocorrência de aneurismas na artéria coronária, o que pode matar se não for tratado adequadamente. Médicos têm observado que a síndrome não ocorre na fase aguda da covid-19 e pode ocorrer até em crianças que tiveram quadro brando da doença.

Para Jorge Afiune, presidente do Departamento de Cardiologia da SBP, o fenômeno novo reforça a necessidade de notificação obrigatória. "Seguiu um pouco o caminho da pandemia: começou na Ásia, passou por

Europa, Estados Unidos e América do Sul. Especialmente em Itália, França, Suíça e Inglaterra, depois que a primeira onda acometeu adultos, principalmente, começou-se a perceber casos de apresentação diferente em crianças, de 5 a 12 anos", diz. "Na maioria havia relação temporal com a covid-19, até quatro semanas, de um caso na família ou presença do vírus." Para ele, já pode haver sub-registro no Brasil. "Uma coisa é notificar, saber que existe. Outra é todas as equipes atendendo seguirem o caminho da notificação, uma questão de adesão."

PARA ENTENDER

Estudos afetam volta às aulas

Efeitos do coronavírus em crianças e adolescentes têm despertado interesse de gestores, pressionados sobre volta às aulas presenciais. Há países com alta de infecções após reabrirem colégios, como Israel. Já na Suécia estudos indicam que a volta à escola não resultou em maior contágio. Na área educacional, a falta de aulas traz prejuízos à aprendizagem, perda do convívio social, além de problemas de saúde mental e nutricionais.