Correio braziliense, n. 20993, 15/11/2020. Economia, p. 16

 

Bancos garantem a segurança do Pix

Marina Barbosa 

Israel Medeiros 

15/11/2020

 

 

A expectativa em torno do Pix é grande, mas as dúvidas, também. Como ocorreu no lançamento do cheque, do DOC, da TED e dos cartões, muitos consumidores têm receio em relação à segurança dos pagamentos instantâneos. Porém, os bancos garantem que o sistema é seguro e está pronto para operar.

"Os bancos estão bem preparados para dar vazão ao início das transações do Pix, bem como para corrigir eventuais problemas pontuais que possam ocorrer, o que é natural em qualquer grande processo de inovação tecnológica", assegura o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney. "Segurança é uma preocupação permanente dos bancos e, no caso do Pix, estamos bastante vigilantes", completa o diretor-executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Febraban, Leandro Vilain.

O diretor do Banco Central, João Manoel Pinho de Mello, acrescenta que não há risco de os sistemas ficarem instáveis, como ocorreu no primeiro dia de registro das chaves Pix. Isso porque os bancos estão transacionando no Pix em uma fase restrita, desde o último dia 3, e, por isso, já fizeram os ajustes que se mostraram necessários no sistema.

A fase de operação restrita do Pix contou com a participação de 1% a 5% dos clientes de cada instituição financeira, para que os bancos pudessem observar o funcionamento e corrigir possíveis inconsistências nos sistemas do Pix. Porém, segundo o BC, o período de adaptação foi um sucesso. Tanto que R$ 659 milhões foram movimentados em 1,5 milhão de transações pelo Pix. Os números foram crescendo dia após dia. Só na última sexta-feira, foram transacionados R$ 334,5 milhões em 675 mil transações, quase tudo que foi movimentado nos 15 dias anteriores no Pix.

Ainda assim, os bancos monitorarão de perto o início dos pagamentos instantâneos para evitar quaisquer contratempos. As instituições alertam que o Pix é um meio de pagamento como outro qualquer. Por isso, requer os mesmos cuidados que são necessários, hoje, com o cartão e a conta do banco. "Você não entrega os dados do seu cartão ou a senha da sua conta para ninguém. É a mesma coisa", diz o diretor de Meios de Pagamento do Banco do Brasil, Edson Costa.

Também não se deve clicar em links ou e-mails estranhos, pois muitos fraudadores dispararam páginas falsas de cadastro no Pix para tentar roubar os dados bancários dos consumidores. A recomendação é de, então, sempre usar o ambiente digital do seu banco para fazer um Pix, bem como para cadastrar a chave Pix. Ou seja, fazer um pagamento instantâneo só depois de acessar o aplicativo do banco, que tem seu próprio sistema de segurança.

Se, ainda assim, sentir-se inseguro, o consumidor deve começar aos poucos e ir ampliando o uso do Pix à medida que ficar mais à vontade, segundo analistas. O educador financeiro Reinaldo Domingos diz que também é preciso ter cada vez mais controle do dinheiro que está na conta. Isso porque o pagamento é instantâneo — ou seja, será debitado na hora do saldo bancário — e algumas instituições financeiras estão atrelando serviços de crédito ao Pix, como o cheque especial, para garantir que um cliente não deixe de fazer o pagamento instantâneo por falta de saldo. "Você não paga as transações, mas fica descapitalizado de imediato e está mais propenso a se endividar", alertou Domingos, lembrando que os cheques especiais cobram juros altos.

*Estagiário sob a supervisão de Simone Kafruni

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Para o BC, é só o início da digitalização

15/11/2020

 

 

O Pix não vem apenas para acelerar e modernizar os pagamentos no Brasil. Como foi desenvolvido pelo Banco Central (BC), o sistema pode ser usado por diversas instituições financeiras. E a expectativa é de que isso amplie a competição do sistema financeiro, incluindo mais empresas e mais consumidores no mercado e difundindo a cultura do pagamento digital no país. Para o BC, este é, portanto, só o início de um processo de digitalização que vai levar à redução do dinheiro em espécie e à criação de uma moeda digital no Brasil.

Segundo o BC, apenas as 34 instituições financeiras que têm mais de 500 mil contas ativas de clientes eram obrigadas a transacionar no Pix. Porém, 762 instituições já se prepararam para fazer pagamentos instantâneos. São, sobretudo, fintechs e cooperativas de crédito, que veem no Pix uma chance de ampliar seus negócios e concorrer de igual para igual com os grandes bancos brasileiros.
"Não há condições de ficar de fora de um movimento tão importante. A pandemia acelerou a digitalização dos pagamentos. Então, ficar de fora seria uma desvantagem competitiva. O Banco Central nos chamou desde o começo para participar desse processo, pois o cooperativismo também trabalha para reduzir o custo financeiro", afirma o diretor-executivo de Operações do Centro Cooperativo Sicoob, Marcos Vinícius Borges, para quem o mapa competitivo e a distribuição de serviços financeiros vai mudar com o Pix.

"Com o Pix, as instituições menores e os novos entrantes do mercado estarão em pé de igualdade com os grandes conglomerados para fornecer o serviço. Isso vai aumentar a competição do sistema financeiro, que ainda é muito concentrado. Quando há mais competição, a tendência é de que as tarifas caiam e mais pessoas possam acessar os serviços bancários", reforça o diretor-executivo da ABFintechs, Diego Perez. Muitas dessas instituições já estão de olho nos desbancarizados. Ou seja, nas pessoas que não usam serviços bancários, mas, agora, poderão fazer pagamentos instantâneos pelo celular.

Essa competição já começou. Balanço divulgado pelo BC no início dos cadastros das chaves Pix revelou que Nubank, Mercado Pago e PagSeguro conseguiram mais chaves do que os grandes bancos brasileiros, o que acentuou a corrida pelo Pix. Alguns bancos chegaram a sortear prêmios para não perder os cadastros dos seus clientes. O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, garante que "a entrada de novos atores é muito bem-vinda".

 Competição
A perspectiva é de que a competição traga mais eficiência e mais clientes para a indústria financeira. Também se espera que a popularização dos pagamentos eletrônicos reduza o uso do dinheiro em espécie, que hoje custa cerca de R$ 10 bilhões por ano para os bancos, por conta dos gastos com transporte e segurança. Essa economia e a conquista de novos clientes pode, então, ajudar a compensar a receita que os bancos devem perder quando os clientes deixarem de fazer TED e DOC para fazer Pix.

O BC ainda vê um amplo rol de possibilidades com o Pix. Por isso, já prevê a inserção de novas funcionalidades no sistema, como a possibilidade de usar o Pix para fazer saques no varejo, agendar pagamentos instantâneos e transferir dinheiro para o exterior. Além disso, a autoridade monetária acredita que a popularização dos pagamentos digitais vai abrir espaço para a emissão de uma moeda digital no Brasil no futuro. Por isso, recentemente criou um grupo de trabalho para avaliar os prós e contras de um "real digital".

Para o presidente do BC, Roberto Campos Neto, a moeda digital é uma consequência natural desse processo de digitalização dos pagamentos. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também já avisou que o lobo-guará, que estampa a cédula de R$ 200, terá vida curta. (MB e IM)