O globo, n.31887, 25/11/2020. Economia, p. 34

 

Energia volta no Amapá, mas há instabilidade

Carolina Nalin

Manoel Ventura 

25/11/2020

 

 

Após 22 dias de apagões e rodízios, a Companhia de Eletricidade do Amapá (CE A) anunciou ontem a normalização do fornecimento de energia no estado. O governo federal informou que deve liberar R$ 80 milhões para isentar os consumidores do estado do pagamento da conta de luz de novembro. Apesar do anúncio, moradores da região central de Macapá continuam se queixando de instabilidade na rede elétrica.

O anúncio da normalização do fornecimento de energia foi feito pela CEA depois que a empresa fez a energização, na madrugada de ontem, de um segundo transformador que funciona na subestação da capital.

“O rodízio do fornecimento de energia foi oficialmente encerrado. (...) Com este transformador operando, o fornecimento foi garantido em 100% para atender aos 13 municípios que foram afetados com o acidente na subestação Macapá no dia 3 de novembro”, informou a CEA, em nota. O Ministério de Minas e Energia usou uma rede social para assegurar que houve restabelecimento do fornecimento de energia elétrica em todo o Amapá.

Apesar do posicionamento das autoridades, a empresária Dayanne Ferreira, de 36 anos, conta que faltou luz por meia hora no bairro onde mora, em Buritizal, por volta das 14h40 de ontem. Ela também viu instabilidade no bairro de Santa Inês, onde tem um restaurante.

— Só em casa já foram três lâmpadas queimadas, uma chegou a explodir. No restaurante queimou até o ventilador do expositor (refrigerador). Não me sinto segura com esse retorno, porque eles estão divulgando há dias o restabelecimento e, mesmo assim, todo dia falta.

CHUVA COMPLICA QUADRO

O prejuízo para a empresa tem sido ainda maior com os alagamentos em decorrência das chuvas. O local, que já teve aparelhos como central de ar e freezer queimados, também está com movimento mais baixo.

— As vendas reduziram 40% esse mês. Quase não conseguimos fechar a folha de pagamento e já tem décimo terceiro chegando. É pura balela esse restabelecimento de energia, já que alguns bairros foram privilegiados. Enquanto isso, outros bairros, como o nosso, vêm sofrendo e correndo risco. No nosso caso, de não sobreviver enquanto empresa. Estamos desesperados —diz Dayanne.

O turismólogo Sandro Belo, executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no estado, conta que pelo menos cinco donos de estabelecimentos da região relataram queda ou instabilidade da energia ontem, entre 9h30 e 14h15.

Na avaliação do executivo, a crise energética dificulta a retomada do setor de restaurantes, que já enfrenta dificuldades por conta da pandemia do coronavírus.

— Há muitos relatos de pessoas que desistiram do negócio e outras inclusive que já saíram do estado. Os empresários e colaboradores estão desesperados, pois, além de tais dificuldades como a perda dos insumos perecíveis e equipamentos, ainda há as limitações de funcionamento.

Samia Rangel, de 30 anos, administra um salão de beleza no Trem, bairro da região central de Macapá. Por conta do apagão, ela já teve que cancelar 60% dos agendamentos das clientes e vai fechar o mês com dificuldades. Ela espera que o problema seja sanado logo, mas não se sente confiante, já que presenciou duas quedas de luz na manhã de ontem.

—A gente fica com aquela insegurança, acho que não vai ser normalizado agora. Esse mês só vai dar pra pagar o aluguel e os funcionários, mas os fornecedores ainda não consigo. Esperamos conseguir pagar no mês que vem o prejuízo desse mês.

Para isentar os moradores do Amapá do pagamento da conta de luz de novembro, o governo editará uma Medida Provisória para liberar um crédito extraordinário, tirando a despesa do limite imposto pelo teto de gastos.

O recurso será depositado na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo que banca as políticas do setor elétrico.