O globo, n.31886, 24/11/2020. País, p. 4

 

Fora de jogo no 2º turno

Naira Trindade 

Gustavo Maia 

Paulo Cappeelli 

24/11/2020

 

 

Desmotivado com o resultado do primeiro turno das eleições municipais, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pretende se manter longe da disputa nesta fase final. A cinco dias do segundo turno, ele admitiu a aliados ter se decepcionado com a postura de alguns candidatos e afirmou já ter cumprido seu papel ao pedir votos nas transmissões ao vivo para 58 concorrentes.

A aliados, o chefe do Executivo disse ter se desgastado apoiando candidatos que, na visão dele, pouco trabalharam para melhorar o desempenho pífio que vinham tendo durante a campanha. Bolsonaro sentiu que muitos dos apoiados acreditaram que bastava apenas ter seu respaldo para elevar suas intenções de votos nas cidades, o que não aconteceu. E a derrota deles foi interpretada, então, como fracasso do presidente.

Interlocutores o haviam alertado de que o cenário de derrotas desgastaria sua imagem e poderia demonstrar fraqueza. Por outro lado, alguns aliados defendiam usar a campanha municipal como “termômetro” para 2022, quando Bolsonaro pretende se lançar à reeleição. Por isso, o chefe do Executivo decidiu se arriscar e ajudar candidatos que o ajudaram na campanha de 2018, além de outros indicados pelos seus assessores, secretários e ministros.

No primeiro turno, o presidente pediu voto para 13 candidatos a prefeito, mas só dois deles foram eleitos: Gustavo Nunes (PSL), em Ipatinga (MG); e Mão Santa (DEM), em Parnaíba (PB). Outros nove ficaram pelo caminho e apenas dois conseguiram vão ao segundo turno: Marcello Crivella (Republicanos), no Rio; e Capitão Wagner (PROS), em Fortaleza (CE). Os dois, porém, estão agora atrás nas pesquisas de Eduardo Paes (DEM) e José Sarto (PDT), respectivamente.

“NÃO” A CRIVELLA

Aconselhado por aliados, Bolsonaro não deve gravar mais vídeos para nenhum aliado, nem mesmo para Crivella, que na semana passada esteve em Brasília lhe pedindo para participar de eventos de rua. Bolsonaro recusou e também declinou de fazer novas gravações para o horário eleitoral. Bolsonaro disse a interlocutores que “já deu sua contribuição” para a campanha do prefeito. Aliados avaliam que o prefeito ter chegado ao segundo turno foi um dos poucos pontos positivos da participação do presidente nas eleições municipais, mas que agora seria um equívoco entrar na campanha diante da grande vantagem de Paes.

Também pesou o fato de aliados próximos do presidente, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI), intercederem por Paes, argumentando que, se eleito, o exprefeito não adotará postura antagônica a Bolsonaro, diferentemente do governador de São Paulo, João Doria. O próprio senador Flávio Bolsonaro, que é filiado ao partido do prefeito e comanda a articulação política do bolsonarismo no Rio, reforçou sua postura de neutralidade.

O único movimento feito pelo presidente no sentido demostrar apoio a algum candidato no segundo turno ocorreu na semana passada quando fez um comentário em uma publicação nas suas redes sociais demostrando simpatia ao Delegado Eguchi, que enfrenta Edmilson Rodrigues (PSOL).

“Caso fosse eleitor em Belém/PA, certamente votaria”, respondeu Bolsonaro no Facebook a um eleitor que defendia o nome de Eguchi. “Boa sorte para ele”, complementou, sem se alongar no comentário.

Ontem, Bolsonaro afirmou que março de 2021 é o prazo limite para conseguir viabilizar o Aliança pelo Brasil. A legenda não conseguiu reunir nem 10% das 492 mil assinaturas necessárias para o registro no Tribunal Superior Eleitoral. Aliados do presidente avaliam que o resultado do pleito mostra que há desorganização na sua base, o que seria fruto, em parte, de ele não estar filiado a nenhum partido. Legendas que integram o Centrão e que estão alinhadas ao governo, como PP, PL e Republicanos, estão entre as opções para abrigar Bolsonaro caso o plano de se filiar ao Aliança fracasse. Uma volta ao PSL também já foi citada pelo presidente como alternativa.