O globo, n. 31853, 22/10/2020. Mundo, p. 41

Papa defende leis para união civil de homossexuais

22/10/2020

Francisco deu declaração em documentário apresentado no Festival de Cinema de Roma; Pontífice já fez acenos anteriores à comunidade LGBT+, mas gesto atual é o mais enfático desde que assumiu chefia da Igreja Católica em 2013

 O Papa Francisco expressou apoio à criação de leis que garantam a união civil de casais do mesmo sexo, de acordo com a Agência Católica de Notícias. A afirmação foi feita no documentário "Francesco", exibido ontem na capital italiana no âmbito do Festival de Cinema de Roma.Eoges tomais enfático de Francis aosdi King tosLG BT + desde a sua ascensão ao papado em 2013.

Na produção, segundo a agência, o papa defende que os casais do mesmo sexo devem ter direitos garantidos por lei. A Igreja agora enfrenta o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas o pontífice fez diferentes sinais da inclusão dos homossexuais na sociedade. As declarações representam um ponto de inflexão em relação ao posicionamento de seus antecessores, entre eles o Papa Emérito Bento XVI, um recluso no Vaticano.

“O que precisamos criar é uma lei da união civil”, disse Francis. - Dessa forma, eles (homossexuais) estarão protegidos legalmente. Eu sou a favor desta ideia.

O pontífice também falou sobre o direito dos LGBT + de constituir família:

- Os homossexuais têm o direito de fazer parte de uma família. Eles são filhos de Deus e têm o direito de constituir família. Ninguém deve ser expulso ou forçado à infelicidade por causa disso.

Parte do documentário, dirigido por Evgeny Afineevsky, tem como objetivo a atenção pastoral à comunidade LGBT +. Francisco também comenta outros temas sociais que desafiam os dogmas da Igreja.

- O claro apoio público do Papa Francisco às uniões civis do mesmo sexo marca um novo estágio no relacionamento da Igreja com as pessoas LGBT + - disse James Martin, um padre jesuíta e autor de "Building a Bridge", um livro sobre o ministério católico gay.

'MOMENTO HISTÓRICO'

Francis DeBernardo, diretor executivo do New Ways Ministry (grupo que defende LGBT + católicos nos EUA), avalia o discurso do papa como positivo.

- É um momento histórico quando o líder da Igreja Católica Romana, há muito considerado um perseguidor de pessoas LGBT +, está se movendo no sentido de apoiar casais lésbicos / gays e suas famílias. É um sinal de que a Igreja continua a melhorar sua abordagem das questões LGBT +.

Quando foi arcebispo de Buenos Aires em 2010, o Papa se opôs à legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo no governo de Cristina Kirchner, atual vice-presidente da Argentina.

Segundo a Agência Católica de Notícias, o biógrafo de Francisco Sergio Rubin sugeriu que os religiosos apoiassem a ideia de uma união LGBT + como uma forma de coibir um beco mais abrangente que até autorizasse o casamento. As declarações foram posteriormente negadas quando o argentino chegou ao posto mais importante da Igreja Católica, mas sua posição revel adoem "Francesco" parece indicar que, ainda como Cardeal Bergoglio, o pontífice defendeu em particular a tese na Argentina.

TELEFONEMA PARA CASAL GAY

Um dos momentos mais emocionantes do documentário sobre o pontífice detalha a interação entre Francisco e um homossexual que, junto com seu companheiro, adotou três filhos.

O homem afirmou ter enviado uma carta ao Papa explicando sua situação, dizendo que ele e sua companheira queriam criar os filhos como católicos, mas não sabiam como seriam recebidos pela Igreja. Dias depois, o pontífice teria ligado para o homem dizendo que ele foi movido por Acarta e pedindo-lhe que apresentasse as crianças à paróquia local, apesar da possível oposição.

- O fio condutor desse filme é mais sobre nós como seres humanos, que estamos criando desastres todos os dias. E ele [o Papa] é quem está nos conectando por esses fios - disse o diretor do filme em entrevista.

Afineevsky, que compareceu ontem à audiência geral do Papa no Vaticano, ganhou o Prêmio Kineo pela Humanidade com o documentário "Francesco". O prêmio é voltado para aqueles que promovem questões sociais e humanitárias.