O globo, n. 31852, 21/10/2020. País, p. 12

 

Padrinhos aceleram campanha só na reta final

Bernardo Mello

Alice Cravo

Sérgio Roxo

21/10/2020

 

 

Presença de Bolsonaro, Lula, Ciro e Doria ainda é discreta nas eleições em capitais. Em ação por improbidade relativa à sua gestão na prefeitura, Justiça bloqueia R$ 29,4 milhões em bens do governador de São Paulo, que nega irregularidades

 Padrinhos políticos que representam a nacionalização do debate eleitoral devem intensificara atuação nas campanhas apenas na reta fi naldo primeiro turno. Por diferentes razões, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-presidente Lula (PT) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) têm participado de forma discreta até agora em capitais como Fortaleza, Salvador e Rio, em que se esperava que fossem os principais cabos eleitorais do horário eleitoral no rádio e TV.

O recuo ocorre e mm ei oàdivulg açã ode pesquisas eleitorais que apontam percentual relativamente baixo de transferência de votos dos padrinhos políticos, que também atraem rejeição às candidaturas. Para dirigentes partidários e estrategistas das campanhas, é“natural” que figurasn acionais intercedam mais pró xi moà votação, salvo em casos de campanhas que patinam.

Em Salvador e Fortaleza, Lula ainda tem participação discreta nas campanhas de Major Denice e Luizianne Lins. Os programas de Denice, exibidos nos blocos de 10 minutos de propaganda não fizeram referência ao ex-presidente. Já o governador Rui Costa é presença constante. A previsão é que Lula apareça hoje na propaganda de Denice.

Em Fortaleza, a candidata Luizianne Lins falou o nome de Lula apenas uma vez num dos programas em que destacou de seus “companheiros” na política. Luizianne, porém, usa as cores do PT e exibe a estrela símbolo da legenda.

Já em São Paulo e Recife, onde as candidaturas de Jilmar Tatto e Marília Arraes, ambos do PT, não engrenaram, busca-se uma associação mais explícita a Lula diante do risco de não chegar ao segundo turno. Tatto, com 4% das intenções de voto na capital paulista segundo o Ibope, vem exibindo quase diariamente L ulana TV enas redes sociais desde o início da campanha. Marília Arraes, tecnicamente empatada com Mendonça Filho (DEM) e Delegada Patrícia (Podemos) na segunda colocação no Recife, incorporou depoimentos de Lula e até a cor vermelha do PT, antes ausentes, diante do crescimento de adversários.

Nas redes sociais, Ciro compartilha vídeos de apoio a candidatos doPDTemca pitais como Curitiba, Campo Grande e Rio. No último fim de semana, Martha Rocha, candidata no Rio, retribuiu os acenos de Ciro e afirmou, numa live com o presidente nacional do PDT, Carlos Lu pi, que ficaria“muito honrada em ver Ciro caminhando” com sua campanha. Segundo um aliado, há pedido para que Martha se posicione “com mais clareza” como uma candidatura adversária ao bolso n ar ismo. Lu pi defende queé necessário discutir isso “no dia adia” na campanha:

— Ciro vai ser uma espécie de reforço na reta final.

Integrantes do PT também articulam que Lula participe de uma carreata com a candidata do partido à Prefeitura do Rio, Benedita da Silva, que aparece com 7% das intenções de voto, tecnicamente empatada com Marcelo Crivella (Republicanos) e Martha Rocha na segunda colocação.

Bolsonaro, que declarou apoio a quatro candidatos a prefeito em capitais, tem sua imagem explorada por três: Celso Russomanno (Republicanos) em São Paulo, Bruno Engler (PRTB) em Belo Horizonte e Coronel Menezes (Patriota) em Manaus. Capitão Wagner (PROS), à frente nas pesquisas em Fortaleza, evita associar o nome a Bolsonaro e mm ei oà rejeição aop residente, apontada em pesquisas.

O governador de São Paulo, João Doria, não tem aparecido nos programas do prefeito da capital, Bruno Covas, candidato à reeleição. Situações semelhantes ocorrem em Natal e Porto Alegre: os prefeitos Álvaro Dias eN elsonMarchezan não têm como estratégia usara imagem de Dor ia nas propagandas na televisão.

BLOQUEIO DE BENS

A Justiça estadual de São Paulo determinou o bloqueio de R$ 29,4 milhões em bens de Doria, em processo em que é réu por improbidade ad ministra tivaàépo caem que foi prefeito da capital. Em 2018, Doria foi acusado pelo Ministério Público de ter feito autopromoção por meio de propaganda do programa “Asfalto Novo” e causado prejuízo de R$ 29 milhões aos cofres públicos.

Segundo o MP, o montante gasto com publicidade foi desproporcionale tinha o objetivo de “apenas alavancar” a campanha de Doria ao governo de São Paulo” em 2018, quando o tucano foi eleito para o cargo. A defesa informou que vai recorrer. No Twitter, Doria classificou a medida como “descabida” e negou ilegalidades.