Correio braziliense, n. 20986, 07/11/2020. Política, p. 4

 

Maia para o governo: "Vai enfrentar ou não?"

Luiz Calcagno 

07/11/2020

 

 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o governo tem seis meses para a implementação de medidas econômicas que definirão o restante do mandato. Más escolhas poderão prolongar a crise e enfraquecer a candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro, segundo ele. Na análise que fez, também levantou o risco de o Brasil importar o método do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e questionar a lisura do processo eleitoral brasileiro.

"Em relação a 2022, temos de esperar seis meses. Temos de entender as decisões do governo. Os próximos seis meses de governo serão decisivos para o fortalecimento ou enfraquecimento. Somado a isso, estamos vendo nos Estados Unidos como os mais radicais trabalham o processo eleitoral, o que pode ser um espelho para o Brasil. O centro precisa procurar um caminho. Tem convergência com a parte liberal da economia do governo Bolsonaro, mas divergência com outras pautas", avaliou, em live promovida pelo Itaú, ontem, ao ser questionado sobre a possibilidade de um candidato centrista.

Para Maia, a questão é compreender que rumo o governo dará à economia. Se Bolsonaro terminar o mandato enfraquecido, abrirá espaço para um número maior de candidatos disputar a próxima corrida eleitoral. "A gente deve, e pode, avançar na mudança do sistema eleitoral. O fim das coligações terá impacto em 2022. Podemos construir um acordo para caminhar para um sistema misto. O Brasil é um país continental. Tem chance de poder avançar."

O parlamentar destacou ser necessário saber, primeiro, se o governo vai enfrentar a crise com as reformas, ou se tentará, por exemplo, furar o teto de gastos. "Vai enfrentar, ou não? Pois o Brasil pagará a conta antes de chegar em 2022. Defendo a reforma, o teto de gastos. Todas as políticas dentro do teto são populares. Fora do teto, são populistas", frisou. "O governo, se não se organizar, vai ter dificuldade e abrirá um cenário político para outras correntes construírem suas candidaturas para 2022. A Câmara, até 1º de fevereiro (quando Maia deixará a presidência da Casa), continuará com essa pauta de reorganização do Estado, que é nossa atribuição dentro do processo democrático."

Responsabilidade
Maia defendeu a PEC Emergencial e a reforma tributária. Ele lembrou que a carga tributária sobre o brasileiro é forte e que não há clima para aprovação de novos impostos. Disse, ainda, que ao tentar inserir novas cobranças em um texto feito pelos deputados e senadores, o governo trabalha para transferir essa responsabilidade.

A todo momento, no entanto, ele isentou a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, dos desencontros do Executivo. Ele espera votar as pautas urgentes a partir da próxima semana. "Temos uma situação difícil do orçamento primário. Temos de ter a coragem de enfrentar. Estou em dúvida para entender o cenário, a posição do governo, e precisamos entender como o resto da base do governo vai pensar as soluções para o Brasil para os próximos anos."

O teto de gastos — ressaltou ele —, foi um bom caminho até a chegada da pandemia, que mudou a realidade econômica do país. "Essa emenda constitucional limitou o gasto e precisa ser respeitada. Mesmo sabendo que vamos depender da vacina, não podemos continuar estendendo os gastos extraordinários. Diferentemente de países ricos, temos mais limitações", enfatizou.