Correio braziliense, n. 20979, 31/10/2020. Política, p. 4

 

Mais um vice-líder das fileiras do Centrão

31/10/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro fez mais um afago ao Centrão e deu a vice-liderança do governo no Congresso ao senador Jorginho Mello (PL-SC). A vaga estava aberta desde a ida de Ricardo Barros (PP-PR) para a liderança na Câmara dos Deputados. A indicação do parlamentar foi apadrinhada pelo senador Eduardo Gomes (MDB-TO), que é líder do governo no Congresso. "É um nome excelente e foi responsável pelo Pronampe (programa de apoio às microempresas e pequenas empresas)", explicou Gomes.

Jorginho pertence ao partido comandado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado e preso por participação no mensalão. É próximo do Palácio do Planalto e apoia os projetos do Executivo. Porém, chegou a ser considerado "traidor" na votação do veto presidencial sobre o reajuste de servidores, cujo desfecho foi resolvido pela Câmara.

Isso, no entanto, ficou para trás desde que o governo percebeu a instabilidade política e adotou o movimento de coligação com o Centrão. Como tem uma agenda desafiadora pela frente, a consolidação da base tornou-se fundamental. Não à toa, são 10 vice-líderes no Congresso.

Além da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o governo precisa resolver várias questões rapidamente, como o programa Renda Brasil, a reforma administrativa e o teto de gastos. Mesmo que algumas pautas fiquem para o ano que vem, o mercado precisa de uma sinalização positiva e de que os temas começarão a andar, segundo analistas.

Para o cientista político Paulo Calmon, professor do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB), a indicação é parte do processo de cooptação, contudo o grande número de vice-líderes não reflete, necessariamente, a existência de um bom diálogo. "Na política, é necessário ter bons negociadores e mediadores, que possam travar um acompanhamento, orientar a bancada e negociar com ela em uma grande diversidade de temas", explicou.

Calmon explicou que, na ausência de um partido único de apoio, foi criado um mecanismo suprapartidário de base, com diálogo muito mais difícil. "Bolsonaro começou com ambição de ter o PSL como âncora. Foi um partido que conseguiu resultado surpreendente nas últimas eleições, mas se fragmentou. Então, tenta recompor essa base com representantes de outras legendas", avaliou.
Ele ressaltou, no entanto, que a prova de existência de uma base sólida é a aprovação das matérias. "E, por enquanto, não estamos vendo as pautas avançarem. Há muitos conflitos. Ainda não está claro em que medida essa estratégia vai funcionar", disse. (SK)