Correio braziliense, n. 20978, 30/10/2020. Política, p. 4

 

Privatizar o SUS seria insanidade

Marina Barbosa 

30/10/2020

 

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que seria uma insanidade e um contrassenso falar na privatização do Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, admitiu que o governo pensa em fazer parcerias com a inciativa privada para a conclusão de mais de 4,5 mil unidades de saúde. Explicou que, neste caso, o governo daria vouchers para que as pessoas pudessem ser atendidas.

"O SUS é uma rede descentralizada de atendimento à saúde pública. Falar sobre as privatizações seria uma insanidade", disse Guedes, ao ser questionado sobre o assunto, ontem, em audiência da Comissão Mista da Covid-19 do Congresso. Mas, disse não ver problema em dar mais tempo para que a população e o Congresso analisem a proposta, pois a ideia foi "mal compreendida".

O ministro afirmou que o contrassenso é claro quando se leva em conta o papel essencial desempenhado pelo SUS durante a pandemia de covid-19. Reconheceu, no entanto, que a ideia de fazer parcerias com a iniciativa privada na construção de unidades básicas de saúde e unidades de pronto atendimento passou pelo crivo do governo.

O projeto veio à tona na última quarta-feira, por meio de decreto do presidente Jair , mas foi revogado no mesmo dia, após críticas de secretários de saúde, da classe política e da sociedade civil. Porém, segundo Guedes, a proposta estava em discussão no Planalto há cerca de um mês.
O ministro contou que a ideia partiu do Programa de Parcerias de Investimento (PPI), cuja secretária, Martha Seillier, foi classificada por Guedes como uma funcionária pública séria, competente e trabalhadora. Segundo o ministro, ela o procurou, depois de ter conversado com o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, e foi autorizada a continuar com o projeto porque há cerca de 4,5 mil unidades de saúde e 168 unidades de pronto atendimento inacabadas.

Guedes argumentou que, como não há recursos para concluir essas obras, o governo permitiria à iniciativa privada entrar com projetos para garantir a conclusão e o funcionamento dessas unidades de saúde. Concluída a obra, o governo entraria com o pagamento do atendimento da população de baixa renda. A ideia do governo seria comprar um voucher de atendimento nas unidades de saúde e entregá-los à população. "Fica mais barato para nós. Em vez de gastar fazendo a obra física, gasta em atendimento, pagando a consulta para suplementar o setor público", explicou.

Ele argumentou que essa parceria poderia ampliar o acesso à saúde, pesando menos no Orçamento. E admitiu que, por isso, tomou um susto com a repercussão negativa do projeto.

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Bolsonaro quer reeditar decreto na próxima semana 

Ingrid Soares 

30/10/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro afirmou, na live da noite de ontem, que reeditará o decreto sobre a privatização de unidades básicas de saúde até a próxima semana. Ele revogou o ato depois de uma enxurrada de críticas e considera que houve má interpretação da proposta.

"Tivemos um probleminha, ontem, com o decreto do SUS (Sistema Único de Saúde), que não tinha nada ver com privatização. Grande parte da mídia caiu em cima dizendo que o pobre não ia poder usar o SUS. Revoguei o decreto e dei uma nota explicando o que era. Nos próximos dias, devemos reeditá-lo, o que deve acontecer semana que vem", assegurou.

Mas cedo, ele havia defendido o ato que autorizava a realização de estudos para nortear a participação de entidades privadas na construção, gestão e operação de unidades básicas de saúde (UBSs). Publicado no Diário Oficial da União na quarta-feira, e revogado no mesmo dia, não tratava, segundo Bolsonaro, da privatização do SUS.

Ao comentar o assunto, Bolsonaro disse que "estava sendo visto como um monstro" pela opinião pública. Justificou também que "possui um bom atendimento médico e que a população também deveria ter".
"Vamos ter mais de 4 mil unidades abandonadas, jogadas no lixo, sem atender uma pessoa sequer. Então, lamentavelmente, o pessoal da esquerda critica, essa imprensa critica, e eu estava virando um monstro. Revoguei o decreto, sem problema nenhum. Tenho um bom atendimento médico. Agora, o povo tem que ter também. Como a gente pode conseguir um bom atendimento? Agindo dessa maneira. Não tem outra maneira", afirmou.

Esquerda
O presidente aproveitou o episódio para fazer campanha política e dizer que o país pode voltar a ser dirigido por governos de esquerda, a partir das próximas eleições. "Vai voltar para as mãos de quem nos botou no buraco, pode ter certeza. Continuem agindo dessa maneira que volta para as mãos de que nos botou no buraco", disse.

Bolsonaro acrescentou que "tem recebido sugestões" de apoiadores para a economia, tal como a de diminuir o salário dos servidores do Poder Legislativo. Ressaltou, porém, que não tem capacidade para adotar tal medida.

"Vem um cara e diz assim: 'Diminua salário do Poder Legislativo que tem dinheiro para saúde'. Eu não tenho poder de mexer em salário de servidor do Legislativo. Se querem um ditador, votaram no cara errado. Em 2022, vão ter a chance de escolher um cara melhor do que eu", afirmou.