Correio braziliense, n. 20975, 27/10/2020. Ciência & Saúde, p. 12

 

Resposta imune forte em idosos

27/10/2020

 

 

A vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, em parceria com o laboratório AstraZeneca induziu uma resposta imunológica robusta em idosos. Os resultados da fase dois de testes também apontaram um risco menor de efeitos adversos em pessoas mais velhas. A fórmula britânica, uma das mais avançadas na corrida mundial em busca de um imunizante para a covid-19, é uma das quatro que passam pela última etapa de testes no Brasil. Mais detalhes relacionados à pesquisa serão divulgados nas próximas semanas em revistas especializadas.

A fase dois de testes com idosos da vacina britânica contou com a participação de dois grupos de voluntários, um deles com idade entre 56 e 69 anos e outro com pessoas de 70 anos ou mais. Nas análises, os pesquisadores registraram uma resposta dupla do sistema imune nos participantes que receberam o imunizante: a geração de anticorpos que neutralizam o vírus Sars-CoV-2, agente da covid-19, e uma atividade maior das células-T do organismo, cuja principal função é matar invasores desconhecidos e ameaçadores, como os patógenos.

O anúncio foi feito por Andrew Pollard, um dos coordenadores do estudo, em um evento on-line. "O professor Pollard discutiu as primeiras descobertas do ensaio de fase dois de segurança e imunogenicidade da vacina de coronavírus em uma conferência de pesquisa (...). Esses primeiros resultados foram submetidos a um periódico com uma revisão por pares e esperamos ver sua publicação nas próximas semanas", informou a instituição, por meio de um comunicado divulgado ontem.

Marco promissor

Os responsáveis pelo desenvolvimento do imunizante destacam que os resultados, embora iniciais, são animadores. "Nossos testes em andamento fornecerão mais dados, mas isso representa um marco importante e nos garante que a vacina é segura para uso e induz fortes respostas imunológicas em ambas as partes do sistema imunológico em todos os grupos de adultos", assinalou a nota.

Em julho, Oxford havia divulgado resultados da fase dois de testes em voluntários mais novos, entre 18 e 55 anos de idade. Os pesquisadores constataram segurança e uma resposta imune robusta em quem recebeu o imunizante, porém ressaltaram que ainda faltavam os resultados da vacina em pessoas mais velhas. "É promissor observar as respostas imunológicas semelhantes entre idosos e jovens adultos e que a reatogenicidade foi mais baixa em adultos mais velhos, nos quais a gravidade da covid-19 é maior", disse um porta-voz da AstraZeneca à agência de notícias France-Presse (AFP). "Os resultados comprovam as evidências sobre a segurança e a resposta imunológica da vacina", acrescentou.

Para Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), os resultados obtidos pelos cientistas ingleses são muito positivos, mas só podem ser comemorados após a divulgação de estudos científicos detalhados. "São essas informações que estamos esperando ansiosos, o braço da pesquisa que abrange as pessoas do grupo de risco da covid-19, os idosos. Espero que esses resultados divulgados previamente se confirmem nos estudos científicos, quero muito ver os pormenores dessas análises", disse o imunologista.

Cunha destacou que os dois tipos de respostas imunológica observados em voluntários mais velhos são essenciais para que a vacina possa ser usada universalmente. "Essa dupla reação imune é o que possibilitará uma proteção mais robusta. Isso é importante para todos que receberem a vacina, mas, ainda mais, para pessoas mais velhas e para indivíduos com comorbidades", observou o médico.

Na última sexta-feira, os testes da vacina de Oxford foram retomados nos Estados Unidos, único país onde ainda estavam suspensos desde que um participante adoeceu. Os resultados dessa última etapa deverão ser divulgados até o fim do ano. (Vilhena Soares)