O Estado de São Paulo, n.46310, 02/08/2020. Economia, p.B4

 

Quem é André Brandão, escolhido para presidir o BB

Sonia Racy

Aline Bronzati

Fernando Scheller

02/08/2020

 

 

Executivo, que mora em NY, já começou a organizar a mudança para o Brasil: decisão foi vitória da ala 'pragmática' do governo

Missão. Brandão terá como uma de suas missões acelerar a venda de ativos do BB

A ala "pragmática" do governo obteve uma vitória com a indicação de André Brandão, executivo atualmente no HSBC, para a presidência do Banco do Brasil, em substituição a Rubem Novaes, de 74 anos, que anunciou sua saída do cargo no início da semana passada. A escolha de Brandão foi antecipada na manhã de sexta-feira pela colunista Sonia Racy, do 'Estadão'.

Com a definição por um nome de mercado – Brandão tem 17 anos de HSBC e mais de uma década de Citibank –, o consenso é de que a escolha reforça o cacife do ministro da Economia, Paulo Guedes, que conseguiu impedir que um perfil menos técnico fosse selecionado.

Novaes pediu demissão em meio a um processo de desgaste que incluía insatisfação do governo com a velocidade das vendas de ativos do BB e com o desempenho da instituição no crédito, segundo fontes.

Além disso, causou mal estar a reação do presidente do BB ao questionar a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de impedir que o banco faça propaganda em sites acusados de espalhar fake news, prática associada à ala ideológica do governo.

Depois de pedir demissão, a declaração do executivo de que não se adaptou à cultura de "compadrio" e "corrupção" de Brasília também criou polêmica. Disse ainda que o BB precisava de sangue novo para fazer frente a desafios tecnológicos.

A confirmação da troca de comando depende de ritos do BB. Segundo fontes, Brandão terá de vender as ações que detém do HSBC antes de começar a trabalhar. Ele deve fazer isso em breve, pois já aceitou a nova função. Já está até aprontando a mudança de Nova York e buscando escolas para os filhos.

Trajetória. Desde 2003 no HSBC, André Brandão atuava como chefe global da instituição para as Américas. Desde que vendeu o banco de varejo para o Bradesco, em 2016, o HSBC atua no Brasil apenas como banco de investimento – ou "de atacado", no jargão do mercado financeiro. Antes de chegar ao HSBC, o executivo permaneceu mais de dez anos no Citibank.

Em 2015, o executivo depôs na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigava supostos crimes de evasão de divisas de brasileiros que tinham contas na agência de Genebra, na Suíça, do banco. Na época, disse que a operação local não tinha acesso a dados de correntistas fora do País.

Cortes no HSBC. Brandão enfrentava, no HSBC, um movimento de redução de cargos executivos. Segundo a agência Reuters, ele permaneceria no cargo de dirigente para as Américas até o fim do ano, quando "novos anúncios seriam feitos". Outros diretores regionais do banco foram demitidos desde o início de 2020.

O cargo no BB é uma forma de o executivo colocar uma experiência de peso no currículo, segundo fontes de mercado. Ele vai trocar a remuneração em dólar pela presidência do BB, cujo salário fixo mensal é de R$ 68,8 mil, valor considerado baixo no mercado. Nos bancos privados, ganha-se pelo menos o dobro.

O nome de Brandão surgiu após uma série de negativas recebidas pela equipe econômica.

Sob o temor de uso do cargo para atender a interesses políticos, Guedes fincou o pé em relação à decisão de trazer um executivo de mercado.

Fontes do mercado financeiro disseram que Brandão é visto como um respeitado executivo de mercado e que sua indicação para o BB é uma mensagem positiva em termos de gestão. "É uma boa escolha diante dos nomes disponíveis", disse uma fonte.

Nova fase

17 anos

era o tempo de atuação do executivo no HSBC

R$ 68,8 mil

será o salário fixo mensal do presidente do BB