Título: Sem atritos com a Bolívia
Autor: Colares, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 05/04/2013, Política, p. 6

No Senado, Patriota diz que acredita na inocência dos corintianos detidos em Oruro. Denúncias de assédio no Itamaraty não entraram na pauta

O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, disse ontem que acredita na inocência dos brasileiros detidos na Bolívia. Ele reiterou que Dilma Rousseff pediu ao presidente do país vizinho, Evo Morales, celeridade e tratamento digno. As declarações foram feitas por Patriota ontem, em audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal.

Os brasileiros, torcedores do Corinthians, estão presos na Bolívia desde 20 de fevereiro, por suspeita de envolvimento na morte do torcedor boliviano Kevin Beltrán Espada, de 14 anos, atingido por um sinalizador enquanto assistia ao jogo entre Corinthians e San José, pela Taça Libertadores. Patriota afirmou que o Itamaraty está empenhado em garantir pleno apoio consular aos torcedores.

Diante dos questionamentos dos senadores quanto à possibilidade de a Bolívia usar o caso dos corintianos como retaliação ao asilo político concedido pelo Brasil ao senador boliviano Roger Pinto Molina, Patriota disse que os dois assuntos precisam ser tratados em canais diferentes. E afirmou que há informações sobre as duas negociações, que estão sendo tratadas com discrição, o que não significaria que o governo brasileiro está inerte. Segundo Patriota, no caso dos torcedores brasileiros, estão sendo negociados habeas corpus e a possibilidade de prisão domiciliar.

As denúncias de servidores do ministério em relação a supostos assédios morais e sexuais não foram discutidas durante a audiência. “A reunião era para discutir política externa. Relações trabalhistas precisam ser discutidas diretamente com o ministro, em outro momento”, afirmou o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), presente à audiência. O Sindicato Nacional dos Servidores do MRE (Sinditamaraty) convidou assessores do senador pedetista e de Paulo Paim (PT-RS) para uma reunião na próxima quarta-feira, quando pretendem tratar do assunto. “Continuaremos trabalhando junto dos senadores”, afirmou o secretário-geral do Sinditamaraty, Rafael de Sá. A ideia de Paim é colher mais informações para abordar o tema com a pasta. A possibilidade de convocar uma audiência pública sobre o assunto e outras questões trabalhistas não está descartada.

Assédio moral Patriota nunca falou em público sobre as denúncias de assédio moral no MRE. A assessoria de imprensa do Itamaraty ponderou que o ministro também nunca foi questionado publicamente sobre o assunto. No dia da transmissão de cargo da Secretaria-Geral de Relações Exteriores, em 1º de março, Patriota afirmou que espera de todos um comportamento respeitoso e solidário. “Não há espaço em nossa instituição para que seja de outro modo”, disse.

O pronunciamento foi entendido por alguns como uma menção indireta ao assunto. Pouco antes, em fevereiro, servidores do MRE fizeram um protesto em frente ao Itamaraty para pedir um basta ao assédio moral. Com o objetivo de aumentar o diálogo com a sociedade civil, a ONG Conectas Direitos Humanos lançou a campanha “Ministro, eu #QueroSaber” e abriu espaço na página que mantém no Facebook para que fossem feitas perguntas ao ministro. Os 38 questionamentos coletados foram reunidos em documento, entregue ontem a Patriota.