Correio braziliense, n. 20972, 24/10/2020. Economia, p. 7

 

Desemprego cresce 33,1% na pandemia

Marina Barbosa 

Carinne Souza 

24/10/2020

 

 

O desemprego já atinge 13,5 milhões de brasileiros e bateu 14% em setembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números são recordes na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19 (Pnad Covid19). Porém, ainda devem crescer nos próximos meses. Especialistas explicam que, nesta crise do novo coronavírus, o pico do desemprego só será sentido após o fim de programas como o auxílio emergencial, isto é, no início de 2021.

Segundo o IBGE, o desemprego já cresceu 33,1% desde o início da pandemia de covid-19. É que, em maio, quando começaram as medições da Pnad Covid19, o Brasil tinha 10,1 milhões de pessoas sem trabalho. Esse contingente, contudo, vem aumentando mês a mês e de forma cada vez mais intensa. Só entre agosto e setembro, 600 mil de pessoas entraram na fila do desemprego.

Economista do Ibre/FGV, Rodolpho Tobler explicou que muitos trabalhadores foram demitidos no início da pandemia, mas nem todos foram buscar emprego, assim que rescindiram o contrato, por conta do distanciamento social. Só agora, com a flexibilização do isolamento, é que elas estão retomando a busca por um emprego e passaram a pressionar a taxa de desemprego.

"Todas essas pessoas estão voltando a procurar emprego, mas não estão encontrando uma nova ocupação, porque a atividade econômica ainda está muito desaquecida e, por isso, não está reabsorvendo esse pessoal", acrescentou o economista e professor do Insper Fabio Astrauskas.

O técnico em seguros Gilberto Silva, de 47 ano, foi demitido no início da pandemia e tem procurado um novo trabalho desde então, mas ainda não foi chamado para nenhuma vaga e já começa a se preocupar com as contas do próximo mês. "Estou vivendo com o auxílio e o valor do meu acerto, que termina este mês", contou. "Com a pandemia, tudo se tornou o novo normal. Tenho enviado e-mails, tentado em plataformas e grupos de emprego, mas está difícil. A grande maioria das empresas não dá retorno", reclamou o estudante Ualisson Oliveira, de 24 anos.

Os economistas dizem que o desemprego deve continuar elevado até que a economia brasileira volte a crescer e gerar postos de trabalho. E calculam que, até lá, a taxa de desocupação ainda vai crescer, podendo bater o recorde de 16% no início do próximo ano. Dados do IBGE indicam que a previsão não é exagerada: além dos 13,5 milhões de desempregados, o Brasil tem 16 milhões de pessoas que gostariam de trabalhar, mas ainda não buscaram um trabalho em setembro devido à pandemia ou à falta de trabalho na localidade em que vivem.