O globo, n. 31849, 18/10/2020. País, p. 8

 

Em São Paulo, principais candidatos disputam 2020 de olho em 2022

18/10/2020

 

 

As entrevistas com os principais candidatos a prefeito de São Paulo divulgadas nos últimos quatro dias pelo globo abriram que, mesmo que se trate de uma disputa municipal, todos ficam de olho mais à frente, no caso, na eleição presidencial de 2022 À frente numericamente nas pesquisas, Celso Russomanno, dos republicanos, explorou a associação com o presidente Jair Bolsonaro. Chegou a reconhecer que, sem o Bolsonaro, não teria entrado na disputa e disse que o presidente lhe prometeu apoio para que cumprisse a proposta de governo que mais se destacou até agora, a de complementar a ajuda emergencial paga no pandemia.

O tom mudou quando um possível lado problemático da parceria foi posto em cima da mesa - o das reclamações contra membros da família Bolsonaro, ou o dinheiro depositado por um ex-assessor na conta da primeira-dama. Intempestivamente, ele até ameaçou interromper a entrevista. Embora os levantamentos mais recentes apontem para uma oscilação negativa no desempenho do candidato, assessores garantem que a associação com o Bolsonaro veio para ficar. O "padrinho" da candidatura também foi o único tema a arrancar duras palavras de Bruno Covas (PSDB), que disputa a reeleição. Para rebater a tese de que estaria escondendo João Doria de sua campanha, recorreu a um expediente comum entre políticos diante de questões delicadas. Ele disse que os jornalistas estavam nervosos e angustiados, e que ele tinha algo para mostrar, daí a ausência do governador, que tem grande rejeição na cidade neste primeiro momento. Sobre as denúncias de corrupção que nos últimos meses assolaram colegas do PSDB de São Paulo, ele reconheceu que é difícil avaliar se isso terá impacto em sua campanha.

Guilherme Boulos, candidato do PSOL, pregou a União de esquerda para derrotar o bolsonarismo, apesar de cada partido nessa área ter lançado um candidato diferente.

Parecia vago, porém, ao falar sobre uma das principais propostas de seu plano de governo que poderia encontrar eco na periferia, a tarifa zero no transporte público. Ele reconheceu que não tem estimativa de custos para avaliar a viabilidade disso e justificou que a conta só poderia ser feita com acesso a dados que só a gestão municipal possui.

Já Márcio Francia (PSB) parece equilibrar-se entre duas eleições: a que perdeu para João Doria, há dois anos, e a atual. Embora o adversário da época seja Bruno Covas, o alvo principal dos pinos não é o atual prefeito, mas, sim, Doria. Uma foto ilustra como as duas eleições “falam” à frente da França. Em uma sala da sede do PSB, há um mapa da capital com os resultados, por zona eleitoral, da eleição para governador há dois anos. A imagem do mapa mostra como a França, que venceu nos subúrbios, onde a esquerda é tradicionalmente mais forte, avançou sobre o eleitorado do centro da cidade no segundo turno. O candidato tem a mesma imagem salva em seu celular - é a bússola que ele usa para se orientar no concurso deste ano, da prefeitura.