Valor econômico, v. 21, n. 5131, 19/11/2020. Política, p. A14

 

Com mais dinheiro para campanha, PSL e PT tiveram piores resultados

Ricardo Mendonça

19/11/2020

 

 

PSDB gastou apenas R$ 16,47 de dinheiro público por voto conseguido

Nas eleições de 2020, dinheiro não trouxe felicidade para os partidos políticos. Pelo menos o do financiamento eleitoral. PSL e PT foram as legendas que mais receberam recursos do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário, verbas designadas para gastos de campanha e manutenção das estruturas partidárias. As duas siglas, porém, colheram resultados medíocres nas urnas.

Por ter eleito a segunda maior bancada de deputados em 2018, na onda do triunfo do presidente Jair Bolsonaro, e não sofrer retenção de parte do dinheiro do Fundo Partidário, como ocorre com o PT, o PSL é a sigla que mais recebeu dinheiro público neste ano.

O partido, que depois foi abandonada por Bolsonaro, teve direito a R$ 199,4 milhões do Fundo Eleitoral e mais R$ 87,8 milhões do Fundo Partidário até outubro. Um total de R$ 287,3 milhões.

O PSL, no entanto, foi só o 12º no ranking de votos recebidos para prefeito. Com 2,8 milhões de votos, é a sigla que apresenta pior taxa de eficiência eleitoral entre as grandes e médias no critério verba/votação. Num exercício contábil simplificado, o custo do voto no PSL foi de R$ 102,89, valor quatro vezes superior à média das outras 14 maiores legendas (R$ 23,98).

O caso do PT é menos expressivo que o do PSL, mas tem o mesmo sentido. Por ter eleito a maior bancada de deputados em 2018, a sigla do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a que teve direito à fatia mais robusta do Fundo Eleitoral neste ano, R$ 201,3 milhões. Com outros R$ 74 milhões do Fundo Partidário de janeiro a outubro, os petistas receberam um total de R$ 275,3 milhões de financiamento público em 2020.

Apesar da bonança no quesito dinheiro, o PT ficou apenas na 6ª posição no ranking de votos recebidos para prefeito. Com 7 milhões de votos aos seus candidatos, terminou atrás de MDB, PSDB, PSD, DEM e PP. O custo do voto petista para prefeito foi de R$ 39,49 - mais que o dobro dos quatro partidos mais votados.

Se a conta for feita levando-se em consideração o número de prefeitos eleitos, as situações do PSL e do PT despontam como ainda piores. O primeiro elegeu 90 prefeitos neste ano, 60 a mais do que em 2016. Mas isso o coloca apenas na 16º posição de partidos com maior número de vitórias em 2020. Já o PT, com 179 prefeituras conquistadas até aqui (havia vencido 257 em 2016), é apenas o 11º na lista de prefeitos eleitos.

No polo oposto do ranking de eficiência estão PSDB, PSD e MDB, as legendas que conseguiram mais de 10 milhões de votos no domingo. O custo do voto tucano foi o mais baixo no grupo dos 15 partidos grandes e médios, R$ 16,47.

Autor do livro “Dinheiro, Eleições e Poder: As engrenagens do sistema político brasileiro”, o cientista político Bruno Carazza, colunista do Valor, afirma que as distorções observadas no ranking de eficiência são produtos do critério de distribuição dos fundos: “É uma fórmula que olha para trás. Distribui recursos hoje levando em consideração os resultados das eleições de 2018, ano de uma disputa muito polarizada entre PSL e PT”.

O Fundo Eleitoral foi criado para compensar a proibição do financiamento empresarial de campanhas, pivô de sucessivas décadas de escândalos políticos. Segundo Carazza, também era outra a natureza da distribuição: “A lógica empresarial era diferente da lógica desses fundos. Empresário não distribuía dinheiro a esmo, com viés ideológico ou com base na eleição passada. Ele dava mais para quem ele achava que iria ganhar. Olhava para frente. Então o resultado das urnas tendia a ser mesmo mais coerente com o ranking do dinheiro recebido por cada partido”.

Carazza tem explicações diferentes para os maus resultados de PSL e PT, apesar dos recursos vultosos recebidos por cada um. “O PSL era um partido nanico e só teve essa montanha de dinheiro por causa do impulso dado por Bolsonaro. Mas é partido sem estrutura, sem capilaridade, sem nomes competitivos. Então não tinha nem onde gastar. Já o PT também teve muito dinheiro, mas enfrenta enorme desgaste de imagem. E, ficou claro, tem problemas de renovação.”