O globo, n. 31848, 17/10/2020. Sociedade, p. 19

 

Onde há mais bois, há mais focos de fogo

Renato Grandelle

17/10/2020

 

 

Taxa de queima é maior em áreas do Pantanal onde há mais gado, diz pesquisa

"Boi de fogo."

Um estudo divulgado nesta semana pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostra que a quantidade de focos de fogo no Pantanal é maior em cidades onde há mais cabeças de gado. O resultado contradiz a tese do "Boi de fogo", defendida pelo governo federal - segundo os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, a ingestão de capim seco pelos animais deixaria a vegetação mais baixa e, portanto, menos sujeita à disseminação de fogo. A pesquisa foi realizada a partir de dados do rebanho bovino e do número de focos de calor em 2018. Os municípios com mais cabeças de gado também são os Campeões de queimadas-caso de Corumbá (MS) e Cáceres (MT). Os especialistas constataram que o consumo de pasto pelo gado reduz a intensidade das queimadas, mas o fator predominante é o uso do fogo para o manejo das pastagens. Então, quanto mais gado, quanto mais fogo. Professor de Gestão Ambiental e Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia da UFMG, Raoni Rajão destaca que as mudanças climáticas contribuíram para a seca no Pantanal, mas a propagação do fogo se deve à ação humana. - Houve uma estiagem significativa, assim como mudanças no padrão de enchentes do rio Paraguai. O Pantanal virou barril de pólvora, mas o fogo não veio sozinho. O homem foi o responsável por isso - explica. - O fogo pode ser usado no bioma de forma responsável, nunca no pico de uma seca. bem como mudanças no padrão de inundação do rio Paraguai. O Pantanal virou barril de pólvora, mas o fogo não veio sozinho. O homem foi o responsável por isso - explica. - O fogo pode ser usado no bioma de forma responsável, nunca no pico de uma seca. bem como mudanças no padrão de inundação do rio Paraguai. O Pantanal virou barril de pólvora, mas o fogo não veio sozinho. O homem foi o responsável por isso - explica. - O fogo pode ser usado no bioma de forma responsável, nunca no pico de uma seca.

Rajão destaca que, segundo as investigações da Polícia Federal, um grupo de proprietários de terras seria o responsável pela queima do fogo, com o provável objetivo de promover a degradação do solo desmatado. - É um absurdo dizer que mais gado significa menos fogo, ou sugerir que medidas de conservação foram responsáveis ​​por gerar a queima-condenação.

PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS

Júlio César Sampaio, líder da iniciativa Pantanal do WWF-Brasil, destaca que, nos últimos anos, houve um aumento no número de queimadas e pecuária em cidades do bioma. - O clima foi um forte componente dos incêndios, mas as queimaduras que vemos agora são resultado da atividade pecuária. O boi bombeiro é uma figura mitológica - explica. - Infelizmente o governo federal insiste em defender uma tese equivocada e, pior ainda, diz que os ambientalistas querem tirar o gado do Pantanal. Ninguém pediu por isso. A pecuária extensiva é uma das principais fontes de renda da região.

A atividade econômica, porém, deve ser pautada por práticas sustentáveis ​​para a realização do manejo: queimada apenas no último caso, visando o aproveitamento dos nutrientes da terra, e nunca promovida em situações climáticas adversas, onde colocaria em risco vulneráveis ecossistemas como a Montanha Amolar, que há semanas registra incêndios, apesar da ação dos brigadistas.

- Esse modelo de gestão territorial controlada, que não resulta em incêndios, é denominado fogo frio. Com ele, o gado poderá desfrutar da vegetação nativa, o que favorece sua alimentação - aponta Sampaio. Em 2020, até a última quinta-feira, o Pantanal registrava 20.796 focos de incêndio. É um índice 222% maior que o registrado no mesmo período do ano passado, e também o recordista da série histórica registrada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que faz medições desde 1988. Corumbá, que liderou o número de cabeças de gado (1,8 milhão) entre as cidades atendidas pela UFMG em 2018, já registrava, em 2020, 7.918 incêndios - mais do que qualquer outra cidade do país. Diante da crise de queimadas no Pantanal e na Amazônia, o presidente do Ibama, Eduardo Bim, indicou ontem o tenente-coronel da Reserva Ricardo Viana Barreto, do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, para chefiar o Centro Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Prevfogo). Seu antecessor, José Carlos de Morais, pediu exoneração na semana passada após assumir o cargo por apenas um mês, alegando motivos pessoais.

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No sul do país, Pampa registra registro de incêndios

17/10/2020

 

 

Bioma perdeu 6.044km em nove meses; para pesquisador, campos da região não têm apoio popular visto em outras regiões do país

 O menor e o menos conhecido bioma brasileiro também registram taxas alarmantes de queimadas. Entre janeiro e setembro, o Pampa perdeu 6.044 km2, mais do que nos quatro anos anteriores somados, considerando o mesmo período. Coordenador do Centro de Pesquisa e Conservação da Natureza Pró-Mata, vinculado ao Instituto do Meio Ambiente (IMA) da PUC-RS, Pedro Maria de Abreu Ferreira é cauteloso em sua análise do aumento radical dos incêndios. Uma das possibilidades seria a queima involuntária da palha seca, no momento em que são retiradas para deixar o pasto livre para o gado. Outra hipótese está ligada à expansão da fronteira agrícola. - Nesse caso, seria o mesmo modus operandi que vemos na Amazônia e no Cerrado. A vegetação original é convertida em lavoura para lavouras como a soja - descreve.

De acordo com Ferreira, os recentes investimentos em tecnologia têm permitido o plantio de soja em locais onde ela não era vista, como alagados ou altitudes.

- O Pampa é considerado um patinho feio no calcanhar do país. É de longe o bioma menos protegido por unidades de conservação. Possui uma grande biodiversidade, com mais de 4.500 espécies de plantas, grande parte das quais endêmicas. Assim como o Pantanal e a Amazônia, também está dividido com outros países. Mas não é devidamente valorizado porque o imaginário popular associa um bioma às florestas, enquanto a imagem dos Pampas são os campos - explica.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, autorizou esta semana a publicação do edital de concessão dos parques nacionais da Serra Geral e Aparados da Serra, na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, que estão entre as unidades de conservação mais conhecidas do Pampa.

O governo federal prevê investimentos de R $ 270 milhões ao longo de 30 anos com esse modelo de concessão, que, segundo ele, em breve poderá ser expandido para outras unidades de conservação do país.