O globo, n. 31846, 15/10/2020. Economia, p. 21

 

Pobreza volta a subir no Rio

Cássia Almeida 

Carolina Nalin

15/10/2020

 

 

Mais 270 mil pessoas passam a ganhar até meio salário em agosto

 Mais 270 mil fluminenses entraram na pobreza em agosto, de acordo com estudo do economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social. A pobreza voltou a subir no Rio, num movimento inverso ao que aconteceu no Brasil, onde o número de pobres continuou a cair. Ela subiu 1,55% no mês, pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid-19, do IBGE. No país, caiu 3,74%.

— Menos pessoas recebem o Bolsa Família no Rio, se comparado com o percentual no restante do país, mas o estado tem uma informalidade quase nordestina. Esse aumento da pobreza pode indicar que o Rio ainda está patinando na retomada — afirma Neri.

A queda da pobreza no Estado do Rio já vem inferior à média brasileira. De 2019 a agosto deste ano, caiu 15,65% contra 23,7% no Brasil. Até julho, tinha caído 16,9%. Em agosto, contudo, havia 3,55 milhões ganhando até meio salário mínimo, o patamar de renda da linha de pobreza usada por Neri.

Menos auxílio no Rio

Marcel Balassiano, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, diz que o Rio tem andado mais devagar que o Brasil. O peso do setor de serviços, que vem reagindo mais devagar diante da necessidade de distanciamento social, é de 80% na economia fluminense, mais do que no Brasil, que é de 70%.

— O auxílio emergencial, que ajudou o Produto Interno Bruto (PIB) a cair menos, tem impacto menor no Rio. Ele é o sexto estado com menor número de pessoas recebendo o benefício — diz Balassiano.

A alta informalidade no Rio não ajudou. Foram os trabalhadores por conta própria os que mais sofreram com a quarentena, perdendo renda do dia para a noite. E, no Rio, o número de informais vem aumentando mais do que no restante do país. Enquanto, no Brasil, a informalidade subiu três pontos percentuais, no Rio, foram sete pontos a mais de 2015 a 2019.

O auxílio ajudou a diminuir a pobreza em todas as regiões, inclusive no Rio, mas não foi suficiente para manter esse movimento de queda quando começou o relaxamento da quarentena, explica Neri:

— O auxílio impactou o Rio até julho de 2020. A pobreza não caiu mais no Rio pela dificuldade no relançamento da economia fluminense. A informalidade alta e ter muitos idosos dificultam ainda mais.

Mesmo com a alta em agosto, a pobreza no Rio continua inferior à do Brasil. No estado, 20,45% da população ganham até meio salário mínimo per capita. No Brasil, são 23,70%.

Segundo Balassiano, o Rio, como o Brasil, entrou em recessão sem ter se recuperado da anterior, em 2015 e 2016. Mas a situação estava mais crítica no estado. Enquanto o país começou a crescer novamente a partir de 2016, o estado só voltou a crescer em 2019:

— Antes da pandemia, o setor de serviços estava quase 30% abaixo dos níveis anteriores à recessão de 2015. A Covid só veio agravar os problemas.

A estudante de Enfermagem Rafaela Dutra estava empregada no setor de serviços quando foi demitida em abril. Moradora da Penha, na Zona Norte do Rio, trabalhava numa rede de hotelaria em Copacabana, na Zona Sul, há seis anos. Sua renda, que variava de um a dois salários mínimos, caiu para zero. Foram três meses enviando currículos. Sem retorno, a saída foi vender roupas em um camelô no Centro da cidade, mas a renda mal chega a meio salário mínimo:

— Tem dia que não vendo R$ 50. Muitas pessoas ainda estão trabalhando em casa, o movimento está muito fraco. O que cresceu mesmo foi a quantidade de ambulantes que foram para a rua porque perderam o emprego. Está difícil para todos, a gente vende o almoço para poder jantar.

Desemprego maior

A taxa de desemprego no Rio é maior que a média nacional. O índice do IBGE está em 16,4% contra 13,3% no país.

— O Rio é a segunda maior economia do país, mas tem 5,3 milhões de trabalhadores vulneráveis — afirma Balassiano.

O economista considera vulneráveis os desempregados; os que não procuraram vaga, mas estão disponíveis para trabalhar; e os informais.

O setor de petróleo está indo bem, afirma Jonathas Goulart, gerente de Estudos Econômicos da Firjan, mas não tem impulso para empregar mais:

— É um setor que emprega muito pouco.

Goulart diz que a indústria que fornece para setor de alimentos e construção civil está crescendo. Ele afirma que é preciso esperar mais um pouco para saber se esse movimento de piora nos indicadores sociais em agosto é pontual ou uma tendência:

— Os serviços têm reação mais lenta, que só deve acontecer em 2021. Algumas indústrias estão mais fortes e outras andaram de lado. Temos que ver se esse movimento (de aumento da pobreza) é permanente ou pontual.

Para Neri, a economia fluminense está desajustada:

— A economia fluminense está desajustada em todos os sentidos, inclusive na política.

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Serviços crescem 2,9%, mas não recuperam perdas acumuladas na crise

Pedro Capetti

15/10/2020

 

 

O setor de serviços, maior PIB brasileiro, continua se recuperando lentamente após as perdas causadas pela crise da Covid-19. Dados divulgados ontem pelo IBGE apontam que o segmento cresceu 2,9% em agosto, na comparação com julho. Foi o terceiro mês consecutivo de alta, após quatro meses em queda, mas o setor ainda está 9,8% abaixo do nível pré-pandêmico.

Na comparação com agosto do ano passado, a aqueda é de 10% - o que mostra que o segmento está bem abaixo do normal. O desempenho desacelera a recuperação da atividade, já que os Serviços respondem por quase 70% do PIB nacional.

Especialistas explicam que a tendência é que o setor seja o mais lento na recuperação por causa de sua dinâmica mais ligada à movimentação de pessoas. Quatro das cinco atividades pesquisadas pelo IBGE avançaram em agosto, com destaque para os serviços prestados às famílias, que cresceram 33,3%, puxados por restaurantes e hotéis.

—A economia está se normalizando gradativamente em termos de circulação e padrão de consumo, mais regiões estão liberando o movimento de pessoas e isso tem se refletido no índice. Mas ainda é um quadro negativo; (serviços) deve fechar o ano como o pior setor da economia - afirma Carlos Lopes, economista do Banco BV.

Além do turismo reduzido, os estabelecimentos estão operando com horário e capacidade reduzidos. Dados do Google indicam que o fluxo em lojas de varejo e lazer ainda está 18% abaixo da pré-pandemia, assim como a movimentação em parques (-25%) e transporte público (-11%).

- As empresas apresentam alguma recuperação, mas com um “teto de recuperação”, uma vez que não têm plena capacidade de atendimento, em relação ao período pré-pandêmico. Isso se agrava com o medo de algumas famílias de consumidores Serviços, restaurante Co moira ou viagens - explica Rodrigo Lobo, gerente de pesquisas do IBGE.