Valor econômico, v. 21, n. 5129, 17/11/2020. Especial, p. A18

 

Mulheres avançam nas prefeituras

Mônica Scaramuzzo

17/11/2020

 

 

Apenas em Ponta Grossa (PR) acontece um duelo 100% feminino entre os que disputam o 2° turno

As mulheres têm chances de avançar em representatividade nas maiores prefeituras a partir de 2021. No primeiro turno da eleição municipal, apenas duas mulheres venceram no domingo entre as cidades capitais de estado ou com mais de 200 mil eleitores. No entanto, outras 19 candidatas vão para o segundo turno, segundo levantamento do Valor.

Os dados foram extraídos de uma base de dados das 95 maiores cidades do País nessa condição. Macapá está fora deste levantamento porque adiou as eleições. No mesmo período das eleições passadas, seis mulheres tinham ido ao segundo turno nos 92 maiores municípios. Apenas metade foi eleita em 2016.

Das 18 candidatas para o segundo turno, a certeza do avanço das mulheres acontece apenas em Ponta Grossa (PR), uma vez que a disputa será entre duas candidatas: Mabel Canto (PSC) e Professora Elizabeth (PSD). Entre os dez maiores municípios, as mulheres chegam à corrida do segundo turno no Recife, com Marília Arraes (PT), e Porto Alegre, com Manuela D'Ávila (PCdo B). Também avançaram em capitais como Rio Branco e Aracaju.

“A sociedade é machista, racista e homofóbica”, diz a professora Luciana Ramos, coordenadora de Pesquisa Jurídica Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo ela, é preciso cautela e acompanhar os resultados das eleições do segundo turno antes de comemorar o avanço maior de mulheres no comando das maiores prefeituras do País.

No pleito de 2016, os eleitores escolheram apenas três prefeitas nas 92 cidades de então onde era realizado segundo turno: Teresa Surita (MDB), em Boa Vista; Raquel Lyra (PSDB), em Caruaru (PE) e Paula Mascarenhas (PSDB), em Pelotas (RS). Na eleição de domingo, a atual prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), foi reeleita. Porém, Cinthia assumiu o comando municipal em 2018, com a saída do então prefeito para concorrer às eleições estaduais.

Com base nos resultados do primeiro turno, há um predomínio claro dos homens no comando dos executivos municipais. Nos 95 municípios da amostragem, 37 homens foram eleitos no primeiro turno (duas candidaturas masculinas, contudo, estão impugnadas). Eles devem conquistar mais 38 prefeituras, uma vez que a disputa será apenas entre candidatos masculinos, contabilizando 75 homens. E eles vão governar os 7 maiores colégios eleitorais do País.

A doutora em ciência política Maria Teresa Berkauy, também pesquisadora do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp, destaca o avanço de candidatas mulheres ao segundo turno nas cidades do interior de São Paulo, como Bauru, Sorocaba, Franca, Ribeirão Preto, por exemplo. “Em Ribeirão Preto, por exemplo, Duarte Nogueira (PSDB) vai concorrer com Suely Vilela (PSB). Ribeirão Preto já teve uma prefeita (Dárcy Vera, que foi afastada) e tem uma nova candidata”, lembra.

São Vicente e Praia Grande, litoral paulista, também têm candidatas disputando. Além de Contagem, Uberaba e Juiz de Fora (MG), Cariacica (RJ), Pelotas (RS), Santarém (PA).

O total de candidatas que concorreram à prefeitura neste domingo foi de 187, de um total de 1.055 candidatos, ou 17,7%. O total de mulheres (prefeitura e vereadores) somou 33,5% do total, ficando um pouco acima da média da cota de 30% para mulheres. A cota, contudo, só é válida para cargos não executivos.

Já os candidatos pardos e negros que concorreram à prefeitura nesta eleições totalizaram 319, dos 1.055. Desse total, 95 se autodeclararam negros e outros 224 pardos. Na eleição de 2016, só 18 candidatos que se identificaram como pardos foram eleitos, com base na amostragem feita pelo Valor Data. Chegam ao segundo turno deste ano três candidatos negros e 27 pardos, segundo o Valor Data. Em 2016, foram eleitos 18 candidatos pardos nas 96 maiores cidades.

Pela primeira vez, o número negros (incluindo pardos) representou maioria nessas eleições. Levantamento do TSE mostrou que esses candidatos somaram 50,03%, dos cerca de 557 mil candidatos. Neste levantamento, estão prefeitos e vereadores.

A predominância de candidatos brancos, porém, segue forte. Embora as candidaturas totais entre os que concorrem ao pleito se identificaram como pretos e pardos tenham aumentado, o número de concorrentes brancos a prefeitos representa a vasta maioria, somam 63,2% do total, segundo o TSE.

“A questão não é o aumento do total de candidaturas autodeclaradas. O problema maior é o acesso aos financiamentos de campanhas, tanto para mulheres como para negros”, diz o professor de sociologia e ciência política Luiz Augusto Campos, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ) Luiz Augusto Campos. Ele lembra que 38% do total dos 5.568 municípios possuem apenas candidatos brancos às vagas a prefeito. Ele não acredita numa mudança de perfil após o segundo turno.

Em relação à ocupação dos principais candidatos ao segundo turno, o total de candidatos da área de saúde saltou de 3 eleitos em 2016 para 6 no segundo destas eleições. Vale lembrar que muitos candidatos, embora tenham “doutor” ou “capitão, delegado e juiz” no seu nome de candidatura, não se registram assim no cargo de ocupação. Entre os candidatos a prefeito nas 96 cidades associados à segurança (membros das forças armadas, policiais civis e militares, militares reformados e bombeiros), das 33 pessoas, apenas um policial civil avançou para o pleito para o segundo turno.