Valor econômico, v. 21, n. 5129, 17/11/2020. Política, p. A9

 

Com mais recursos, PP cresce 35% em eleitos

Raphael Di Cunto

17/11/2020

 

 

Partido saiu de 495 prefeitos em 2016 para 681 agora

Maior sigla a prometer previamente apoio a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o PP cresceu nos municípios nesta eleição e se tornou o segundo partido com mais prefeitos e vereadores do país, atrás apenas do MDB. Segundo caciques da sigla, a estratégia foi lançar o maior número de candidatos e investir o dinheiro dos fundos públicos nos mais competitivos para se preparar para 2022, quando não haverá coligação.

O PP teve um crescimento de pelo menos 35% na quantidade de eleitos. Saiu de 495 prefeitos em 2016 para 682 agora (o MDB tem 773, mas contava com mais de mil na eleição passada). O número de vereadores do PP saltou de 4,7 mil para 6,3 mil (o MDB elegeu 7,3 mil). Os dados, da tarde de ontem, ainda são parciais porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não tinha concluído a apuração em 114 cidades.

A sigla passou a compor a base aliada de Bolsonaro em maio, obteve o comando de órgãos importantes do governo, como o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), e seu presidente, o senador Ciro Nogueira (PI), já declarou apoio à reeleição do presidente. Bolsonaro foi deputado pelo PP por anos, mas saiu da legenda por não ter espaço para concorrer à Presidência pelo partido. Ele se filiou ao PSL, mas rompeu logo depois.

Tesoureiro do PP e líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PR) atribui o desempenho a estratégia eleitoral de distribuição das verbas dos fundos públicos - o PP recebeu R$ 145 milhões para gastar na eleição - e ao lançamento de um grande número candidatos. “O resultado foi muito bom. Estamos em segundo lugar, subindo. O MDB está em primeiro, mas caindo. Significa que estamos no rumo certo”, disse.

O parlamentar afirmou que o planejamento já visou o fim das coligações proporcionais para deputados, que exigirá chapas maiores de candidatos e “puras” - sem outros partidos. “Lançamos muitas candidaturas justamente para poder o vitorioso apoiar um candidato e o perdedor se lançar candidato a deputado. Esse que é o modelo de fazer política, construir lideranças regionais. Nem todo mundo ganha a primeira”, explicou.

O crescimento ocorreu principalmente por causa de cidades menores, mas a sigla também melhorou seu desempenho nos municípios com mais de 200 mil eleitores - onde há possibilidade de segundo turno. Tinha um prefeito nesse grupo em 2012, dois em 2016 e agora já tem quatro. Disputará o segundo turno em cinco locais. Três deles, capitais: o ex-deputado Cícero Lucena em João Pessoa, o ex-prefeito Tião Bocalom em Rio Branco (que não venceu no primeiro turno por menos de 0,5% dos votos) e a vereadora Cristiane Lopes em Porto Velho. Essas disputas são a esperança de aumentar o eleitorado governado, quesito em que o partido ficou atrás de MDB, PSDB, PSD e DEM, que comandarão cidades maiores em 2021.

Líder do PP na Câmara, o deputado Arthur Lira (AL) afirmou que o resultado projeta o partido como o maior do centro político. “Os números relatam isso. Fomos os que mais crescemos”, defendeu. Ele minimizou, porém, a influência desse resultado na eleição para a presidência da Câmara, que ele pretende disputar em fevereiro, e disse que as duas eleições não tem nenhuma relação.

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Republicanos dobra total de prefeitos e entra no grupo dos dez maiores

Murillo Camarotto

17/11/2020

 

 

Sigla deixou para trás PT e Cidadania (antigo PPS)

Ligado à Igreja Universal, o Republicanos passou a integrar o grupo dos dez partidos com maior número de prefeituras no país. Nas eleições de domingo, a sigla fundada há 15 anos mais do que dobrou o número de prefeitos eleitos na comparação com o pleito anterior, passando de 103 para 208.

Com esse desempenho, deixou para trás agremiações tradicionais da política brasileira, como o PT e o Cidadania (antigo PPS). Rebatizado no ano passado, o Republicanos antes atendia por PRB, partido que foi criado em 2005, quando filiou o então vice-presidente da República José Alencar, morto em 2011.

O número de prefeitos ainda pode chegar aos 213, caso o Republicanos saia vencedor das disputas de segundo turno em cidades importantes como Rio de Janeiro, Vitória, São Luís, Campinas (SP) e Sorocaba (SP). A quantidade de vereadores eleitos também registrou um salto importante, de 58%, passando de 1.620 para 2.561 em todo o país.

O desempenho, ainda assim, ficou abaixo das metas que foram desenhadas pela direção da legenda. A expectativa era de eleger até 300 prefeitos e 3 mil vereadores, o que colocaria o Republicanos ainda mais acima no ranking nacional. De qualquer forma, a avaliação feita logo após fechadas as urnas é de uma trajetória positiva no longo prazo.

“Estamos crescendo de forma contínua desde a fundação, em 2005. O mais importante é que trata-se de um crescimento consistente, que não é artificial ou passageiro”, afirmou ao Valor uma fonte do partido, que também vem aumentando exponencialmente a sua bancada de parlamentares em Brasília.

Na Câmara, o Republicanos conta atualmente com 30 deputados, ante 21 na legislatura anterior e somente oito na bancada que foi eleita em 2010. Seu presidente, o deputado federal Marcos Pereira (SP), é considerado um candidato competitivo para a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Casa.

A bancada de deputados estaduais da legenda também cresceu nos últimos anos, passando de 18 parlamentares em 2010 para 42 eleitos no pleito de 2018.

A principal aposta do Republicanos para este ano é a reeleição do prefeito do Rio, Marcelo Crivella. Após ter o segundo lugar ameaçado, ele ganhou fôlego na última semana e conseguiu superar as candidatas Benedita da Silva (PT) e Martha Rocha (PDT), garantindo, assim, um lugar no segundo turno, quando enfrentará o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). A própria direção do partido, contudo, considera remota a chance de vitória de Crivella.

A outra aposta era o deputado federal Celso Russomanno (SP), cujo processo de derretimento já está se tornando uma tradição na eleição para a prefeitura paulistana. Assim como aconteceu em pleitos anteriores, Russomanno passou quase toda a campanha à frente das pesquisas e perdeu fôlego na reta final. Dessa vez, apelou para a parceria com o presidente Jair Bolsonaro, o que não lhe ajudou muito, ao contrário.

Bolsonaro, aliás, mandou para o Republicanos os seus dois filhos mais velhos, o senador Flávio (RJ) e o vereador Carlos (RJ), além da ex-mulher, Rogéria Nantes. Não há, entretanto, indicações de que o presidente possa vir a se filiar ao partido, apesar da boa relação política com a igreja.

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MDB perde volume, mas continua como sigla com mais prefeituras

Renan Truffi

17/11/2020

 

 

Para Baleia Rossi, ganhar por muito ou pouco em um sistema de votos corridos é vitória

Conhecido por ser um partido municipalista, o MDB manteve a tradição e a dianteira nas eleições deste domingo. A legenda conquistou o maior número de prefeituras entre todas as siglas, 773, assim como recebeu o apoio mais expressivo dos eleitores no país, aproximadamente 10,9 milhões de votos. Apesar da liderança, os números também mostram uma queda expressiva em quase todos os índices eleitorais, se compararmos com o desempenho de 2016. Uma das explicações é o crescimento de partidos do chamado "Centrão", como PP, PSD e Republicanos.

A vitória do MDB significou, na realidade, uma redução de 25% das prefeituras conquistadas há quatro anos. Na época, o partido elegeu prefeitos em 1.035 municípios, 262 a mais do que agora. A vitória também é menos expressiva do que as registradas em 2012 (1.015 prefeituras) e 2008 (1.194), o que evidencia a trajetória descendente da legenda.

Neste cenário, a sigla que sempre teve o exército mais expressivos de prefeitos passou a ser seguida de perto pelo PP, que passou de 495 para 682 prefeituras, e PSD, que cresceu de 537 para 650. O Republicanos também teve crescimento significativo (acréscimo de 102% em número de prefeituras), mas está um pouco abaixo nesta lista porque comandará 208 cidades a partir desta eleição.

O recuo afetou também o número total de eleitores do MDB. O partido está na frente de outras agremiações com 10,9 milhões de votos recebidos, mas não chegou perto de repetir o desempenho passado. Na ocasião, a legenda atingiu 17,7 milhões de votos. O mesmo se viu em relação aos vereadores eleitos pelo partido. Foram 6.489 neste ano, ante 7.571 em 2016.

Em relação às capitais brasileiras, o cenário ainda é incerto. Os emedebistas irão disputar sete capitais neste segundo turno, mas até agora não garantiu nenhuma delas. Em 2016, a legenda obteve uma capital no logo no primeiro turno e, posteriormente, outras três, o que deu à sigla quatro capitais no total. Ao Valor, o presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (MDB-SP), enalteceu o resultado.

“O MDB saiu da eleição com uma vitória gigante. Elegeu o maior número de prefeitos, de vices, de vereadores e fomos o partido mais votado do Brasil. O MDB, quando todos achavam que perderia, saiu muito fortalecido da eleição porque tem características municipais, a pauta municipalista, bons gestores, que entregam resultado”, disse.

Baleia Rossi também explicou o número menor de prefeitos em comparação com a eleição de 2016. Segundo ele, muitos gestores deixaram a legenda porque não tinham fidelidade partidária. “Nesta eleição, está mais fidelizado. [Os prefeitos] não trabalhavam para parlamentares do MDB, não tinham fidelidade partidária. Tanto é que muitos deles saiu do partido depois da última eleição, não fazem falta nenhuma”, acrescentou.

O presidente do MDB também comentou o avanço do Centrão nos municípios. Segundo ele, essas siglas diziam que ultrapassariam o MDB, mas não conseguiram. Ele recorreu ao futebol para explicar o cenário. “Nos pontos corridos, ganhar com 10 pontos ou 5 pontos à frente ainda é vitória”, disse.