Correio braziliense, n. 20962, 14/10/2020. Política, p. 4

 

Salles: governo fiscaliza 6% do Pantanal

Bruna Lima 

14/10/2020

 

 

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que o governo federal é responsável por fiscalizar apenas 6% do Pantanal e reforçou que a “grande causa das queimadas é o problema da estiagem”. A declaração foi dada em audiência pública da comissão temporária externa que trata dos incêndios no bioma.

“Excesso de calor, tempo seco, ventos fortes trouxeram essas queimadas ao patamar que assistimos este ano e, infelizmente, desencadearam os danos ambientais à fauna e à flora que vêm sendo testemunhados”, afirmou o ministro, citando as três visitas que fez a Mato Grosso e a Mato Grosso do Sul, na companhia de parlamentares da comissão.

Ao contrário do que sustenta Salles, o motivo das queimadas vai além da estiagem. A Polícia Federal e gestores do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul que investigam as origens já apontam que houve incêndios causados pela queima intencional de vegetação para criação de área de pasto. Outra linha investigativa é de perda de controle das chamas por proprietários rurais autorizados a realizar as queimadas.

O presidente da Comissão de Meio Ambiente (CMA), senador Fabiano Contarato (Rede/ES), criticou a gestão de Salles. “O ministro do Meio Ambiente entrou para a história ao operar um verdadeiro desmonte na área ambiental. Isso é muito grave e muito triste, porque está sendo violado um direito humano essencial, um direito constitucional. O fogo que atingiu o Pantanal equivale a 20 vezes a cidade de São Paulo”, frisou. Ele citou a extinção do Plano de Combate ao Desmatamento e da Secretaria de Mudanças Climáticas, além da interrupção temporária dos trabalhos do Departamento de Educação Ambiental.

Salles atribuiu o desmonte a governos passados. “O nosso esforço tem sido de dar maior eficiência ao processo sancionador, de fiscalização ambiental. Não há desmonte. Nós recebemos esse desmonte”, rebateu.

O ministro defendeu o uso de retardantes de fogo para apagar os incêndios na Chapada dos Veadeiros (GO), o que não foi previamente acordado com o estado, segundo o governo de Goiás. A utilização de produtos químicos no combate às chamas tem sido colocada como alternativa e suscitado um novo debate, já que não existe uma legislação nacional que defina parâmetros e condições de aplicação deles.