Valor econômico, v. 21, n. 5128, 16/11/2020. Destaque, p. B9

 

Covid continua impactando faculdades

Beth Koike

16/11/2020

 

 

Setor é afetado por perda de alunos, inadimplência, ações judiciais e procura por cursos mais baratos

Por mais um trimestre, o ensino superior privado foi afetado pela pandemia. Os impactos vão desde perda de alunos, inadimplência e migração para cursos mais baratos até ações judiciais obrigando as instituições de ensino a concederem descontos em mensalidades. Entre os grandes grupos com ação em bolsa, Cogna e Ser Educacional registraram perdas e Yduqs teve queda no lucro.

O efeito negativo maior foi sentido pela Cogna, líder do setor, que saiu de um lucro líquido de R$ 135 milhões para um prejuízo ajustado (sem efeito contábil) de R$ 162,8 milhões provocado pelo desempenho dos cursos presenciais. A base de matriculados nessa modalidade caiu 29,5% quando comparada ao mesmo período de 2019. O prejuízo reportado foi de R$ 1,29 bilhão, afetado por baixas contábeis de R$ 831 milhões, relativas a perdas no valor recuperável de ativos na divisão de ensino básico e em outros negócios, além da baixa de imposto de renda diferido, sem efeito caixa.

A Ser Educacional registrou, entre julho e setembro, um prejuízo de R$ 28 milhões contra um lucro líquido de R$ 23,4 milhões um ano antes. Excluindo as aquisições, a base de alunos do grupo com forte atuação no Norte e Nordeste caiu quase 10% e a taxa de taxa de evasão aumentou dois pontos percentuais. Com a pandemia, o calendário do ano letivo do segundo semestre atrasou, o que levou muitos estudantes a realizarem suas matrículas somente em outubro, ou seja, já no quarto trimestre.

A Yduqs, segunda maior companhia de ensino superior do país, dona da Estácio, foi duramente afetada por liminares e uma legislação no Rio que obriga as instituições a concederem descontos de 30% em mensalidades durante a pandemia. No terceiro trimestre, essas ações judiciais movidas pelo Procon e Defensoria Pública do Rio impactaram a receita do grupo carioca em R$ 79,3 milhões. O lucro líquido da companhia caiu 26%, para R$ 112,5 milhões entre julho e setembro. No trimestre anterior, a companhia já havia concedido bolsas no valor total de R$ 67,5 milhões para cerca de 30 mil alunos que perderam renda com a covid.

A Cogna, dona das escolas pH, uma das principais redes no Rio, também foi afetada pelas ações. A linha de descontos - que inclui tanto os abatimentos concedidos por força da lei quanto os cedidos de forma de forma voluntária por desempenho acadêmico - aumentou 74% para R$ 47 milhões.

A Ânima conseguiu, novamente, destoar das demais companhias listadas. A empresa reverteu o prejuízo de R$ 2,5 milhões do ano passado para um lucro líquido de R$ 1,8 milhão no terceiro trimestre, e a receita líquida avançou 19,5%, o melhor desempenho entre as empresas abertas de educação. Caso não tivesse sido afetada pelas liminares, a Yduqs teria crescido 26,7%.

A base de alunos da Ânima caiu apenas 1%, ao contrário, de suas concorrentes que registraram perdas mais expressivas, quando se considera exclusivamente o desempenho orgânico, ou seja, sem influência das aquisições. A principal explicação para o desempenho melhor é que a companhia atua com um público de maior poder aquisitivo, que sofreu menos com a perda de renda na pandemia. No terceiro trimestre, o valor médio das mensalidades na Ânima ficou em R$ 935, acima das suas rivais. Na Cogna, o tíquete médio é de 734; na Yduqs é de R$ 765; e na Ser Educacional, R$ 628.

O ponto em comum entre as quatro companhias é que todas viram a base de alunos de educação a distância subir, o que ajudou a compensar as perdas do presencial. Na Cogna, o crescimento foi de 18,6%; na Ser Educacional, de 62,4%; e na Yduqs, de 56%. Com o isolamento social que obrigou os alunos a migrarem para aulas on-line, essa modalidade vem ganhando maior adesão.