O globo, n. 31844, 13/10/2020. Sociedade, p. 9

 

Desmatamento supera o ritmo de recuperação da Floresta Amazônica

13/10/2020

 

 

Cientistas brasileiros e britânicos descobrem que matas jovens não absorvem todo o COZ que se estimava devido a devastação; árvores secundárias também são alvo de derrubada

 Na Amazônia, o desmatamento é tão crítico que as chamadas matas secundárias, nascidas em áreas desmatadas, “não desistem”, segundo a expressão da Ribeira do Pará para dizer que algo é insuficiente. Nesse caso, eles não podem crescer na taxa e no volume necessários para absorver significativamente o carbono do desmatamento e ajudar a controlar as mudanças climáticas.

A descoberta é de cientistas brasileiros e britânicos. Eles identificaram que as florestas secundárias absorveram menos de 10% do carbono emitido pelo desmatamento nos últimos 30 anos. O estudo foi publicado na revista científica Global Change Biology.

Existem duas razões principais para a baixa absorção de carbono. O primeiro é o alto índice de desmatamento, a extração de madeira avança muito mais rápido do que a capacidade de recuperação da floresta amazônica. A segunda é que as florestas secundárias também são o alvo da exploração madeireira, derrubada ainda muito jovem.

- As estimativas da capacidade de absorção de CO2 das florestas secundárias foram mais otimistas do que a realidade. Isso aconteceu porque eles estavam localizados em áreas de muita floresta. Mas a maior parte dessas florestas está na linha de frente do desmatamento - explica Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental, que estuda conservação florestal em áreas de expansão da Agricultura.

As florestas secundárias ou capoeiras (Tupi “Mato baixo”) ocupam uma área de aproximadamente 130 mil quilômetros quadrados, dos 700 mil quilômetros quadrados que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) estima terem sido desmatados na Amazônia.

Uma área três vezes maior que a do Estado do Rio de Janeiro é coberta por essas capoeiras, que se estendem nas bordas de frentes de desmatamento ou como ilhotas em oceanos de terra arrasada, longe de florestas primárias, que operam como bancos de sementes. E se isso não bastasse, a maioria deles tem vida curta.

A autora principal deste trabalho, Charlotte Smith, da Lancaster University (Reino Unido), observa que o potencial de absorção de carbono das florestas secundárias é imenso. No entanto, leva tempo para armazenar grandes quantidades de CO2, e a intensa taxa de desmatamento não lhes deu esse tempo e desperdiçou seu potencial.

O especialista em florestas tropicais Jos Barlow, da Universidade de Lavras (MG), afirma que, na Amazônia, 85% das florestas secundárias não chegam aos 20 anos e cerca da metade tem menos de 5 anos. Isso acontece porque esses matagais costumam ser cortados.

Exemplos disso são facilmente visíveis, por exemplo, ao longo da BR-158, na região onde Mato Grosso encontra o Pará, em meio ao desmatamento. Um tronco fino como o braço de uma criança e um pouco mais alto que um homem adulto, os arbustos facilmente caem para dar lugar ao pasto.

Esses arbustos, assim como as matas secundárias, são como crianças antes do amadurecimento da origem das florestas amazônicas.

- Uma floresta secundária é como uma criança, ela cresce rapidamente, mas leva tempo para acumular massa e carbono. Por outro lado, as florestas primárias, perenes e maduras retêm muito carbono armazenado - diz Ferreira.

Os cientistas usaram dados abertos do MapBiomas para calcular a idade, o estoque de carbono e a idade das florestas secundárias na Amazônia brasileira. Eles estudaram o período de 1986 a 2017. A intensificação do desmatamento ocorrida em 2019 e 2020, portanto, não foi incluída nesta conta.

No entanto, o resultado é preocupante e dá uma ideia da dimensão do desafio que temos pela frente.