O globo, n. 31841, 10/10/2020. País, p. 14

 

Para Mourão, Ustra 'respeitava os direitos humanos'

10/10/2020

 

 

OAB e entidades da sociedade civil repudiam fala do vice-presidente sobre coronel condenado por tortura na ditadura militar

  O presidente da O vice, Hamilton Mourão, afirmou, em entrevista ao jornal alemão "Deutsche Welle", que o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado por tortura na ditadura militar, foi um "homem de honra" "" que respeitou os direitos humanos de sua subordinados ".

O militar, falecido em 2015, aos 83 anos, é apontado por dezenas de perseguidores políticos e familiares de vítimas do regime militar como responsáveis ​​pela tortura e morte de opositores do golpe de 64. O dossiê da ditadura, do Comissão de parentes de mortos e desaparecidos políticos, relata o coronel Ustra com 60 casos de mortes e desaparecimentos em São Paulo. A Arquidiocese de São Paulo, por meio do projeto Brasil Nunca Mais, denunciou mais de 500 casos de tortura cometidos nas dependências do Doi-Codi durante o período em que Ustra foi comandante, de 1970 a 1974. - O que posso dizer sobre o homem Carlos Alberto Brillante Ustra ... Foi meu comandante no final dos anos 70 do século passado, era um homem de honra e respeitava os direitos humanos dos seus subordinados. Muitas das coisas que as pessoas falam sobre ele, Mourão na entrevista. Mourão afirmou que a tortura não é uma prática que o governo brasileiro concorde ou "simpatize", mas disse que muitas pessoas que lutaram contra a guerrilha urbana nas décadas de 60 e 70 foram "injustamente acusadas de serem torturadoras".

- Muita gente daquela época ainda está viva, e todos querem colocar as coisas do jeito que viram. Temos que esperar que todos esses atores desapareçam para que a história faça sua parte. Precisamos de mais 50 anos para que este período seja bem avaliado - disse ele, acrescentando que democracia é uma das metas nacionais que permanente o governo quer fazer do Brasil a "democracia mais brilhante do Hemisfério Sul"

 CRÍTICA E REPUDIAÇÃO

Líderes e entidades que atuam na defesa dos direitos humanos criticaram as declarações feitas ao jornal alemão. Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, os elogios feitos por Mourão a Ustra mostrariam que o vice-presidente "não liga" com os crimes atribuídos aos militares. "Quando alguém o homenageia, a pessoa não está negando que torturou seres humanos, ele apenas revela que não se importa com isso", disse Santa Cruz, cujo pai desapareceu durante a ditadura militar, em um post no Twitter. Em 2019, Felipe recebeu uma certidão de óbito da Comissão de mortos e desaparecidos dizendo que a morte de seu pai foi violenta e causada pelo Estado brasileiro. Em nota, a Human Rights Watch no Brasil também expressou repúdio às declarações de Mourão. "Junto com o presidente Jair Bolsonaro, o vice-presidente Mourão tenta esconder os fatos e reescrever a história do Brasil," dizia a nota. Em nota conjunta, o Instituto Vladimir Herzog e a organização não governamental Conectas classificaram o posicionamento de Mourão como "inaceitável". "É inaceitável que o vice-presidente da República se valha de uma tentativa de um revisionismo histórico absurdo como este, que busca reescrever a biografia de um dos personagens mais cruéis e abomináveis ​​da história de nosso país", dizia um trecho da nota.