O globo, n. 31840, 09/10/2020. País, p. 12

 

Conselheiro presidencial e favorito para ministério

Naira Trindade

09/10/2020

 

 

QUEM É Flávio Rocha, SECRETÁRIO DE ASSUNTOS ESTRATÉGICOS

Favorito à cadeira de ministro da SecretariaGeral da Presidência com a provável ida de Jorge Oliveira para o Tribunal de Contas da União (TCU), o secretário de Assuntos Estratégicos do governo, Flávio Rocha, se transformou em pouco tempo em um dos principais conselheiros do presidente Jair Bolsonaro.

Com um perfil discreto, Rochinha, como é conhecido pelos mais próximos, conquistou a confiança de Bolsonaro ao trabalhar para diminuir os pontos de tensão existentes no Palácio do Planalto.

Sempre ao lado do presidente nas agendas diárias —ele aparece em praticamente todas as fotografias de agendas públicas do gabinete presidencial —, Rocha é apontado como peça fundamental na construção do “armistício patriótico” iniciado no governo logo após as operações que atingiram familiares do presidente e deputados bolsonaristas, em junho.

Nos bastidores, o auxiliar presidencial já atuou para distensionar antigas crises. Aproveitou o acesso que tem a parlamentares — Rocha, que é almirante, já foi chefe da assessoria parlamentar da Marinha na Câmara, onde conheceu Bolsonaro —e também a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para dialogar em prol de uma união entre os Poderes.

Partiu dele a ideia, por exemplo, de convidar o expresidente Michel Temer para chefiar, em agosto, a missão oficial brasileira que ofereceu ajuda aos libaneses após a grande explosão no porto de Beirute, no Líbano, deixando cerca de 170 mortos e 4 mil feridos.

Aliás, a sugestão inicial, segundo fontes, surgiu em um jantar do qual Rocha participara em São Paulo, na casa do suplente de senador Luiz Osvaldo Pastore (MDB-ES). Rocha atuou em tudo: ligou para Temer, oficializou o convite, organizou a viagem e ainda acompanhou o ex-presidente na missão.

Dono do melhor caderno na época escolar —todos pediam emprestado para copiar as lições, devido ao capricho na grafia —, Rocha fala seis línguas e é tido pelos seus amigos como alguém com uma inteligência acima da média. A aliados, ele justifica ter aprendido tantos idiomas pela perseverança da mãe, que queria que ele fosse diplomata.

O cearense de Fortaleza preferiu seguir a carreira militar. Foi declarado Guarda-Marinha em dezembro de 1984, ainda jovem, e não pretende sair tão cedo, nem caso vire ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Apesar de o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, ter decidido seguir para a reserva, atualmente não há pressão no Planalto para que Rocha também deixe a Marinha caso assuma o posto.

No mês passado, o secretário deu mais uma mostra da boa relação que mantém entre os Poderes. Logo após a cerimônia da Independência, abriu a casa para um almoço de despedida de Dias Toffoli da presidência do STF. Bolsonaro, Jorge Oliveira e outros seis ministros participaram: Paulo Guedes (Economia), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), Augusto Heleno (GSI), Bento Albuquerque (Minas e Energia), Tereza Cristina (Agricultura) e Fábio Faria (Comunicações).

NO FIM DO ANO

A boa relação com a cúpula do poder conta a favor de Rocha para a vaga de Jorge Oliveira. A aposta no governo, porém, é de que o presidente não deve anunciar o nome do escolhido antes da sabatina de Oliveira no Senado. Caso aprovado, o titular da Secretaria-Geral ainda pode permanecer no cargo até 31 de dezembro, quando o ministro José Múcio se aposentará do TCU.