O globo, n. 31839, 08/10/2020. País, p. 15

 

Total de indígenas candidatos cresce 27% em relação a 2016

Vitor da Costa

08/10/2020

 

 

Número passou de 1.715 para 2.177, de acordo com dados do TSE

 O número de candidatos que se declararam indígenas nas eleições municipais deste ano aumentou 27% em relação ao último pleito, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Até o momento, 2.177 candidatos já solicitaram o registro, contra 1.715 das eleições anteriores. Candidatos e representantes do movimento indígena enxergam a alta como um contraponto aos ataques sofridos nos últimos anos e à política do governo Bolsonaro sobre questões ambientais.

Os 2.177 candidatos indígenas estão distribuídos em 32 partidos. O PT lidera esse ranking, com 263 candidaturas, seguido pelo MDB e o PP, ambos com 152. Os dados, porém, representam uma parcela ínfima do número de candidatos que esses partidos lançam. As 263 candidaturas petistas, por exemplo, representam apenas 0,96% do total de petistas que já solicitaram o registro. As 152 de MDB e PP constituem 0,33% e 0,39%, respectivamente. O partido que mais lança indígenas proporcionalmente é o PSTU. O baixo número de candidaturas no total, 204, ajuda a explicar o número.

Ariane Sussui, 23 anos, vai tentar pela primeira vez uma vaga na Câmara Municipal de Boa Vista (RR). Da etnia Wapichana, ela começou na política ao fazer trabalho voluntário na campanha da agora deputada federal Joenia Wapichania (Rede-RR).

—Em Boa Vista, nunca tivemos um representante indígena, apesar dos quase 20 mil indígenas que moram aqui. A gente precisa estar nos espaços de decisão —diz Ariane.

Em 2018, Joenia foi a primeira mulher indígena a ser eleita no país, com 8.491 votos. Após quase dois anos de mandato, ela acredita que os ataques do governo federal a povos indígenas e a sua própria eleição influenciaram no aumento de candidaturas.

— Este movimento é possível, mesmo estando em um partido pequeno, sem poder econômico. As candidaturas são motivadas pela defesa não só dos interesses indígenas, mas dos seus direitos —diz a deputada.

Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), as condições por que passam os povos indígenas na pandemia do coronavírus são desdobramentos do descaso com estes interesses. Segundo levantamento da entidade, mais de 830 indígenas já morreram pela Covid-19.

Para Dinaman Tuxá, coordenador executivo da Apib, a dificuldade para o acesso à internet pode prejudicar algumas candidaturas. Mas a presença dos indígenas nas urnas é um contraponto aos ataques sofridos ao longo de anos:

—É estratégico e necessário que a gente ocupe essas cadeiras para fazer o enfrentamento a esse autoritarismo. Já fazíamos isso fora da política de partidos e agora temos que fazer dentro.