O globo, n. 31838, 07/10/2020. País, p. 12

 

 

Parlamentares bolsonaristas tentam eleger seus parentes

Fernanda Alves

Rayanderson Guerra

07/10/2020

 

 

Críticos da “velha political Otoni de Paula e Carla Zambelli pedem votos para o pai e o irmão nas eleições de Rio e São Paulo

 Eleitos na onda bolsonarista de 2018 com o apoio do presidente, parlamentares tentam agora formar seus próprios clãs nas eleições municipais deste ano. Críticos de práticas do que chamavam de “velha política” ao se candidatar há dois anos, alguns deputados tentames tendera presença familiar em cargo seletivos, uma das marcas da política tradicional no país.

Os deputados federais Otoni de Paula (PSC-RJ) e Carla Zambelli (PSL-SP) fazem campanha por pais, irmãos e até cunhada. Otoni, que não conseguiu se lançar candidato a prefeito do Rio, está empenhado em eleger o pai vereador. Ele usa seus perfis em redes sociais, que somam mais de um milhão de seguidores, para pedir apoio ao pai, que se apresenta como Otoni de Paula Pai. Ele é candidato pelo Solidariedade, que está na coligação do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos).

Em vídeo compartilhado por Otoni Pai, ele aparece ao lado do filho em meio a imagens do presidente Jair Bolsonaro após a campanha presidencial. Enquanto as fotos são exibidas, o locutor dá um recado: “Já aprendemos a lição votando em traíras e mentirosos. Bolsonaro sozinho não vai conseguir mudar as leis. Vote no legítimo representante da direita no Rio de Janeiro”.

A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que tem feito campanha em suas redes sociais para o irmão Bruno Zambelli (PRTB), candidato a vereador em São Paulo, tem também outros dois membros da família na disputa.

OS CLÃS JORDY E POUBEL

A cunhada Tatiane Flores Zambelli (PTB), mulher de Bruno, também concorre ao cargo de vereadora, só que em Mairiporã, no interior de São Paulo. A deputada divulgou um vídeo de apoio à candidatura de Tatiana no Instagram.

— Ela está na família há mais de 18 anos, já é uma irmã pra mim. Tati é conservadora, é uma pessoa maravilhosa, sempre me apoiou muito na política. Família que é conservadora trabalha junto —fala a deputada.

Tatiana Flores, que não expõe em suas redes o casamento com Bruno Zambelli, conta no vídeo que a cunhada foi sua grande inspiração para que tomasse a decisão de entrar na política.

— Tu foi a pessoa que mais influenciou. Estivemos juntas, acompanhei o seu trabalho desde sempre —diz.

Também em Mairiporã, cidade de aproximadamente cem mil habitantes onde Carla Zambelli morou durante a infância, o pai da deputada, João Hélio (Patriota), será candidato a vice prefeito. Para fazer valer sua influência política na disputa, Carla Zambel litem participado de eventos na cidade e chegou agrava rum vídeo ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em apoio ao pai.

O deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ) também usa a popularidade que ganhou nesses dois ano semeio como integrante da base do presidente na Câmara para apoiar a candidatura do irmão, Renan Leal (Podemos). Ele disputa uma vaga como vereador em Niterói, Região Metropolitana do Rio, posto que já foi ocupado pelo irmão, eleito em 2016, mas que deixou o cargo após vencera eleição para deputado federal, em 2018.

“Visando preencher o vazio político deixado pelo seu irmão Carlos Jordy,(Renan Leal) aceitou a missão dada por suas lideranças políticas, colocando-se à disposição da população niteroiense para dar continuidade ao seu trabalho na Câmara Municipal de Niterói”, diz o texto em apoio à candidatura, publicado no perfil do Instagram de Carlos Jordy.

Quem também tenta eleger o irmão é o deputado estadual Filippe Poubel (PSL -RJ), que tem pedido votos para Glauber Poubel (PSD), candidato a vereador em São Gonçalo.

— Você que simpatiza com o meu trabalho fiscalizando, preciso ter esses braços nas câmaras municipais, principalmente aqui em São Gonçalo—diz, ao endossar a candidatura do irmão.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Davi joga seu capital político na campanha do irmão

Julia Lindner

Bernardo Mello

07/10/2020

 

 

Presidente do Senado articulou apoio de 11 partidos a Josiel Alcolumbre para prefeito de Macapá, contra o ex-senador João Capiberibe

 Ao mesmo tempo em que tenta viabilizar sua reeleição à presidência do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) pôs um pé nas eleições municipais através da candidatura do irmão, Josiel, à prefeitura de Macapá pelo DEM. Na disputa pela capital do Amapá, vista como crucial para as pretensões políticas de Alcolumbre, o novato Josiel tem como principal adversário o ex-senador João Capiberibe, conhecido como Capi (PSB), que foi prefeito e governador.

Segundo aliados, após a derrota na disputa ao governo estadual em 2018, Alcolumbre deve tentar novo mandato no Senado em 2022. Para fortalecer sua base local, o presidente do Senado se aproximou do atual prefeito de Macapá, Clécio Luís. Após declarar apoio ao irmão de Alcolumbre, Clécio rompeu com o senador Randolfe Rodrigues (RedeAP), seu aliado de longa data, que optou pela candidatura de Capiberibe. Segundo interlocutores, há um acordo para que Clécio dispute a eleição ao governo estadual com a ajuda dos irmãos Alcolumbre.

O atual governador Waldez Goés (PDT), que esteve no lado oposto ao de Alcolumbre nas últimas eleições, também integra a aliança pela candidaturade Josiel, quereúne 11 partidos: PDT, PSC, PL, PV, PSDB, PSD, Solidariedade, PROS, Avante, Republicanos e PP, além do DEM. Após se eleger presidente do Senado, Alcolumbre se solidarizou a Góes em questões locais.

Apesar da aproximação de Alcolumbre com o governo federal, Josiel tem procurado manter uma “distância segura” em relação ao bolsonarismo. Outros candidatos, como Patrícia Ferraz (Podemos), Cirilo Fernandes (PRTB) e Haroldo Iram (PTC) já se posicionam como bolsonaristas.

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) acenou em apoio ao irmão de Alcolumbre, mas não há previsão de manifestação direta no Planalto. Segundo um ministro do governo, o presidente do Senado não tratou do assunto com Bolsonaro. Às vésperas do lançamento de sua candidatura, em setembro, Josiel fez uma live em que o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, desafeto de Bolsonaro, acenou com apoio à candidatura.

Empresário e dono de uma emissora de TV em Macapá, Josiel Alcolumbre é suplente de Davi no Senado. Acostumou-se a sentar numa das três cadeiras reservadas a senadores do Amapá, mesmo sem mandato. Foi ali que, segundo um aliado da época, Josiel acompanhou votações como o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, e a eleição do irmão à presidência da Casa, em 2019.

— Fiquei esse tempo todo como suplente do senador Davi fazendo uma ponte entre o prefeito de Macapá, o governo do Amapá com a bancada em Brasília. Tenho a legitimidade do voto para fazer essa interlocução —afirmou Josiel.

Em dezembro, quando o irmão já estava em pré-campanha, Alcolumbre carimbou uma verba extra de R$ 112,7 milhões do Ministério do Desenvolvimento Regional para Macapá, como revelou o site “O Antagonista”. O subprocurador-geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, Lucas Rocha Furtado, pediu para apurar “indício de direcionamento e favorecimento a essa região” por conta da candidatura de Josiel. À época, o presidente do Senado afirmou que “não há a menor dúvida da legalidade da ação”, que seria para “desenvolver o Amapá”.

Já um processo que tramita no Tribunal Superior Eleitoral pede a cassação da chapa de Alcolumbre ao Senado em 2014 por abuso de poder econômico e caixa dois. Entre as possíveis irregularidades, diz o MP, estão gastos declarados em empresas da família, incluindo uma despesa de R $2,5 mil com a emissora de TV de Josiel para “confecção de materiais gráficos”. Dois inquéritos relacionados ao caso foram arquivados no Supremo Tribunal Federal em 2019. Alcolumbre nega irregularidades.