Valor econômico, v. 21, n. 5122, 06/11/2020. Política, p. A11

 

Apagão elétrico provoca caos e troca de acusações no AP

Renan Truffi

Vandson Lima

06/11/2020

 

 

Alcolumbre pede ajuda de Bolsonaro para tentar resolver crise

Um apagão elétrico bagunçou o cenário eleitoral no Amapá a dez dias do pleito municipal. Pelo menos 13 dos 16 municípios estão sem energia há mais de 24 horas, o que afetou hospitais, postos de gasolina, gerou desabastecimento e até relatos de saques no comércio. A crise sem precedentes também provocou uma disputa de narrativas sobre a responsabilidade da classe política local. O governo Jair Bolsonaro foi cobrado a dar suporte para seus aliados - o principal deles, no caso, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Uma das consequências pode ser até mesmo o adiamento do primeiro turno das eleições.

A falta de eletricidade começou gradualmente na terça, quando um incêndio atingiu uma subestação de energia na região da capital. O desligamento de energia foi necessário por conta dos problemas nos transformadores. De acordo com fontes locais, apenas alguns estabelecimentos estão abertos porque operam com gerador de energia. Isso provocou grandes filas, sendo algumas delas com mais de um quilômetro. Segundo o portal “G1”, há relatos de pessoas tentando estocar água potável, o que lotou alguns estabelecimentos comerciais.

O transtorno levou à troca de acusações entre os candidatos. As pesquisas de intenção de voto mostram certa vantagem para Josiel Alcolumbre (DEM), candidato a prefeito de Macapá e irmão do presidente do Senado. Mas a liderança tornou a família Alcolumbre vidraça para seus adversários. Como Josiel tem o apoio do atual prefeito da capital, Clécio Luis (sem partido), e do governador, Waldez Goes (PDT), ele passou a receber as reprimendas pela desordem.

“O incêndio pode ter sido culpa do raio. O apagão que nos afetou há quase dois dias inteiros é culpa da má gestão: não havia e não há reserva na subestação de rebaixamento. Junto com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), pedimos investigação e responsabilização. A gestão da Eletronorte no Amapá é indicação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Depois de ter plantado a ineficiência, quer ‘vender’ a solução”, escreveu nas redes sociais o deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP), filho de João Capiberibe (PSB), que disputa a Prefeitura de Macapá contra Josiel.

Alvo das reclamações, Davi Alcolumbre procurou mostrar vigor político. O Valor apurou que ele acionou o presidente Jair Bolsonaro na quinta. Diante do alerta, o Palácio do Planalto ofereceu suporte ao seu aliado de primeira linha. Bolsonaro também determinou a criação de um gabinete de crise e autorizou a equipe do Ministério de Minas e Energia (MME), incluindo o titular da pasta, Bento Albuquerque, a viajar até a capital amapaense.

A assessoria de imprensa do presidente do Senado nega que ele seja responsável pelas indicações na Eletronorte. Além disso, assessores próximos de Alcolumbre rebatem as críticas de que ele seria responsável pelo “sucateamento” da energia no Estado. “O Capiberibe já foi governador e senador pelo Estado e agora quer responsabilizar o Davi”, devolveu um aliado.

A crise pode levar até mesmo ao adiamento das eleições municipais, com primeiro turno previsto para o dia 15. O grupo político do ex-governador João Capiberibe pedirá ao Tribunal Regional Eleitoral que avalie a remarcação do pleito. A possibilidade já havia sido levantada por conta do aumento de casos de covid-19 nas últimas semanas, e se agrava diante do quadro dramático da falta de energia.

A emenda constitucional (PEC) que adiou as eleições no Brasil este ano, de outubro para novembro, prevê que, caso municípios e Estados não tenham condições de realizá-las na data prevista, estas podem ocorrer até 27 de dezembro. “O TRE precisa fazer uma avaliação concreta da viabilidade da eleição daqui a dez dias”, alerta Camilo Capiberibe.

O ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) informou ontem que levará 30 dias para restabelecer 100% do fornecimento da energia em todo o Amapá. O ministro explicou que o governo federal acionará a Força Aérea Brasileira (FAB) para transportar “máquinas especiais” para recuperar o funcionamento dos transformadores danificados. Um deles deve ser consertado hoje. O atendimento deve ser ampliado entre 60% a 70% da oferta de energia em condições normais.