O globo, n. 31837, 06/10/2020. País, p. 10

 

Bolsonaro promete ajudar Russomanno “no que for preciso”

Gustavo Schmitt

06/10/2020

 

 

Em visita a São Paulo, presidente se reúne com candidato a prefeito e anuncia decisão de entra de vez na campanha

 Após uma rápida reunião no salão de autoridades do aeroporto de Congonhas, ontem, o presidente Jair Bolsonaro selou a sua entrada, já no primeiro turno, na campanha do candidato do Republicanos à prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno. Bolsonaro se comprometeu a ajudar o “amigo no que for preciso”.

Desde o início do ano, o presidente vinha dizendo que não se envolveria nas campanhas municipais. Russomanno lidera numericamente as pesquisas de intenção de voto em São Paulo, seguido por Bruno Covas (PSDB).

—Eu não pretendia entrar nas decisões de eleições municipais, mas Celso Russomanno é amigo de velha data e estou pronto pra ajudar no que for preciso — afirmou Bolsonaro, ao lado de Russomanno, após desembarcar em Congonhas.

Russomanno afirmou que o presidente se sensibilizou após Covas formar o que chamou de “frente antiBolsonaro”. O prefeito montou uma chapa com 11 partidos, entre eles o MDB e DEM, e deu o nome de Frente Ampla Centro Liberal. O tucano tem evitado nacionalizar a disputa, mas a sua coligação é vista como o ensaio de uma união que pode se repetir na eleição presidencial de 2022. Aliado de Covas, o governador João Doria (PSDB) sonha em concorrer à presidência.

—Falamos sobre eleições e ele disse que não pretendia entrar no primeiro turno. Mas diante dessa frente que foi criada pelo Bruno e pelo Doria pra fazer oposição a ele (Bolsonaro), ele vai entrar na minha campanha no primeiro turno — disse Russomanno.

O candidato não deu detalhes sobre como será o apoio e se haverá gravações do presidente para o programa eleitoral gratuito. Russomanno ainda criticou a frente formada por Covas.

— O que é triste é terem armado uma frente para combater o presidente Bolsonaro usando a prefeitura, inclusive pra fazer esse tipo de coisa. Não é assim que se faz política. Então essa frente que eles estão criando vai dar em absolutamente nada.

Russomanno tem se apresentado como o único candidato capaz de conseguir atrair recursos federais para São Paulo e voltou falar do auxílio paulistano. O benefício seria um complemento ao auxílio emergencial, já pago pelo governo federal, e que é apontado por especialistas como motor para a alta de popularidade do presidente nos últimos meses. Ele disse que o pagamento seria possível por meio da renegociação da dívida da prefeitura com a União.

— Vamos sair dessa pandemia com uma quantidade imensa de desempregados e os recursos do governo federal têm que vir pra São Paulo. Hoje, não vem nada porque o governo não conversa com o presidente. E o prefeito também não conversa com o presidente.

O apoio de Bolsonaro a Russomanno foi desenhado nas últimas semanas. No mês passado, o presidente chegou a tentar interferir no PSL, seu antigo partido, para ceder a vice a Russomanno e aumentar seu tempo de TV. Sem sucesso, convenceu o PTB a se aliar ao candidato. Segundo o presidente do PTB, Campos Machado, Bolsonaro frisou que a candidatura de Russomanno seria estratégica para polarizar com Doria.

Segundo estrategistas de sua campanha, Russomanno funciona para Bolsonaro não só como um candidato que pode derrotar o PSDB de Doria, mas como um aliado que pode ajudar a quebrar a resistência ao presidente na cidade, sobretudo nas região da periferia, onde o apresentador tem muita densidade eleitoral.

BOA AVALIAÇÃO

Num desdobramento da última pesquisa Ibope, Russomanno aparece com vantagem entre os eleitores que aprovam a gestão de Bolsonaro. Nesse cenário, 36% declaram apoio ao candidato do Republicanos. Já entre quem considera como negativa a administração do presidente, o apoio à campanha de Celso Russomanno cai para 17%.

O Ibope ainda comparou a intenção de voto do paulistano de acordo com a avaliação do presidente em relação aos demais candidatos que disputam a corrida à prefeitura de São Paulo.

No caso do prefeito Bruno Covas, por exemplo,o tucano vai de 20% para 22%, respectivamente, entre os que consideram a gestão de Bolsonaro como positiva e negativa.

Nesse recorte, chama a atenção que entre quem considera a gestão de Bolsonaro positiva, o apoio ao candidato do PSOL, Guilherme Boulos, é de 0%. Quando se avalia entre quem considera negativa a administração federal, o número salta para 17%.

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Evangélicos se dividem no apoio a candidatos na capital paulista

Gustavo Schmitt

Silvia Amorim

06/10/2020

 

 

Russomanno segue com a Universal; Covas tem a Simpatia da Assembleia de Deus

 Primeiro, Celso Russomanno, do Republicanos, cancela sua presença numa cerimônia ontem à noite da Assembleia de Deus Ministério Belém. Em seguida, no mesmo evento, o tucano Bruno Covas é recebido com elogios por lideranças da igreja. A cena retrata a divisão que existe no mundo evangélico paulistano nesta eleição.

Enquanto Russomanno tem o apoio da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), a maior denominação entre as denominações neopentecostais, Covas ganha terreno entre as igrejas concorrentes da Iurd.

A Assembleia de Deus Ministério Belém e Ministério Madureira junto com a Universal são os pesos-pesados na comunidade evangélica em número de fiéis, na cidade de São Paulo. No eleitorado pentecostal e neopentecostal, Russomanno leva vantagem significativa sobre o concorrente.

Enquanto Covas atinge patamar de intenção de voto de 19% nesse eleitorado até o momento, Russomanno passa de 30%. No Ibope teve 34% e no Datafolha 37%. A performance dos demais concorrentes nesse segmento é pouco relevante, conforme dados das pesquisas divulgadas neste início de campanha.

Reservadamente, líderes religiosos têm resistência ao nome de Russomanno por ele não ser evangélico e por não se apresentar como um “conservador raiz”, alguém 100% afinado com a pauta de costumes. Resta saber se o apoio declarado do presidente Jair Bolsonaro pode dar um impulso a Russomanno de modo a vencer as desconfianças.

LADOS OPOSTOS

Outro ponto é uma disputa interna nos segmentos pentecostal e neopentecostal, que coloca em lados opostos a Igreja Universal e a Assembleia de Deus, que competem entre si. Lideranças veem com certa reserva o fortalecimento político do partido de Celso Russomanno, o Republicanos, sob forte influência da Universal, e tentam se contrapor ao projeto de poder do bispo Edir Macedo. O hoje candidato fez carreira na TV defendendo consumidores e é apresentador da TV Record, também controlada pela Igreja Universal.

A Assembleia de Deus Ministério Belém, liderada pelo pastor José Wellington, foi a que promoveu um culto ontem para comemorar seu aniversário com a presença de alguns candidatos a prefeitos como Bruno Covas e Andrea Matarazzo, do PSD, na capital paulista e o presidente Jair Bolsonaro, além do ministro da Educação Milton Ribeiro e da ministra da Família e dos Direitos Humanos, DamAres Alves —os dois últimos são pastores.

O filho do anfitrião e também pastor, José Wellington Júnior, saudou Covas que foi muito aplaudido pelos fiéis:

— Ele (Covas) é muito querido por nós e tem facilitado para que a igreja possa pregar a palavra de Deus —disse Júnior, referindose a autorização dada pelo prefeito para que a igreja abra as portas, mas com regras de distanciamento social e até 40% de sua capacidade nos cultos.

A Assembleia de Deus Ministério Belém não dá sustentação política a Russomanno nesta eleição, tanto que o candidato acabou cancelando sua participação no evento. Ela está dividida entre um apoio a Covas e a Matarazzo. Uma das filhas do pastor José Wellington, Ruth Costa, é candidata a vereadora em São Paulo pelo PSDB, partido do prefeito. Outra filha dele, a deputada Marta Costa, é do PSD e vice de Matarazzo.