Valor econômico, v. 21, n. 5120, 04/11/2020. Brasil, p. A2

 

Eleição nos EUA não afeta política ambiental do Brasil, diz Mourão

Fabio Murakawa

Matheus Schuch

04/11/2020

 

 

Vice viaja hoje à Amazônia com comitiva de ministros e embaixadores estrangeiros

O vice-presidente Hamilton Mourão disse ontem que o resultado das eleições nos EUA não mudará a política ambiental do Brasil. Para ele, o Brasil está “fazendo a sua parte” no combate a desmatamentos, queimadas e ilegalidades na floresta. O vice-presidente admite, no entanto, que gostaria de ter avançado mais no tema.

“Se é [Joe] Biden, se é [Donald] Trump, temos que fazer o certo. Esta é a nossa obrigação como governo do Brasil, fazer com que a lei seja obedecida”, afirmou. “Política ambiental não muda, independentemente se é Trump ou Biden.”

Mourão falou com a imprensa no Palácio Itamaraty, após reunião do Conselho Nacional da Amazônia. Ele preside o colegiado, formado por 15 ministérios, e que foi reativado pelo presidente Jair Bolsonaro em meio a pressões internacionais sobre a política ambiental e à péssima imagem de seu governo nesse quesito.

Questionado sobre o fato de Bolsonaro fazer campanha a favor de Trump, Mourão ressaltou que a relação deve ser entre Estados, independentemente da proximidade ou não entre os presidentes. Biden afirmou que, se eleito, cobrará melhores resultados do Brasil no combate a ilícitos ambientais.

“Nós somos responsáveis por 3% da emissão de gás carbônico do mundo, não somos o vilão”, disse ele. “Estamos fazendo a nossa parte, o nosso trabalho; Nossa relação é de Estado para Estado, havendo simpatias ou não.”

Mais cedo, Mourão comentou também a recente declaração de Biden cobrando resultados do Brasil no combate a desmatamentos.

“Pode ser que a equipe do Biden tenha uma ação mais incisiva, mas vamos lembrar que os EUA estão entre os países que mais emitem gás carbônico no mundo. Então, primeiro eles têm que resolver os problemas deles, para depois vir para o nosso.”

O vice defendeu que a reversão dos números de depredação ambiental não é simples, mas asseverou que está buscando atacar as causas do problema. “Gostaria de dar um resultado melhor, não logramos até o presente momento, mas vamos persistir”.

Na reunião do conselho ficou definido, segundo Mourão, que o Brasil terá um “plano estratégico para a Amazônia”. A partir da semana que vem, haverá reuniões entre os ministérios para definição de metas que serão colocadas em um “contrato de objetivo”, para que cada pasta seja cobrada sobre os resultados.

Mourão coordenará a partir de hoje uma viagem à região amazônica com embaixadores europeus e sul-americanos. O chanceler Ernesto Araújo não viajará, como estava previsto. Ficará em Brasília, a pedido de Bolsonaro, para acompanhar a apuração e os desdobramentos da eleição nos EUA.

Araújo será representado pelo secretário-geral do Itamaraty, Otávio Brandelli. A visita à Amazônia faz parte de uma tentativa do governo de melhorar a imagem da política ambiental de Bolsonaro, alvo de críticas no exterior e que se tornou uma ameaça aos interesses comerciais do país.

Além de Mourão, estão confirmados na comitiva os ministros da Agricultura, Tereza Cristina, Meio Ambiente, Ricardo Salles, e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno.

Alinhado a Trump, Bolsonaro está apreensivo com a eleição americana, ante as perspectivas de vitória de Biden.