O Estado de São Paulo, n.46300, 23/07/2020. Economia, p.B8

 

Bancos lançam plano para Amazônia

Fernanda Guimarães

Tânia Monteira

23/07/2020

 

 

Projeto encabeçado por Bradesco, Itaú e Santander prevê ações como a viabilização de investimentos em infraestrutura básica na região

Floresta. Bancos estavam entre signatários de carta pedindo políticas de combate ao desmate

Em meio à cobrança global para que o Brasil aumente seu comprometimento em relação aos temas ligados à mudança climática, os três maiores bancos privados do País – Bradesco, Itaú Unibanco e Santander – lançaram ontem um plano conjunto para promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia. A proposta inclui dez medidas, como estímulo às cadeias sustentáveis na região e viabilização de investimentos em infraestrutura básica para o desenvolvimento social e ambiental. O cronograma prevê a implementação desses itens ainda neste ano.

Os três bancos estavam entre os signatários de carta enviada ao vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que pediu, no início do mês, políticas de combate ao desmatamento na Amazônia. Mourão é o presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal. O documento fez defesa da agenda do desenvolvimento sustentável e solicitou o combate "inflexível e abrangente" ao desmatamento ilegal na Amazônia. Agora, depois da cobrança e com o plano anunciado ontem, os bancos têm a intenção de entregar uma forma de ajuda efetiva em relação ao assunto, segundo fonte.

As ações propostas pelos bancos foram apresentadas ontem ao governo, em encontro que reuniu, pelo lado do governo, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina; o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles; e o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, além do próprio Mourão. Participaram da reunião pelo lado dos bancos os presidentes do Santander, Sergio Rial, e do Bradesco, Octavio de Lazari, e a vice-presidente do Itaú, Claudia Politanski.

Após o encontro, Mourão afirmou que o governo está comprometido com a redução de ilegalidades e com o avanço da regularização fundiária. "Fizemos chegar a eles que seria importante pensarem em formas de financiamento para projetos em bioeconomia, com juros melhores". Mourão disse que já pediu aos governadores da Amazônia que deixem projetos prontos para serem executados quando os recursos forem desembolsados.

O vice-presidente falou que não recebeu queixas dos executivos sobre risco de perda de investimentos. "Agora, o que é claro hoje é que, com a agenda ambiental, todas as empresas têm uma preocupação de onde estão colocando seus recursos. E o que a gente vê é que a Amazônia pode ser uma solução para empresas que têm atividades poluentes. Elas podem fazer investimentos para a preservação da floresta e, assim, compensar a poluição que causam em outras áreas", afirmou.

O vice-presidente informou que participa hoje de encontro com executivos do Santander em São Paulo.

Conselho. Para dar prosseguimento ao planejamento, os bancos vão formar um conselho de especialistas com diferentes experiências e conhecimentos sobre as questões sociais e ambientais envolvendo a Amazônia. "Esse projeto une Bradesco, Itaú e Santander pelo propósito de contribuir para um mundo melhor. A ideia é que todos precisam assumir sua parcela de compromisso com as futuras gerações. Por isso, lançamos uma agenda objetiva, que pretende defender e valorizar a Amazônia, suas riquezas naturais, florestas, rios e cultura diversificada. Queremos dar passos concretos para tornar discurso em realidade. A Amazônia não é um problema. O ato de proteger a Amazônia guarda boa parte das respostas corretas para um mundo que tem dúvidas e incertezas", afirmou, em nota, o presidente do Bradesco.

O presidente do Itaú Unibanco, Cândido Bracher – que há cerca de duas semanas participou de reunião, ao lado de um grupo de empresários, para tratar do tema com Mourão – disse, também em nota, que os bancos têm a responsabilidade "como agentes importantes do sistema financeiro" e que compartilham "as mesmas preocupações a respeito do desenvolvimento socioeconômico da Amazônia e da conservação ambiental". "Acreditamos que os três bancos têm forças complementares e, atuando de forma integrada, vemos grande potencial de geração de impacto positivo na região", destacou Bracher.

Já Rial, do Santander, afirmou que o desafio em relação ao tema "impõe uma atuação firme e veloz a todos os atores que puderem participar da construção de um modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia". "Com a união de esforços da nossa indústria, conseguiremos fazer ainda mais por essa região, que tem um valor inestimável não só para o País, mas para todo o planeta", acrescentou.

Propostas. Além do estímulo às cadeias sustentáveis na região por meio de linhas de financiamento diferenciadas e ferramentas financeiras e não financeiras e viabilização de investimentos em infraestrutura básica para o desenvolvimento social e ambiental, o plano dos três bancos inclui o fomento de um mercado de ativos e instrumentos financeiros de lastro verde, a tração de investimentos e promoção de parcerias para o desenvolvimento de tecnologias que impulsionem a bioeconomia e apoio para lideranças locais que trabalhem em projetos de desenvolvimento socioeconômico na região.

Deverão ainda integrar o plano incentivos para redução do desmatamento para cadeias produtivas mais polêmicas, como a de frigoríficos, e apoio ao sistema de monitoramento e regularização de propriedades rurais.

PLANO CONJUNTO

"A ideia é que todos possam assumir sua parcela de compromisso com as futuras gerações. Por isso, lançamos uma agenda objetiva."

Octavio de Lazari Junior

PRESIDENTE DO BRADESCO

"Acreditamos que os três bancos têm forças complementares e, atuando de forma integrada, vemos grande potencial de impacto positivo na região."

Cândido Bracher

PRESIDENTE DO ITAÚ UNIBANCO

"Com a união de esforços, conseguiremos fazer ainda mais por essa região, que tem um valor inestimável não só para o País, mas para todo o planeta."

Sergio Rial

PRESIDENTE DO SANTANDER