O Estado de São Paulo, n.46298, 21/07/2020. Metrópole, p.A22

 

Vacina de Oxford para covid-19 é segura e induz resposta imune, dizem cientistas

João Ker

Marina Aragão

Priscila Mengue

Roberta Jansen

21/07/2020

 

 

Imunizante não provocou efeitos colaterais graves e desenvolveu respostas imunes a anticorpos e células T; vacina está em fase final de testes no Brasil. Hoje a Coronavac, desenvolvida na China, também começará a ser testada no Hospital das Clínicas de São Paulo

Em preparação. As doses da vacina da Sinovac Biotech chegam a Cumbica; hoje, segundo a OMS, existem 163 candidatas a imunizante contra a covid-19

A vacina experimental para a covid-19 da Astrazeneca, desenvolvida na Universidade de Oxford, é segura e produziu resposta imune em ensaios clínicos iniciais em voluntários saudáveis, informaram cientistas da instituição nesta segunda-feira, 20. Ainda na manhã de ontem, também foi anunciado que uma vacina chinesa contra o coronavírus mostrou resultados "seguros" e "resposta imunológica" nos cerca de 500 voluntários testados.

O imunizante testado por Oxford, chamado AZD1222, não provocou efeitos colaterais graves e desenvolveu respostas imunes a anticorpos e células T, de acordo com o estudo publicado na revista médica The Lancet. Os resultados referem-se às fases 1 e 2 de testes. A terceira etapa está sendo testada em 50 mil pessoas, incluindo 5 mil brasileiros. "Esperamos que isso signifique que o sistema imunológico se lembre do vírus, para que nossa vacina proteja as pessoas por um período prolongado", disse o principal autor do estudo, Andrew Pollard, da Universidade de Oxford. "No entanto, precisamos de mais pesquisas antes de confirmarmos que a vacina protege efetivamente contra a infecção por SARS-COV-2", explicou. A fase 3 tem por objetivo testar se o imunizante de fato protege contra a infecção e envolve uma amostra populacional mais ampla e mais diversa, que engloba também idosos e pessoas com condições de saúde pré existentes.

OMS. Segundo informou também a Organização Mundial de Saúde (OMS), a vacina apresenta bons resultados, mas ainda tem um longo caminho a percorrer. O diretor de emergências da instituição, Michael Ryan, afirmou que "agora precisamos avançar para testes em larga escala no mundo real". "Mas é bom ver mais produtos avançando até essa fase importante na descoberta da vacina."

Atualmente, segundo a OMS, existem 163 candidatas a vacina contra a Covid-19 em desenvolvimento no mundo. Três são consideradas as mais avançadas, a Coronavac, a AZD1222 e um terceiro imunizante criado pelo governo da China, que também já apresentou resultados positivos nas fases 1 e 2.

A vacina de Oxford pode ter registro aprovado em junho de 2021 A informação foi dada neste mês por Soraya Smaili, reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que coordena os testes no País.

Normalmente, um imunizante levaria 18 meses para ser aprovado. Mas os cientistas estão confiantes de que conseguirão encurtar este período para 12 meses se os resultados forem positivos. Por isso, segundo a reitora da Unifesp, tendo os primeiros resultados no fim deste ano, o registro já poderia ser obtido até meados do ano que vem.

São Paulo. A vacina experimental Coronavac, desenvolvida na China, começará a ser testada nesta terça-feira, no Hospital das Clínicas de São Paulo e, dentro de uma semana, em outros 11 centros de referência do País. O imunizante foi criado pelo laboratório privado chinês Sinovac Biotech.

"A estimativa é de concluir todo o estudo da fase 3 de testes em até 90 dias", anunciou o governador João Doria (PSDB) no Palácio dos Bandeirantes. "Se tivermos sucesso, a vacina será produzida no Instituto Butantã, já no início do ano, com mais de 120 milhões de doses."

Dessa forma, o Brasil estará participando simultaneamente dos testes de duas das três mais avançadas vacinas contra a Covid-19 em desenvolvimento no mundo – a de Oxford e a chinesa. O Brasil já tem um acordo de transferência de tecnologia e produção da vacina de Oxford, neste caso, com a Fiocruz. A expectativa também é de que a produção das vacinas comece já no início do ano que vem, se os resultados da fase 3 forem todos positivos. "É muito importante estarmos testando essas vacinas no Brasil, onde a população é diferente e pode apresentar respostas diferentes", avaliou a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIN), Mayra Moura. "Mas, mais importante, é já termos firmado esses acordos de transferência de tecnologia e de produção dos imunizantes."

 PARA ENTENDER

As diferentes opções

A vacina chinesa é feita de forma mais tradicional, a partir do vírus atenuado. Já a candidata de Oxford traz uma tecnologia inédita: ela usa um adenovírus para levar para o organismo humano um fragmento do DNA do coronavírus. Em coletiva de imprensa, o diretor do Butantã, Dimas Covas, explicou a diferença.

"A tecnologia da vacina que estamos desenvolvendo é tradicional, ela já foi usada para a produção de outras vacinas aqui, no Butantã. Isso mostra que as vacinas produzidas para outras doenças infecciosas têm já um perfil de segurança já testado, aprovado e em uso", comparou.

"A vacina de Oxford é uma tecnologia nova e que poderá ser uma evolução nas tecnologias de produção de vacina, mas ela precisará ter o seu processo produtivo validado por esses estudos. É importante entender que existem muitas vacinas com tecnologias diferentes, e isso tem um impacto nos estudos clínicos e na aprovação dessas vacinas. O Brasil é o lugar ideal porque a epidemia está crescendo, mas não só por isso. O Brasil tem grande experiências em vacinas. Não só a fase da epidemia, mas a experiência que nós temos", disse Covas.