O Estado de São Paulo, n.46294, 17/07/2020. Metrópole, p.A24

 

Pastor assume o MEC e defende Estado laico

Julia Lindner

17/07/2020

 

 

Milton Ribeiro se compromete a estabelecer o diálogo, ouvindo acadêmicos e educadores

Foco. Ribeiro afirma que dará ênfase à educação infantil, ao ensino profissional e a buscar resgate do respeito pelo professor

Ao tomar posse na tarde de ontem, o novo ministro da Educação, Milton Ribeiro, fez gestos pelo diálogo com acadêmicos, em favor do ensino público e pelo Estado laico. Ribeiro é advogado, teólogo e um estudioso da religião. Entre as características que o fizeram ser o escolhido para a pasta está o "apreço à família e aos valores", disseram conhecidos e integrantes do governo. O cargo estava vago havia quase um mês, desde a saída de Abraham Weintraub, demitido após sucessivas polêmicas.

"Tenho a formação religiosa. Meu compromisso, que assumo hoje, ao tomar posse, está bem firmado e bem localizado em valores constitucionais, da laicidade do estado e do ensino público. Assim, Deus me ajude", declarou Ribeiro ao assumir formalmente o cargo.

O novo ministro citou como focos de sua gestão a educação infantil e o ensino profissionalizante. A cerimônia, que ocorreu no Palácio do Planalto, foi acompanhada pelo presidente Jair Bolsonaro por videoconferência.

Ribeiro contou que, ao ser convidado para a função, Bolsona rodes tacou que queria priorizara educação infantil e o ensino profissionalizante no M EC. "Hoje, publicamente, assumo o compromisso de que seguiremos essa orientação", afirmou. Ele também disse ter a intenção de "abrir um grande diálogo para ouvir os acadêmicos e educadores". E citou que, assim como ele, os professores estão"entristecidos co moque vem acontecendo coma educação em nosso País"."Haj avista nossosr eferenciais ecolocações no ranking do Pisa", disse, citando a avaliação mundial de educação em que o Brasil está entre os 20 piores colocados.

Ribeiro também disse que nunca defendeu violência física na educação escolar. "Nunca defenderei tal prática, que faz parte de um passado que não queremos de volta." Em vídeo de 2018, durante uma palestra, o novo ministro defendeu que crianças sejam educadas "com dor".

Ontem, ele afirmou que "a implementação de políticas e filosofias educacionais equivocadas" desconstruíram a autoridade do professor em sala de aula e, por isso, "existem atualmente por muitas vezes episódios de violência física de alguns maus alunos contra o professor". "As mesmas vozes críticas de nossa sociedade devem se posicionar contra tais episódios com a mesma intensidade (...) Precisamos resgatar o respeito pelo professor."

Diálogo. Ao discursar no evento, por videoconferência, Bolsonaro afirmou que a presença de um gestor "voltado para o diálogo" trará entendimento ao setor. Desde o início do governo, a pasta é alvo de disputas e foco de divergências entre técnicos, grupos ligados ao guru bolsonarista Olavo de Carvalho e militares.

"Com a chegada de um ministro voltado para o diálogo, usando a sua experiência e querendo o melhor para as crianças, esse entendimento se fará presente", disse o presidente.

A indicação de Ribeiro para o MEC é atribuída ao ministro-chefe da Secretaria-geral, Jorge Oliveira, e ao ministro da Justiça, André Mendonça, também presbiteriano. Apesar de ligado à igreja, a bancada evangélica do Congresso apoiava outro nome para o cargo.

Bolsonaro enfatizou diversas vezes que Ribeiro terá um grande desafio pela frente, além de dizer que o MEC é "grande, complexo, com autonomias e setores, dependendo muitas vezes de conselhos para tomar decisões". O presidente também falou sobre a importância da Educação, que passa pela terceira vez em menos de dois anos por uma troca de comando, para a sua gestão.

"Não é fácil a vida do ministro (da Educação). E dele, em grande parte, depende o futuro da nossa nação. Já disse ao (ministro) Paulo Guedes que o que liberta um País, o que liberta um homem, não são programas sociais, são conhecimento (sic). E esse conhecimento vem em grande parte do Ministério da Educação", declarou o presidente.

Em seguida, Bolsonaro lembrou a saída de Weintraub e disse não ter dúvidas que a transição será tranquila, mas que Ribeiro deve mudar parte da equipe. "Você (Ribeiro) terá como, pontualmente, colocar gente ao teu lado com o mesmo espírito seu. Se bem que pode ter certeza que grande parte do ministério pensa como você. E eles agora, na tua pessoa, terão como fazer valer o seu potencial, para que venhamos então a dar o melhor do seu ministério para o Brasil, fato esse que nos libertará."

Antes de Ribeiro, o professor Carlos Alberto Decotelli chegou a ser nomeado na pasta, mas nem sequer tomou posse. Ele pediu demissão cinco dias depois do anúncio após a descoberta de inconsistências em seu currículo, que incluíam um doutorado não concluído na Argentina e um pós-doutorado não confirmado na Alemanha.

Promessa

“Meu compromisso está bem firmado e bem localizado em valores constitucionais.”

Milton Ribeiro

MINISTRO DA EDUCAÇÃO