O Estado de São Paulo, n.46292, 15/07/2020. Metrópole, p.A22

 

'Não atentei ao momento', diz Pontes sobre exoneração

Giovana Girardi

15/07/2020

 

 

Pontes procurou minimizar críticas sobre gestão e disse não ter dúvidas sobre dados fornecidos pelo Inpe

O ministro de Ciência e Tecnologia, o astronauta Marcos Pontes, tentou ontem minimizar as críticas sobre a exoneração de Lubia Vinhas do cargo de coordenadora da Observação da Terra (OBT) do Inpe, negando qualquer relação com o momento de alta do desmatamento da Amazônia. O anúncio, divulgado na segunda-feira no Diário Oficial, ocorreu apenas três dias depois que foram divulgados os alertas de desmatamento referentes ao mês de junho (o maior para o mês dos últimos cinco anos), confirmando uma tendência de alta da devastação que já ocorre há mais de um ano. Pontes alegou que lhe faltou atenção ao momento.

"Essa transferência da Lubia para o BIG (projeto de implementação de uma Base de Informações Georreferenciadas), esse setor novo de grande importância, aconteceu em um momento que chamou a atenção de todo mundo (...), menos eu que não tinha prestado atenção no que tinha acontecido, vamos dizer assim", disse com um sorriso constrangido.

"Aconteceu num momento que tinha todos esses alertas, tal, tal. O pessoal achou que tinha a ver uma coisa com a outra. Não tem. Só para reforçar, ela não foi demitida, o time do Deter, Prodes continua o mesmo", disse. O ministro afirmou ainda que não "tem dúvida sobre esses números serem corretos e sobre a ( necessidade) de transparência" das informações. A exoneração ecoou na segunda a crise que o governo protagonizou com o Inpe no ano passado, exatamente quando os dados do Deter começaram a indicar que o desmatamento da Amazônia estava subindo.

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disseram que os dados eram mentirosos. As acusações levaram a uma reação do então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, que acabou sendo exonerado em 20 de julho.

Ontem, Pontes se esforçou para dizer que as duas exonerações não estão relacionadas com os dados. Disse que Galvão saiu por "discussões com o presidente" – o físico acusou Bolsonaro de ser "pusilânime e covarde" depois que este disse que os dados do Inpe eram mentirosos e insinuar que Galvão estaria "a serviço de alguma ONG".

Já sobre Lubia, afirmou: "Ela não foi demitida, continua no Inpe. É servidora, ótima profissional, assume um projeto estratégico de altíssima importância para o País", afirmou Pontes. Lubia, que era coordenadora da OBT, reportando-se diretamente ao diretor, agora assume a chefia de um novo projeto que estará subordinado a uma nova coordenação.

Com a nova estrutura, a OBT, juntamente com outros dois departamentos – o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) e o Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) – passa a ser subordinados à Coordenação-geral de Ciências da Terra, que responderá por todo o trabalho da área ambiental do Inpe.

PARA LEMBRAR

Desmate sobe há 14 meses

O desmatamento da Amazônia está em ritmo de alta há 14 meses, o que tem levado investidores estrangeiros e brasileiros a pressionarem o governo. Na sexta, a divulgação de dados de alertas feitos pelo sistema Deter, do Inpe, mostrou a perda de 1.034,4 km2 no mês de junho, alta de 10,65% em relação a junho do ano passado. É o mês de junho com maior devastação dos últimos cinco anos. Considerando o acumulado desde agosto (quando se inicia o calendário anual para fins de detecção do que ocorre na floresta), o Deter indica a devastação de 7.566 km2, ante 4.589 km2 no período de agosto de 2018 a junho de 2019. O aumento para esse período é de 65%.