O Estado de São Paulo, n.46292, 15/07/2020. Metrópole, p.A22

 

Para conter críticas, governo anuncia novo controle de desmate da Amazônia

Giovana Girardi

15/07/2020

 

 

Ambiente. Anúncio de sistema de monitoramento mais intenso para o Inpe e novo satélite para o próximo ano ocorre um dia após exoneração de coordenadora. Ministro Pontes disse que governo não vai mexer na área: 'Em time que está ganhando a gente não mexe”

Em risco. Na sexta, a divulgação de dados de alertas do sistema Deter mostrou a perda de 1.034,4 quilômetros quadrados no mês de junho, alta de 10,65% em relação a junho de 2019

Para minimizar as críticas sobre a gestão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o controle do desmatamento, o governo federal anunciou um sistema mais preciso para ajudar a conter a devastação nas áreas mais críticas, o chamado Deter Intenso, e um novo satélite para o ano que vem, o Amazônia-1, com o mesmo objetivo. O anúncio ocorre um dia após exoneração da coordenadora da área que monitora o desmatamento no Inpe, Lubia Vinhas. O ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, disse que o governo não vai mexer no grupo de controle. "Em time que está ganhando a gente não mexe."

Na sexta, foram divulgados os dados de alertas de desmatamento de junho, os mais altos dos últimos cinco anos. O desmatamento da Amazônia e a pressão que o governo vem sofrendo de investidores estrangeiros e locais estão com destaque no noticiário desde o fim de junho. Uma das justificativas do vice-presidente Hamilton Mourão, que coordena os esforços do chamado Conselho da Amazônia, foi alegar que "os nossos mecanismos de monitoramento são péssimos". Pontes não se manifestou sobre isso.

Pontes, acompanhado de Darcton Damião, que está interinamente no cargo de diretor do Inpe desde a saída de Ricardo Galvão em julho passado, se esforçou para dizer que o trabalho vem sendo aprimorado. E disse que gostaria que o anúncio de ontem fosse interpretado como uma mostra do quanto o Inpe tem feito para melhorar a qualidade de dados do desmatamento. "E vai melhorar ainda mais. É um fato positivo para mostrar para as pessoas."

Áreas críticas. Pontes apresentou um projeto que está em vigor desde fevereiro, o Deter Intenso, mas que ainda não tinha sido divulgado. De acordo com Damião, trata-se de aprimoramento do Deter, sistema que já fornece alertas rápidos de desmatamento para orientar a fiscalização em campo. Até meados deste ano, o satélite principal com o qual o Inpe trabalha, o Cbers-4, revisitava uma área em média a cada cinco dias .

Com a entrada em operação em julho de um novo satélite, o Cbers-4a, agora dois satélites circulam o planeta de olho na Amazônia, fornecendo novas imagens de uma mesma área a cada três dias, o que permite um monitoramento ainda mais contínuo da vegetação.

Mas havia uma demanda do Ibama, principal órgão de fiscalização do governo federal, que os dados, além de mais frequentes, fossem também mais precisos. A ideia, diz Damião, foi reduzir as regiões onde o satélite voltaria a olhar. Apesar de o monitoramento ter como objetivo compreender toda a Amazônia, há áreas com pouca atividade e outras com desmatamento intenso. "Como aumentar a frequência de monitoramento para toda a Amazônia seria impossível, pegamos as áreas de alta taxa de desmatamento. Delimitamos quatro áreas de máximo interesse com o Ibama e colocamos mais imagens", diz.

O Deter Intenso traz imagens do Cbers-4a com um nível de resolução de até 2 metros e combina essas informações com dados de radar, capazes de "ver" através das nuvens, uma limitação dos dados ópticos dos satélites. Segundo ele, é possível revisitar os "hotspots" de desmatamento uma vez por dia, liberando relatórios diários das áreas mais críticas. Isso aumenta a possibilidade de pegar um desmatamento em flagrante.

Pontes reafirmou que a retirada de Lubia Vinhas da coordenação da Observação da Terra (OBT) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) é uma mudança que estava prevista no processo de reestruturação que começou a ser elaborado no ano passado. Segundo ele, o objetivo é "melhorar a gestão de recursos, de pessoal e a eficiência em termos de execução de projetos", mas disse que não haverá mudanças no funcionamento dos projetos que monitoram a Amazônia, como o Deter e o Prodes.

Sem mudanças. "Durante essa reestruturação, continua a mesma equipe. Em time que está ganhando a gente não mexe", afirmou em uma tentativa de apaziguar as críticas feitas anteontem de que a exoneração de Lubia seria uma forma de tentar tolher a divulgação dos dados negativos que saíram nos últimos dias.

Estratégia

"Como aumentar a frequência de monitoramento para toda a Amazônia seria impossível, pegamos as áreas de alta taxa de desmatamento. Delimitamos quatro áreas de máximo interesse com o Ibama e colocamos mais imagens."

Darcton Damião

DIRETOR INTERINO DO INPE