O globo, n. 31829, 28/09/2020. Economia, p. 19

 

Batalha pelo Pix

Gebriel Martins

Ivan Martínez Vargas

28/09/2020

 

 

Pagamento instantâneo do BC acirra disputa entre bancos e fintechs

Benefícios aos clientes, diversificação de serviços, e investimento em novas plataformas e parcerias estratégicas. A chegada do Pix,dentro de pouco mais de um mês, já acirrou a concorrência entre grandes bancos e fintechs, que vêm buscando diferenciais para manter e ampliar a carteira de correntistas. 

Criado pelo Banco Central (BC), o efeito mais evidente do novo serviço — que permitirá fazer pagamentos e receber transferências 24 horas por dia, de maneira instantânea e sem custo para a pessoa física que faz a operação — será a redução do uso dos atuais DOCs e TEDs, explicam especialistas. 

Como os bancos tradicionais hoje cobram por transferências, eles já planejam contrabalançara futura perda de receita reforçando a participação em outras áreas, como as de crédito e financiamento. Os bancos digitais, por outro lado, valem-se da proximidade com o cliente e de parcerias para entrar nesta nova fase do sistema financeiro.  

Claudio Gallina, da agência de classificação de risco Fitch, diz que a perda de receita dos bancos deve ser de até 2%, mas que as instituições mais eficientes poderão aumentar a rentabilidade com ganhos de eficiência e menor gasto com estruturas físicas.

O Itaú calcula que o impacto em suas receitas coma adoção do Pix e a consequente redução das modalidades tradicionais de transferência seja de 1%. Mas Ivo Mosca, superintendente de pagamentos instantâneos do banco, vê um potencial de ganho enorme com o Pix, devido à facilidade do sistema eàreduçã odos custos: 

—Com a pandemia, muitos clientes já partiram para o mundo digital, com abertura de contas virtuais. Como Pix,a fatia de mercado (bancarizada) deve crescer, estamos falando de incluir dezenas de milhões de pessoas.

Para Breno Lobo, chefe de subunidade do Departamento de Competição e Estrutura do Mercado Financeiro do BC, a estimativa é que essas formas tradicionais de transferências desapareçam em até dez anos. 

O Santander tem investido em publicidade para que seus clientes façam o pré-cadastro para usar o Pix, mas que também visa a conquistar correntistas de outras instituições. No Pix, é possível pode usar o CPF, o e-mail ou o número de celular como chave para o recebimento de uma transferência, mas cada chave só pode estar relacionada a uma conta.

O Santander contratou a atriz Ana Paula Arósio para divulgar sua plataforma e ofereceu a quem fizesse o cadastro dez dias sem juros no cheque especial. Segundo Marcelo Labuto, diretor-executivo do segmentovol ta doà pessoa física, ai deiaéconven cerquem se cadastrou aficar no banco e ganhar mercado: 

—Haverá um impacto negativo na receita quando o cliente deixar de utilizar DOCs e TEDs tarifados, mas acreditamos que, com a vinda de novos clientes, ganharemos de outras formas.

PARCERIAS E AQUISIÇÕES

Para Cristina Junqueira, co fundadora do Nubank,af in techlarg anafrente por já oferecer no ambiente digital opções de transações sem custo. Mesmo assim, a empresa tem buscado crescimento e diversificação com aquisições como a da corretora Easynvest.

— Os grandes bancos ganham milhões com produtos (como TEDs), o que já não ocorre com agente. Nocas o do Pix, nossos clientes não vão ter custo para fazer nem para recebera transferência, assim como as pessoas jurídicas —adianta Cristina.

Pelas diretrizes do BC, as pessoas físicas não pagarão tarifa para fazer transferências ou pagamentos com PIX, mas poderão ser cobrados no recebimento, a depender da frequência e do tipo de pagamento. Pessoas jurídicas também poderão ser tarifadas.

OC6Bankfirm ou parceria coma Tim, já que umadas maneiras deu saro Pixé fornecendo o número de celular.

— Há um ano operamos o C6 Kick, serviço de transferências por meio de mensagem, similar ao Pix, usando só o número de celular. Isso vai nos ajudar agora na implementação do Pix — conta Maxnaun Gutierrez, sócio responsável por produtos e pessoa física do C6. 

No banco Inter, eles já trabalham com uma plataforma similar ao Pix, permitindo que clientes façam pagamentos e cobranças entre si escanceando um QRCode, o Interpag.

—Com a chegada do Pix,vamos conseguir simplificar e reduzir custos nas transações do dia adia. E poderemos investir em mais ferramentas de usabilidade — explica Eduardo Cotta, superintendente de conta digital do Inter.

  O Banco do Brasil (BB) também está se preparando para as eventuais perdas de receitas com DOCs e TEDs:

— Nosso diferencial é que temos uma prateleira de produtos variados, como seguridade, cartão, investimento, crédito, financiamento. O trabalho será foca doem ampliar essa oferta — destaca Edson Costa, diretor dos meios de pagamento do BB.

Henrique Gallotti, gerente sênior de serviços financeiros da EY, avalia que os grandes bancos podem ser afetados, em relação a receita, também na parte de cartões:

Henrique Gallotti, gerente sênior de serviços financeiros da EY, avalia que os grandes bancos podem ser afetados, em relação a receita, também na parte de cartões:

—Haverá grande impacto na arrecadação pela queda no uso de cartões, especialmente de débito.