Valor econômico, v. 21, n. 5110, 20/10/2020. Brasil, p. A6

 

Em evento, Bolsonaro elogia negócios com países árabes

Lu Aiko Otta

Matheus Schuch

20/10/2020

 

 

O presidente diz estar convicto de que a relação entre o Brasil e o mundo árabe se encontra em seu melhor momento histórico

Dois anos depois de colocar em risco o comércio com os países árabes por causa de seu projeto de mudar a embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, o presidente Jair Bolsonaro demonstrou ontem que a polêmica ficou no passado. Em discurso na abertura do “Fórum Econômico Brasil & Países Árabes”, elogiou a parceria comercial com países árabes e afirmou que eles podem contar com o Brasil para garantir sua segurança alimentar.

“Estou convicto de que a relação entre o Brasil e o mundo árabe se encontra, hoje, em seu melhor momento histórico”, afirmou, tendo ao lado os ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da Economia, Paulo Guedes. “A aproximação no campo político tem nos permitido encontrar novos espaços de cooperação em setores estratégicos, como ciência, tecnologia, inovação e energia.”

Bolsonaro disse que a viagem que fez à região no ano passado é “evidência inequívoca” do interesse no fortalecimento das relações com o Oriente Médio.

“Recordo com enorme satisfação a confiança demonstrada pela Arábia Saudita com a intenção de investir até US$ 10 bilhões por meio do fundo de investimento público daquele país”, citou o presidente.

Na área de comércio e investimentos, os encontros virtuais entre o Brasil e os países árabes aumentaram durante a pandemia, segundo Bolsonaro.

“Apesar da distância entre nossas regiões, o intercâmbio entre Brasil e países árabes superou a cifra de US$ 11 bilhões no ano passado”, destacou. “Tenho certeza de que vamos multiplicar estes números.”

O presidente afirmou ainda que o Brasil está tomando medidas que permitirão a retomada do crescimento econômico sustentável no pós-pandemia, embora a maioria das reformas enviadas ao Congresso não tenha avançado.

“As reformas estruturais que estamos fazendo no Brasil garantem um cenário de negócios atrativo e seguro, um cenário sem precedentes aos investidores estrangeiros”, afirmou ele.

Bolsonaro destacou o que considera “expressivos números” de exportação para países árabes, com destaque para o setor do agronegócio, e garantiu que poderão contar com o Brasil como parceiro estratégico para garantia da segurança alimentar.

“Mostra que estamos em outro momento do relacionamento”, afirmou o presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), Rubens Hannun. Foi um evento importante não só pelo peso da participação brasileira, mas também da dos países árabes, comentou. A polêmica da transferência da embaixada parece ter ficado para trás, disse.

Os sinais na melhora da relação estão não só nas referências aos negócios, mas também pelo fato de ele haver ressaltado os laços históricos e culturais do Brasil com os países árabes.

De acordo com informações da CCAB, as exportações do Brasil para os países árabes atingiram US$ 8,3 bilhões de janeiro a setembro deste ano, ante US$ 9,4 bilhões em igual período de 2019. Segundo Hannun, as vendas foram prejudicadas por problemas de logística, como contêineres retidos na China. No entanto, as operações já estão sendo retomadas.

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País quer abrir nova fronteira de investimento, diz Guedes

Lu Aiko Otta

20/10/2020

 

 

Ideia é atrair recursos americanos para os programas de privatização e concessão

O grande desafio do momento é transformar a atual onda de consumo que anima a atividade econômica em uma grande onda de investimentos, disse ontem o ministro da Economia, Paulo Guedes, no evento 2020 US - Brazil Connect Summit, da Câmara de Comércio Brasil-EUA. Mais do que nunca, disse ele, o Brasil quer abrir “uma nova fronteira para investimentos”. O país quer atrair recursos americanos para os programas de privatização e concessão.

“Vamos voltar com a agenda de reformas”, prometeu, ao falar sobre o plano da retomada de crescimento. O segundo elemento dessa estratégia e um novo ambiente regulatório para impulsionar investimentos em infraestrutura.

O ministro comentou a recente aprovação da nova legislação do saneamento básico pelo Congresso, que abre o caminho para privatizar empresas do setor e para conceder os serviços à iniciativa privada. Também estão em análise no Legislativo outras alterações regulatórias, como a do gás natural e do setor elétrico.

Na frente de reformas, ele ressaltou a aprovação da previdenciária, informou que já foi enviada ao Congresso a proposta da reforma administrativa e que está em fase final de preparação uma proposta de reforma tributária.

Ao pedir investimentos para o Brasil, Guedes mencionou a questão ambiental. “Nos ajudem, em vez de só criticar.”

Ele afirmou que há “exagero” nas informações sobre matança de índios e queimadas na floresta. O problema na Amazônia, disse ele, não é de agora, mas se arrasta há anos e o Brasil não tem conseguido resguardá-la, admitiu. Ao mesmo tempo, é o país que tem a matriz energética mais limpa do mundo.

Além disso, ressaltou Guedes, o Brasil é uma nação miscigenada e que por isso, na visão dele, não procede que haja aqui ódio a indígenas. Os EUA tiveram, no passado, uma forte queda na população de índios durante a exploração do Oeste do país e do ouro, alfinetou.

Guedes afirmou ainda que não se arrepende de haver gasto 10% do PIB nas medidas de apoio à população mais vulnerável e ao emprego. Mas frisou que não é justificável tornar essas políticas permanentes. O Brasil está desinvestindo, vai acelerar privatizações e cortar gastos para que a conta da pandemia seja quitada por esta geração, disse o ministro.

O corte nos gastos segue a regra do teto que, por vezes, sofre ataque de “fogo amigo”, revelou. Mas o presidente Jair Bolsonaro apoia totalmente a estratégia da equipe econômica de manter o teto, segundo o ministro.