O globo, n. 31817, 16/09/2020. País, p. 4

 

Bolsonarismo em campanha

Gustavo Schmitt

Guilherme Caetano

Bernardo Mello

16/09/2020

 

 

Em SP, presidente avaliza Russomanno; no Rio, aliados trocam Crivella por Luiz Lima

 No último dia para as convenções partidárias de uma pré-campanha marcada pelo anúncio do presidente Jair Bolsonaro de que evitaria atuar nas eleições municipais, a participação dele e de seus aliados — entre parlamentares e apoiadores nas redes — nas disputas nas duas principais capitais do país fica mais clara. Em São Paulo, Celso Russomanno será lançado hoje pelo Republicanos, num acordo político que interessa ao presidente para tentar enfraquecer o governador paulista João Doria (PSDB). No Rio, a família presidencial tem no prefeito e candidato à reeleição Marcelo Crivella, também do Republicanos, um aliado, mas bolsonaristas com mandato enas redes manifestam adesão a Luiz Lima, deputado do PSL.

Bolsonaro se reuniu ontem com o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), que deseja um apoio mais explícito de Bolsonaro a Russomanno já no primeiro turno, possivelmente com uma mensagem de vídeo, o que o presidente, até aqui, tem evitados e comprometera fazer. O ex-apresentador de TV aguarda ainda até o último minuto um acordo com o PSL, cujo diretório paulista registrou ontem a candidatura de Joice Hasselmann.

Embora mantenha postura cautelosa na aproximação pública com candidatos — não interessa a Bolsonaro desagradar partidos aliados no Congresso e menos ainda associar o próprio nome a uma derrota eleitoral —, o presidente pode obter vantagens no fortalecimento de Russomanno em São Paulo. Além de dar impulso a um nome que pode dificultara vitória do PSDB —Russomano chegou a negociar com Covas no início da pré-campanha —, a candidatura doRe publicanos devele varo partido a deixara base aliada de D oriana Assembleia Legislativa de São Paulo, impondo mais dificuldades a um provável adversário de Bolsonaro na corrida pelo Palácio do Planalto em 2022.

Por fim, a aproximação poderia render o apoio presidencial a uma eventual candidatura do presidente do Republicanos, Marcos Pereira, à presidência da Câmara no ano que vem.

 USO DA IMAGEM

No Rio, o candidato do PSL à prefeitura, Luiz Lima, nãoterá o apoio da família presidencial, aliada do prefeito Crivella, que se esforça para associar sua imagem à do presidente e aguarda retribuição. Lima já conta, porém, com manifestações de apoio de integrantes da bancada bolsonarista no Congresso, como os deputados federais Daniel Silveira (PSL-RJ) e Bia Kicis (PSLDF). De fora do partido, outro bolsonarista que fez um aceno a Lima nas redes sociais foi o secretário especial de Cultura, Mário Frias, que endossou uma publicação na qual Silveira afirmava que, com o candidato do PSL, agora existe “uma opção alinhada à base bolsonarista”.

Nas redes sociais, perfis de militância virtual pró-Bolsonaro têm defendido, inclusive com montagens de fotos, que o candidato que representa o presidente é Lima, e não Crivella.

Nome influente do bolsonarismo, a pré-candidata do PSL à prefeitura de Nova Iguaçu, Raquel Stasiaki, citou nas redes a aliança entre o Republicanos, partido de Crivella, com o então candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, em 2018, e afirmou que apoiaria “um bolsonarista de verdade”. Lima agradeceu a mensagem de Raquel, que tem 146 mil seguidores no Twitter.

—É claro que eu sei de compromissos assumidos, principalmente em âmbito nacional, com o Republicanos. Não tenho um problema pessoal com o prefeito Crivella. Mas, como cidadão carioca, não estou satisfeito coma história política da minha cidade, tanto com Eduardo Paes (ex-prefeito e candidato do DEM), quanto com Crivella — afirmou Lima no sábado, durante a convenção do PSL.

—É claro que eu sei de compromissos assumidos, principalmente em âmbito nacional, com o Republicanos. Não tenho um problema pessoal com o prefeito Crivella. Mas, como cidadão carioca, não estou satisfeito coma história política da minha cidade, tanto com Eduardo Paes (ex-prefeito e candidato do DEM), quanto com Crivella — afirmou Lima no sábado, durante a convenção do PSL.

O candidato procura se esquivar da proibição imposta pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) de que adversários de Crivella usem a imagem do presidente para impulsionar suas campanhas. No primeiro vídeo divulgado após ter o nome oficializado, Lima usou imagens de Bolsonaro na campanha de 2018 — a narração cita a “renovação” ocorrida naquele ano e lembra que Lima também se elegeu deputado.

O passado recente do candidato do PSL, no entanto, ainda incomoda parte da militância. No governo de Michel Temer (MDB), ele foi, durante um ano, titular da Secretaria Nacional de Esportes de Alto Rendimento. Aliados do prefeito também vêm estimulando a narrativa de que o deputado se afastou do núcleo duro do bolsonarismo no racha do PSL em 2019. Lima chegou a apoiara criação do partido Aliança pelo Brasil, mas desistiu da empreitada no início do ano, alegando que a falta de homologação da legenda inviabilizaria sua participação nas eleições municipais.

Aliados de Crivella também pretendem explorara participação de Lima em cursos do RenovaBR, movimento de renovação suprapartidário que reúne alguns parlamentares de oposição ao governo Bolsonaro, como Tábata Amaral (PDT-SP) e Marcelo Calero (Cidadania-RJ). Ontem, Lima afirmou que os cursos o deixaram “ainda mais convicto das escolhas políticas” e o ensinaram a “ser tolerante com pessoas que pensam diferente”.

SEM “MOEDA DE TROCA”

Antes de a candidatura de Li maser oficializada, o Republicanos tentou atrair o PS L para a chapa de Crivella. A operação que investiga um esquema de corrupção na Prefeitura do Rio, deflagrada na semana passada, interrompeu a aproximação. Em São Paulo, o partido ligado à igreja Universal tenta o mesmo movimento, e o PSL resiste o quanto pode. Ontem, a deputada Joice Hasselmann apresentou à Justiça Eleitoral o pedido de registro de candidatura. Integrantes da legenda avaliam que seria “desmoralizante” voltar atrás neste momento.

— O PSL já tinha decidido que a Joice seria candidata. Isso nunca foi moeda de troca. Tanto é que fizemos a convenção no primeiro dia. Quem deixou para o último dia (hoje) foi o Celso (Russomanno) — diz Júnior Bozzella, presidente do PSL em São Paulo.